LXIII

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Wanda odiava desmaiar por mais do que a razão óbvia de que desmaiar não é legal. Ela acordava trôpega e com a boca seca, sempre com as mesmas perguntas na ponta da língua:

Onde estava?

Quanto tempo se passara?

Onde está Pietro?

Geralmente não verbalizava a última pergunta.

As pálpebras pesavam igual chumbo. Ela inspirou fundo, deixando a luz entrar em seus olhos e o colchão abraçar seu corpo. Lembrava-se de uma conversa cortada, uma história bizarra e uma canção reconfortante. O rosto de Erik Lensherr veio a sua memória, vívido. Em seu coração, ela sabia e agora tinha ouvido do próprio mutante, seu pai. Seu pai. A palavra dançou em sua ouvidos por alguns instantes. Só porque sentia a verdade no fundo de seu coração antes de escutá-la sólida na boca de outra pessoa, não significava que seu cérebro lidasse muito bem com a questão.

Não queria recordar do rosto de Django Maximoff, os bonecos de madeira que fazia e se perguntar afinal "por que?". Por que ele e Marya não contaram? Estavam com medo? Como a encontraram? Tia Natalya estava envolvida? Mas as respostas não vinham. Talvez simplesmente não tiveram tempo de dizer toda a verdade, pois um míssel atravessou a casa e matou os dois.

Não queria lembrar do rosto de Pietro e ficar comparando traços em comum com Erik. O queixo. Os lábios. Deus, os olhos!

Wanda só queria sair da própria pele e nunca, nunca mais voltar.

Soltou um lamento e reparou no cômodo ao seu redor. Conforme seus olhos se ajustavam com a claridade, o contorno das coisas se tornou mais nítido. Já tinha estado ali, era um quarto na Ala Médica de Wakanda. Tinha plantas. E alguém estava sentado na poltrona ao lado. Wanda reconheceu quem era quando essa pessoa se inclinou para frente para vê-la melhor, conferir se estava mesmo acordada. A Feiticeira Escarlate esticou a mão direita e maneira fraca, coisa que a irritou um pouco. Esquecia que seus movimentos eram débeis depois de tanto tempo desacordada.

— Oi, boneca. — Bucky pegou a mão dela com a sua e apertou-a gentilmente.

— Oi, James.

Ela aproveitou aquele instante de mãos dadas com ele, Bucky deslizando o polegar sobre sua pele num gesto distraído. Depois começou a se ajeitar no colchão, reprimindo uma careta de dor. Já sabia que estava em Wakanda, agora precisava fazer a segunda pergunta:

— Quanto tempo...?

— Só um dia. Está com sede?

— Sim.

Wanda quis sorrir enquanto ele punha água num copo de vidro para ela, de pé com as mãos na jarra. Quis. Não conseguiu e, ao invés de ser capaz de ser forte como desejava, começou a chorar. Se sentia patética. A jovem que erguia muralhas de energia vermelha não conseguia segurar as próprias lágrimas. Ele logo deixou o copo em cima do criado mudo e aproximou-se, porém a jovem limpava o choro de modo que Bucky não enxergava abertura para se aproximar mais ou então abraçá-la.

— Me desculpa. — As palavras saíram quebradas de sua garganta. — Me desculpa. Eu deixei... Zola escapar. E daí...

— Não é sua culpa. — Sentou-se na poltrona. — Você não tem que se desculpar.

Ele alcançou de novo a mão dela com a sua, já Wanda acalmava a própria respiração. Sua cabeça estava pesada e ela sentia dor, encarou um ponto vazio por alguns instantes até enfim retornar sua atenção à Bucky.

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