VIII

1.2K 117 25
                                    

As íris escarlates de Wanda ainda encaravam um ponto fixo, sua cor desbotando-se até o verde. Seus lábios tremiam entreabertos, num balbuciar tolo de uma palavra que nem bem sabia qual. Estava chamando James? Ou repetia o nome da Viúva Negra? Por um momento ela pensou que dizia "Yelena", em outro achou que sua boca formara o nome do seu irmão.

Ela viu silhuetas bagunçarem seu campo de visão. Ora bailarinas, ora apenas sombras brincando com a luz.
A decoração dos corredores do palácio não a impressionavam enquanto ela andava, ou melhor, quase corria. Seus passos apressados a levavam para frente, deixando a bela imagem de esculturas e quadros ser nada mais do que um radiante borrão.

Stevie.

Esse era o nome que ela repetia, feito uma pequena prece. Parecia estranho, parecia de repente certo. Seus pés já sabiam de quem Wanda precisava ver antes mesmo do que sua cabeça: Uma aura azul, sempre azul. Mesmo que essa aura não fosse também prata, mesmo que ela não fosse veloz. Dobrou o corredor e subiu as escadarias. Um servente assustou-se com o ritmo acelerado da moça e a cor mortiça de sua pele, em contraste com preto de sua blusa.

Steve. Steve. Steve.

Fizera aquilo de novo. Fora tão sem querer. Mas ela não queria ter visto a mente de James. Não queria ter visto a mente de...

De Lisimba. O cientista que tocara seu ombro ao cumprimentá-la, ao perguntar se estava tudo bem enquanto olhava fixamente para o Soldado Invernal. Não estava, mas ela não conseguiu reagir ao toque. Não fisicamente. Seus poderes, porém, entraram em combustão e a tragaram para dentro da mente do cientista. Ao tocá-lo, Wanda soube seu nome.

Soube que compusera uma família com Paki, também parceiro seu no laboratório de sucesso.
Que tinha que comparecer ao sarau do filho mais velho ás quatro horas da tarde, e o filho caçula faria aniversário na semana seguinte.
Amava sua família. Preocupava-se com o trabalho.

Haviam mais cientistas no cômodo, e eles dirigiam-se à suas bancadas e mesas com naturalidade fingida. Uma mulher a encarou hesitante, para depois folhear alguns papéis sem muito interesse. Um rapaz sussurrou algo em sua língua nativa. Lisimba piscou, confuso. Algo no olhar da garota o fez tirar a mão de seu ombro delicado.
Wanda só perguntou que horas eram. O homem coçou a barba grisalha por um segundo, em seguida ajeitou seu óculos para consultar o pulso. Em vez de um círculo comum de relógio, uma pulseira de contas azuladas brilhou em seu braço, logo projetando o horário em pequenino holograma.

08:11

E foi então que ela saiu pelo mesmo caminho em que viera, numa pressa não bem compreendida por ninguém do laboratório.

Parou.

Eram oito horas. Oito horas da manhã, onze minutos e os segundos escorrendo. Mas não podiam ser oito horas. Ela mal chegara. Passara apenas, o quê? Uns vinte minutos lá? Meia hora, talvez?

Wanda voltou a correr. Eram oito horas. Mas não podia ser.

Entrou no amplo saguão em que os quartos deles ficavam e encarou a porta dos aposentos do Capitão América. Estava entreaberta, o que era deveras oportuno uma vez que não conseguiria entrar sem a leitura de digitais, íris ou qualquer outra prova de que ela era de fato Steve Rogers. Suas mãos empurraram a porta.

— Wanda?

Ela murchou.

— Oh. Sam. Oi. – Soltou um breve suspiro, unindo as mãos em um gesto nervoso. – Você viu o Steve? Eu... Eu preciso... Preciso falar com ele.

A expressão de Sam era incerta, mas divertimento ainda brilhava em seu rosto. Parecia querer sorrir, por mais que não estivesse certo do motivo ou se seria correto ainda assim sorrir. Deu alguns passos em direção à uma pequena mesa redonda, onde pegou uma pasta de arquivos em papel pardo.

VaziosOnde histórias criam vida. Descubra agora