XLI

671 72 83
                                    


Wanda tinha consciência de que não tinha acessado todos os lugares do Palácio Real, tanto por não ser permitido quanto porque não havia real interesse seu em saber mais segredos de Estado, porém não deixava de ficar surpresa pela extensão do lugar. Ela, Bucky e Natasha foram escoltados pela Dora Milaje até um grande elevador - que não parecia ter intenção de parar. Foram sólidos cinco minutos apenas descendo e descendo e descendo, com Romanoff mascando chiclete de menta e Barnes com uma expressão hesitante no rosto. Wanda, por sua vez, sentia-se enclausurada ali dentro, respirando de forma entrecortada - embora baixa. Não queria incomodar, mas sentiu o olhar investigativo de Bucky sobre si. Se remexeu e cruzou os braços, coisa que atraiu a atenção de Nat. Ela ergueu o queixo, não tão discretamente alternando entre o rosto de Bucky e o de sua amiga sokoviana.

"Legal" Ela pensou. "Estou presa com duas pessoas que nem precisam de poderes telepáticos para saber que estou surtando nessa droga de elevador."

Wanda temia mais que a outra soubesse que passara em sua cabeça entrelaçar seus dedos com os do Soldado Invernal.

A Feiticeira não conseguiu encarar nenhum dos dois até ao fim da viagem de elevador. Foram recebidos por outra equipe de segurança ainda mais equipada, e dirigiram-se aos fundos, onde jazia uma porta imensa e uma figura esperando-os.

Shuri.

A iluminação era branca e as paredes todas decoradas com desenhos tradicionais de Wakanda na cor preta, o que conferia um tom elegante ao lugar. A princesa aproximou-se, saindo de perto do painel de controle que acionava a porta dupla.

Com um aceno, cumprimentou Natasha, Barnes e Wanda, mas demorou um segundo a mais ao se dirigir aos últimos dois. A bruxa quis perguntar se aquela estrutura em sua perna era o tal dispositivo de polímeros que a princesa havia mencionara no dia anterior, e como era possível que aquilo a sustentasse de forma correta sem arrebentar o restante do osso - no entanto, não parecia apropriado para o suspense em que estavam. E mais: perguntava-se mais uma vez se existia algo em sua testa que dizia que ela queria ter segurado a mão de Bucky Barnes. Sentindo-se tola, optou por reparar mais no gesso estilizado na perna da princesa do que em suas próprias paranoias.

Shuri destravou uma sequência de cinco códigos para afinal liberar a passagem do grupo pela porta colossal e Wanda pôde ver, mais uma vez, como aquele país reservava ainda mais riquezas.

A estrutura em que adentravam era um rochedo escuro e esculpido, quase liso, como se erodido pelos anos e pelas intempéries feito o fundo de um cânion. Veios de luz artificial tornavam o ambiente mais claro, ocasionalmente pulsando. Existia uma grande mesa quadrada e oito assentos ao centro, mas ninguém estava lá. Ao invés disso, T'Challa e Steve Rogers estavam lado a lado, encarando o fundo de vidro cômodo, janela para o restante da gruta. Ambos se viraram para recebê-los e neste exato instante, o que era vidro transparente tornou-se um espelho escuro, de modo que já não era mais possível enxergar o que existia lá embaixo.

Wanda sentiu a garganta ficar seca e e repente flagrou-se cruzando o olhar com Bucky. Ele também parecia confuso, ao passo que Shuri continuava seu trajeto até a mesa sem nenhuma cerimônia. O rosto de Natasha, porém, era indecifrável.

Não demorou para que todos se reunissem ao redor da mesa. O rei e sua irmã sentaram no lado que dava costas ao vidro, enquanto Wanda e Sam sentaram-se na outra lateral. Steve tinha Natasha à sua esquerda, enquanto Bucky tomou a última ponta restante, sozinho.

— Obrigado pela presença de todos. — Steve tomou a dianteira da explicação. Agradecimentos não eram necessários, mas a Feiticeira sabia o quanto ele era educado demais para não gastar breves segundos com palavras agradáveis. Ele passou a mão na barba e levantou-se, pondo as mãos atrás do corpo e deixando a postura altiva, reta. — Não somente agora, mas em todas as vezes em que precisei de ajuda. Que o mundo precisou. Sei o que custou a vocês, pois também me custou e custou caro. Mas eu faria tudo de novo, pois liberdade tem um preço alto que estou disposto a pagar. Não desejo marchar com bandeiras e homens, atravessar países e fincar essa mesma bandeira no chão e gritar que eu levei a liberdade àquele lugar. Não tenho mais um símbolo no peito, tenho apenas um coração, que por vezes quer só voltar para a casa. E então, olho para vocês e vejo que não também têm casa para voltar. E olho de novo, e percebo que vocês são meu lar. Gostaria de oferecer algo mais do que minha amizade.

VaziosOnde histórias criam vida. Descubra agora