LIII

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Os olhos de Magneto estavam fechados e não havia expressão em sua face, somente vincos marcados em sua pele há muito tempo. Com o capacete rubro na cabeça e um traje pesado, intrincado por fibras de metal, ele mantinha os joelhos flexionados como se estivesse sentado meditando, a diferença é que seu quadril - seu corpo - pairava há um metro do chão. O lugar não era exatamente silencioso, pois estavam num bairro pouco afastado do centro de Zurique e era possível ouvir o som dos carros, das pessoas, da vida fora da sala vazia em que ele se encontrava. Isso, no entanto, não impedia que permanecesse focado. Mesmo com as pálpebras fechadas, ele enxergava. Seus poderes tateavam os veios de eletricidade, os campos magnéticos diversos, a concentração metal em cada objeto e ser orgânico do ambiente que o circundava de forma crescente e radial.

Magnus apreciava o silêncio, principalmente antes de executar um plano seu. Geralmente curtia um instante de paz antes de entrar em ação, por mais violência que isso envolvesse. Fez isso há muito tempo na Argentina, enquanto procurava Klaus Schmidt, também conhecido por Sebastian Shaw. Fez isso até mesmo antes e neste país, em 1962 na cidade de Genebra. Naquela ocasião ele também estava se preparando para entrar em um banco famoso, prestigiado. Não sentiu saudades da época.

Ele escutou ecos distantes, estalos que não seriam ouvidos ou sentidos por ninguém que não tivesse os mesmos poderes do que ele. Eram explosões súbitas, ondas eletromagnéticas que pulsaram de forma simultânea em pontos distintos ao redor do mundo.

Abriu os olhos.

— Raven está adiantada. — Ele disse, chamando a atenção da mulher sentada ao seu lado, realmente encostada ao chão frio. Psylocke lançou-lhe um olhar interrogativo. Também estava meditando, a aura púrpura envolvia levemente seu corpo e desenhava asas de borboleta ao redor de seus olhos. — As bombas já atingiram os alvos. Partirei agora.

Magneto flutuou um pouco mais alto, para em seguida desfazer-se da postura contemplativa e parar de pé. Estavam em frente a uma sacada e era final do dia, o cenário lá fora anuviado por uma cortina de tecido leve, translúcido. A jovem se levantou também.

— Não necessito que me acompanhe, Elizabeth. É mais seguro se juntar a Emma e aos outros. Logo Raven estará lá.

Magnus recebeu um suspiro debochado dela.

— Aquele homem, aquele ser... Roubou meu corpo. Toda a vida que eu tinha. Eu sei o que perdi e quero dizimá-lo assim como você quer.

Ele parou para encarar seu rosto oval, seus olhos cerrados e nariz pequeno. As íris de Elizabeth ainda eram negras e vez ou outra era possível enxergar um certo reflexo violeta nelas. Emma contou para ele que a partir daquele dia em 1999, em Kosovo, a alma e a mentalidade de Psylocke não estavam mais no seu corpo atlético, em seus lábios de sotaque inglês. Se foram completamente junto a explosão que tirou a vida de Lorna Darne. No entanto, sua alma ainda estava viva e por algum motivo incerto encontrou abrigo no corpo de uma menina japonesa que tivera uma parada cardíaca no mesmo instante.

Demorou um ano para que a Rainha Branca encontrasse Elizabeth, presa e confusa sob a forma de uma garota oito anos em Kyoto.

Magnus assentiu.

— Sua razão é válida, embora eu duvide que seja tão grande quanto a minha. Ele e a HYDRA congelaram meu corpo, depois quiseram tomar minha alma. Lorna morreu, Pietro morreu e Zola ameaçou a Wanda. — Ele não se abalou ao vê-la revirar os olhos. Não tinha apreço pela mutante desde que ela prendeu-a numa coleira de energia psiônica.— Não irei dizer que a vingança não é uma boa motivação porque justamente é o que vim fazer aqui. Só não preciso que isto te cegue e me atrapalhe. Foi também sua impulsividade que custou seu corpo, Elizabeth.

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