XIII

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O mundo cintilava vermelho.

Não como a organização em que Natasha fora treinada quando criança; Não como a estrela no braço metálico e perdido do Soldado Invernal; Não como o sangue das lutas, o caos que sentia e que batizara sua alcunha.

Não.

Estava vermelho como alguém de azul tanto gostava.

Wanda passou as pontas dos dedos pela saia carmesim e aveludada, na despedida do entardecer de tons quentes emoldurados pela imensa janela. Já era noite. A antessala dos dormitórios de Wanda, Sam e Stevie parecia maior do que realmente era, talvez por encontrar-se vazia, talvez por sua decoração minimalista e geométrica. Os tons neutros dos móveis, na pureza do branco e elegância do preto, bruxuleavam com as nuances acolhedoras de uma vela solitária num candelabro de nove braços na mesa de centro, de frente para a mesma janela que Wanda observara a noite chegar.

Ajeitou-se no estofado lentamente por causa dos hematomas na pele, embora Njeri houvesse recomendado anestésicos e pastas cicatrizantes mais potentes que o remédio mais caro do Ocidente. A dor ainda estava lá, mas ao menos estava passando. Abraçou uma almofada com força.

Fazia tempo que não acendia o Menorah. Parou de fazer sentido antes mesmo de Pietro partir. Foi antes, bem antes, quando um míssil invadiu sua casa durante o Shabbat e o sobrenome "Stark" a assombrou por dois dias inteiros. Por uma vida inteira. Ás vezes, parecia que fazia mais tempo ainda. Wanda franziu a testa devido a memória que não estava lá.
Havia dito uma vez à seu irmão que algo faltava, só não sabia o quê ou quando aquilo partira. Era uma dor fantasma, uma sensação permanente de haviam peças que não se encaixavam e lembranças que não faziam sentido.

Wanda sorriu com a recordação da risada dele.

Em seus olhos azuis, porém, havia aquele sutil vislumbre de preocupação. Ela sabia o porquê. A possibilidade de suas sensações estranhas e memórias fragmentadas serem causadas pela HIDRA era algo real e muito provavelmente a razão absoluta.

Mas o importante é que ele ria. Ria e afirmava, enquanto punha seus braços ao redor de si:

"Estou aqui, então nada falta."

Pietro morrera. Algo realmente faltava agora e tudo estava vermelho.

Embora... Uma nuance diferente de vermelho. Ao menos hoje.

Serena. Acolhedora. Distante do rugido caótico que sentia. Morna, não abrasiva. Como uma vela. Como aquela primeira vela. Pediu aos serventes wakandanos que lhe providenciassem um candelabro com nove braços, o Menorah. Acendeu o shamash, e com ele acendeu a primeira vela do Hanukka enquanto murmurava as três orações.

A data era para ser azul, azul. E a data era dele também.

Pietro amava a neve desta época do ano e ela ainda podia lembrar-se dos dois correndo no quintal, e depois o forte resfriado que os acometia. Ele devorava as comidas fritas com entusiasmo e tinha um brilho lindo nos olhos quando Wanda começou a acender as velas da celebração junto à sua mãe.

Ela não sentia exatamente como a data pedia. Não era uma data para se estar sozinho, mas Wanda era a única no cômodo grande e luxuoso do palácio. Nenhuma mensagem ou sinal de Steve e Sam. Nada de Nat. E a ninguém entregara cartões de Natal que Clint prometera enviar. Não sentia-se leve e pura, triunfante após a escuridão. Era pequena e sozinha, tal qual aquela pequena luz que acendera... Entretanto, amanhã acenderia outra e no dia seguinte também.

Wanda deu um meio sorriso.

Haviam mais pessoas no restante do mundo, que assim como ela, acendiam seus Menoroth e desta forma Wanda podia sentir que ainda pertencia a algo. Mesmo que distante, mesmo que há anos não voltasse seu rosto para este lado de si.

VaziosOnde histórias criam vida. Descubra agora