A l b e d o
A rotina de treinamento fez Wanda sentir saudades dos socos pesados de Shuri.
Por passarem muito tempo na dimensão paralela dentro do grimório, parecia que o dia durava trinta e seis horas e pelo menos vinte e quatro delas eram gastas em exercícios de magia. O seu corpo se tencionava e suava, talvez jamais tivesse tonificado tanto seus poderes e seus músculos. Sua defesa tornou-se ampla, resistente; seus ataques eram ágeis e certeiros. A Feiticeira aproveitava as lições de persistência que aprendera com a amiga wakandana, bem como lembrava-se do que Clint Barton havia lhe dito sobre postura e pontaria. Nas sessões de magia silenciosa, quando não usava o movimento das mãos para executar feitiços, Wanda tinha a aura rosa de Natasha em mente, uma aranha tão quieta, adorável e fatal. Cada uma das cores que lembrava sustentava-a quando criaturas invocadas por Agatha avançavam sobre ela.
Mas não era só o físico que tinha trabalhado. Não escapou da rotina de leituras e questionários feitos por Agatha, tampouco da meditação e passeios em planos astrais. Padrões geométricos, desenhos e fractais coloridos acompanhavam sempre seus pensamentos. Wanda sabia que estava num ponto em que teria sido mais fácil lidar com a horda de trípodes em Zurique ou com o Sentinela em Bucareste com esses poderes desenvolvidos.
E foi por isso que doeu tanto quando foi derrotada pelo labirinto.
Passou uma semana se preparando para o desafio e agora gastava uma semana para se recuperar dela. Estava exausta, com o orgulho ferido e traumas acesos na sua cabeça. Naquele momento, batia a ponta da caneta na madeira da mesa enquanto seus olhos mal absorviam as palavras do livro, pois sua atenção voltava-se ao que tinha acontecido há seis dias. Sozinha na biblioteca durante a tarde e tentando estudar mais um volume de alquimia, o som da explosão no labirinto parecia ainda ecoar em seus ouvidos. Parecia ainda querer esmagar seu coração.
Suspirou. Tinha acabado de ler a página e não entendeu nada.
A proposta do desafio era simples. Entrar, recuperar o item perdido no centro, retornar. O labirinto começava no bosque à frente da casa de Harkness. Sua mestra avisara que andando em frente logo encontraria caminhos confusos e que não seria complexo perceber que gradualmente entrava na dimensão do labirinto. Seria aleatório, gerado pela própria magia para se adaptar à desafiante: Wanda. Foi o que aconteceu. Ela tomou o cuidado de desconfiar de tudo o que enxergava e acreditou apenas na metade do que ouvia lá. Poder latente não a ajudaria ali - e sim raciocínio. Esperava que sua experiência com o labirinto das memórias de James Barnes pudesse lhe trazer certa orientação na sua aventura, mas ela não demorou para descobrir que era algo diferente.
Não seguiu as vozes suaves que lhe seduziam para um caminho mais fácil; esmagou os demônios que saltavam de becos; protegeu-se de armadilhas espertas. O percurso era composto por árvores imensas, raízes altas e que cresciam ainda mais quando a Feiticeira tentava voar para ver o seu objetivo. Mesmo com o truque da vegetação, ela conseguiu chegar ao centro. Recuperou o item, que era um pequeno baú que cabia na palma da mão. O problema foi voltar.
Quando já estava na metade do caminho e os corredores de árvores tornaram-se mais baixos, a atenção de Wanda foi atraída por um brilho no céu que deixava um longo rastro. Não era nenhuma estrela cadente para realizar seus desejos, era um míssel. Com a garganta de repente seca, ela tentou ignorar a bomba assim como tinha ignorado as outras ilusões, mas não pôde ignorar o tremor do chão quando explodiu a trinta metros de distância, nem a sensação de calor em sua pele. Outros mísseis vieram depois. A noite ficou acesa, inteira estrelada e quente, enquanto Wanda voltava a ser só uma menina de Sokovia, fugindo da morte. Ela perdeu o baú. Se perdeu. Tropeçou e caiu no labirinto, parando de frente a um míssel fincado no chão, estático. Esperando para explodir, assim como há tantos anos.
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Vazios
FanfictionHá um vazio latente em Wanda. Um vazio que cresce e devora, sussurra e rosna. Grande, feroz. Vermelho e sanguinário. Um vazio que era apenas uma pequena flama, mas que ao longo dos anos, incendiou-se feito uma tormenta de fogo. Wanda o sente. Sente...