LXXXVIII

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Wanda não sabia onde exatamente estava indo quando se teletransportou. Sabia apenas que era urgente, um chamado feito por aquele feitiço tolo que lançou em James Barnes naquela tarde em Bucareste, e ela atenderia tal invocação. Então a Feiticeira surgiu em luz, chamas e cor escarlate no meio de um campo de batalha. Seu ouvidos não captaram o som das máquinas, seus olhos arregalados mal se focaram em detalhes dos escombros e do metal. Ela viu apenas ele, caído e ferido, seu corpo coberto por cinzas.

— James! — Ela gritou, correndo em sua direção. Ajoelhou-se rápido ao seu lado, suas mãos segurando com medo o rosto dele. O coração de Wanda contraiu-se ao notar que o ombro de vibrianium do soldado jazia inerte, danificado por um golpe. Ele piscou de forma mais demorada, talvez beirando a inconsciência, até que Wanda pôde ver um brilho de reconhecimento no azul de seus olhos. — James, fala comigo.

— Wanda, eu... — Ele franziu a testa e soltou um gemido de dor. — Você veio.

Ela soltou um riso curto e triste, alívio inundando seu corpo por ouvi-lo falar.

— Eu te disse, James. Quando ver a cor escarlate e precisar de mim, eu estarei lá. E eu estou aqui, certo? Eu estou aqui.

Em resposta, ele lhe ofereceu um dos seus melhores sorrisos de lado, mesmo que estivesse inteiro avariado. Sangue coloria seus dentes.

— Devo ter soltado um uivo e tanto pra você ter ouvido, boneca.

Wanda o abraçou com delicadeza, depois depositou um beijo em sua testa ferida. Ele disse algo que ela não entendeu e em seguida segurou sua mão. Seu corpo tremia inteiro por vê-lo machucado assim, sua cabeça era alvejada por lembranças de um campo de batalha, uma visão de dois atrás. Sokovia. Pietro. Destroços. Até mesmo sua pele ardia na memória da morte de seu irmão, ocasião na qual ela caiu de joelhos e ali ficou por muito tempo. As lágrimas vinham quase como instinto. Ela engoliu seco, dizendo a si mesma que não era a mesma coisa. Estava diferente, mais forte. Ninguém iria morrer. Não deixaria ninguém morrer naquela vez. Apertou o corpo de Bucky contra o seu com um pouco mais de força, com um pouco mais de desespero. Entendeu o quanto era difícil para ele vê-la desaparecer e agora o terror de assisti-lo quase se esvair trazia terror ao seu peito. Não existia nada mais no mundo naquele segundo.

Murmurou baixinho o nome dele, lábios trêmulos, até que sentiu Bucky pressionar mais sua mão. Ele queria chamar sua atenção para algo. Foi nesse instante que a Feiticeira desligou-se do choque e passou a encarar o cenário de destruição ao seu redor. Suas íris se banharam em luz vermelha ao distinguir auras variadas combatendo peças de máquinas. Lá estava o azul de Steve, o amarelo radiante de Sam. Havia mutantes, havia apenas humanos horrorizados, todos tentando se proteger no que parecia um porto. Entre o desespero e a sucessão de eventos catastróficos, veio o entendimento inevitável: Estavam em Genosha. Enfrentavam Zola. Sentiu o desespero, sentiu os ferimentos de seus amigos como seus. Se perguntou o por quê Anna Marie e Remy estavam lá, se perguntou o por quê Natasha não estava.

E Magneto. Onde estava ele? Onde estava Erik Lensherr?

Ela olhou para frente, som voltando a banhar seus tímpanos. Havia vento e o barulho ininterrupto de uma turbina, embora não se tratasse de uma turbina de fato. Era uma estrutura triangular feita de peças de robôs metros adiante, um arco de metal girava em seu próprio eixo ao redor da base. Atrás daquela máquina de aspecto estranho, um imenso Sentinela esperava, sua silhueta maior do que qualquer um que a Feiticeira já havia visto. Um titã, um monstro de carapaça metálica e luzes artificiais. E no centro, preso pelos punhos e pelos tornozelos, um homem. Era isso, então. A Máquina de Almas e seu pai.

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