XI

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O vento queria avisá-la.

Fazia as folhas das árvores farfalharem através de seu sopro, balançava os cabelos de Wanda mais uma vez naquela tarde. O vento queria sussurrar um segredo e ela sabia. Sentiu a perturbação no ar, aquele ligeiro e quase imperceptível desconforto a transpassar seus ossos. Sentira de madrugada, quando acordara de repente e banhada em restos de sonhos, em restos de pesadelos. A mensagem era confusa, entrecortada e ao mesmo tempo muda. Não parecia um dia apropriado para treinar com o arco.

Não parecia um dia certo em geral.

Ela piscava e a flecha em seus dedos já estava voando. Ela piscava mais uma vez e dúzias de possibilidades apareciam aos seus olhos;flechas acertando o centro, a beirada, muito à frente, ou simplesmente não saindo do lugar.

Wanda limpou o pouco de suor que se acumulara na testa. Mexeu os braços para livrá-los momentaneamente da dor da exaustão, estralou o pescoço como se provocasse sua própria capacidade de resistência. Agneta era uma ferramenta rígida e ingrata, mas não podia negar que a fortalecia a cada treino.

Braços fortes. Tinha que mostrar uma mira impecável e deltoides respeitáveis para a próxima vez que encontrasse com Clint.

Inspirou. Era apenas uma sensação, talvez causada pelo próprio ambiente que a circundava, pois a natureza de Wakanda era composta de altos níveis de mutações devido à radiação de Okuqala, no início de sua história. Muitos estímulos, muitas respostas. Ancorou a mira, os dedos que seguravam a flecha próximos a altura de seu nariz. As fibras de seus músculos se estenderam e comprimiram de maneira alternada e perfeita, descrevendo o movimento repetido de puxar a corda do arco.

A flecha zuniu perto de seu rosto e atravessou a arena no mais fatal dos silêncios, acertando exatamente o centro do alvo à quarenta metros, tal qual o Gavião Arqueiro faria.

Wanda expirou, sua respiração então gélida. Seus braços ainda estavam estendidos, a corda tensionada. Mas aquela flecha não era dela.

O vento soprou mais uma vez, de súbito e urgente, direto em seus ouvidos. Sussurrara um nome, uma possibilidade que seus olhos não haviam previsto.

Deka.

A Feiticeira Escarlate reuniu todas as suas forças para domar seus instintos rubros e tempestuosos. Virou seu torso para trás.

— Espero não atrapalhar, senhorita Maximoff. – Wanda achou bem apropriado ouvi-la enquanto estava com a mente em outro mundo. Era ela, tal qual uma pantera, silenciosa até que desejasse ser vista e ouvida. – Embora não precise de ajuda para se atrapalhar sozinha.

O tempo escorreu bem até que ela percebesse que não havia respondido e a mulher estivesse mais próxima.

— Perdão?

Deka suspirou, seus olhos desinteressados no seu arredor. Desinteressada em Wanda. Havia, porém, esboçado uma expressão intrigada para o arco tradicional que a estrangeira tinha em mãos.

— Passei a última meia hora observando você brincar com essa... Ferramenta arcaica.

Algo em Wanda ferveu.

Deka passou a mão nos seus cabelos, pondo as mechas inteiras trançadas para o lado. Estralou o pescoço e alongou seus braços bem delineados em mais um tiro, direto ao lado de seu acerto anterior. Ela então piscou seus olhos de grandes cílios e de grande sarcasmo, calada e letal.

Dizia de maneira muda e pesada, com a luz da tarde refletida em suas íris escuras, o quanto a estrangeira era patética. Duvidava de maneira absoluta de que ela conseguiria fazer o que quer que fosse, principalmente acertar o alvo mesmo que estivesse à dois palmos de distância. Encarou mais uma vez o arco inglês nas mãos de Wanda, com deboche estampado em sua expressão aparentemente vazia.

VaziosOnde histórias criam vida. Descubra agora