LXXXV

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Depois de descer mais um lance de escadas, Anna Marie parou para se apoiar no corrimão e retomar o fôlego. Não sabia se era esforço físico demais ou o movimento intenso das ondas no mar, mas a descida era tortuosa. Já há alguns minutos tivera que se segurar forte por causa de um solavanco brusco, que lhe provocara até mesmo a impressão de que o cargueiro havia simplesmente parado. Como não ouviu nenhum sinal de alerta e não recebeu nenhuma mensagem de Barnes ou LeBeau, ela continuou.

De fato, o navio era imenso e o porão ficava nos últimos andares, um caminho extenso de estruturas metálicas e luzes fluorescentes. Ela encarou um lado, depois o outro. Não se considerava uma incompetente, pois sabia se virar nas ruas e tinha escapado de um laboratório terrível... Mas isso não a deixava exatamente confortável ao prosseguir na missão, um pistola na mão direita e três explosivos na cintura.

O treinamento na mansão Xavier lhe proporcionou avanços em seus poderes, em sua segurança ao trabalhar em equipe em situações de risco. Eles, os X-Men, eram bons com ela. Eram sua gente, mutantes igual Anna Marie, e a aceitavam mesmo que seu passado fosse um tanto conturbado. Apesar de ter parado no Instituto Xavier de jeito aleatório, através de um golpe de sorte feito pela Feiticeira Escarlate, Anna desejava retribuir os favores que tantos estranhos lhe fizeram. Faria isso alertando Magneto sobre a cura, sobre o atentado. Faria isso salvando mutantes inocentes em seu próprio idílio.

Seu poder era sugar outras habilidades com um mero toque, e muitas vezes memórias vinham junto. Em uma ocasião ou outra, a vida inteira de sua vítima. Estava acostumada com a ideia de ser amaldiçoada, de ser a vilã. A chamavam de Vampira. E agora... Agora tinha a chance de fazer algo bom com isso, não apenas fugir. Manteve a sua terrível alcunha, embora pudesse ser parte dos heróis: Ciclope, Tempestade, Wolverine, Gambit e Vampira.

Não havia ninguém ali entre os corredores, ou era o que parecia. Sem escutar nada que denunciasse alguém se aproximando, Anna seguiu em frente. Seja lá qual fosse a tática de Remy para distrair a tripulação, estava dando muito certo. Não esbarrara em ninguém, sendo que passou perto do maquinário - e ela supunha que sempre haveria alguém no maquinário para vigiar o funcionamento do navio.

A temperatura caiu alguns graus, o que causou um arrepio em suas costas e um pouco mais de cautela de sua parte. Sua respiração condensava no ar e o caminho seguinte era escuro, algumas lâmpadas falhavam à distância. Ergueu o punho para checar o mapa do navio.

Era o lugar certo. Deveria avançar mais quinze metros e abrir uma comporta muito bem lacrada, que daria para o porão. Antes que desse mais um passo, porém, a luz do comunicador piscou e logo veio uma voz:

— Barnes para Vampira.

O tom de voz dele era tranquilo, o que era um bom sinal. Anna Marie aproximou o comunicador da boca e sussurrou a resposta:

— Vampira falando.

— Qual a sua posição?

— Alcançando o porão. A sua?

— Painel de controle, no passadiço.

Anna franziu os cenhos, impressionada. Ele já estava lá? A mutante então se corrigiu, lembrando-se que James Barnes era um agente muito bem preparado, o Soldado Invernal.Era sorte imensa da tripulação que ele estivesse usando munição não-letal, pois do contrário... Haveria muito sangue no piso do convés. Ou então ele não encontrara ninguém no caminho. Isso a levou à seguinte pergunta:

— Remy?

— Distraindo a tripulação. Pegou o transceptor de um imediato e se passou pelo capitão. Pode não ser francês, mas fala bem a língua, inclusive com sotaque. Instruiu todos irem a ala comum nos dormitórios, para uma simulação de segurança, e prendeu todos lá. — Ela sorriu ao ouvir tal artimanha. Esperava que ele fizesse uma atração de cartas com explosões envolvidas, na verdade. Era bom saber que ele poderia ser mais discreto. — Vai descer para te ajudar em seguida. Só tome cuidado. Não é uma equipe militar, mas alguns estão armados.

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