XXXIX

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Os estragos na antiga fábrica só não foram maiores por intervenção de Psylocke. Ela usara seus poderes de energia psiônica para proteger o grupo e os demais itens que eram importantes às missões, enquanto a terra tremia e o as estruturas de metais rangiam. Agora, com a explosão eletromagnética já encerrada, Magnus estava sentado num canto distante e tomava um copo de água que um dos seguidores dera a ele. Era um menino franzino e estranho, de pele um tanto esverdeada e a mandíbula larga - como se fosse difícil guardar a própria língua na boca. O Mestre do Magnetismo não teve paciência para lidar com seus maneirismos tortos e o dispensou com um aceno ríspido, fato que o outro não pareceu se importar.

Raven o acompanhava de perto, ainda respeitando seu espaço.

Ele encarava o nada, ao mesmo tempo olhando para o chão e observando os parafusos soltos e misturados com o pó e sujeira. Era uma fábrica simplória, ele nem sabia do quê. Havia esteiras, ganchos e era uma proeza não ter dilacerado tudo aquilo há minutos atrás, apesar das hastes retorcidas. A estrutura do lugar muito lhe lembrou seu trabalho de Sonderkommando, e também o trabalho que tivera depois também numa fábrica, quando morava naquela mesma cidade com Magda e Anya. Ambos os empregos repulsivos. Tomou mais um gole de água, insípida.

Lorna. Não carregava seu sobrenome, mas havia seu sangue ali. Seus poderes. Tivera um relacionamento breve e casual com a mãe dela, que até mesmo era casada na época. Foi no início de 1955, dois anos depois da tragédia que levara sua esposa e sua filha, e desde aquele dia Magnus buscava o criador do monstro que era, Dr. Klaus Schmidt - que em 1961 veio a saber que se tratava de Sebastian Shaw. Magnus não ligava muito para quem entrava e saía da sua vida na época, pois sabia que não podia mantê-los para sempre. Havia sempre uma cova a ser cavada.

Ele não se recordava muito da mãe de Lorna, Susanna, nada além de seu rosto atraente e seu nome, da aliança que tinha no dedo e que os dois ignoraram. O acaso os uniu, de repente, e também logo os separou. A filha nasceu em Novembro. Agora sabia que poderia ter tratado as coisas de maneira diferente, apesar de não nutrir amor por aquela que era mãe de sua filha. Mas poderia ter sido um pai. Queria ter sido um, por mais tempo.

Lorna. Uma garotinha que não tinha mais do que seis anos quando a encontrou, numa noite de 1962. Ele sentira uma cópia exata de um pulso eletromagnético igual ao seu e foi investigar. Não estava longe do epicentro e a Irmandade de Mutantes lhe daria cobertura caso fosse mais uma arma projetada para aniquilá-los. Ele encontrou restos de uma tragédia aérea, corpos de dois adultos parcialmente - mas fatalmente - mutilados. Um acidente descomunal, porém ainda assim foi possível reconhecer Susanna - ou o que restava dela. E encontrou também uma menina de cabelos esverdeados encolhida entre pedaços da aeronave e, para sua surpresa, seu pequeno corpo flutuava há centímetros do chão enquanto choramingava, as pulseiras de metal sendo utilizadas de forma inconsciente para tal proeza. Ele soube naquele instante que era sua filha. Uma filha.
Cogitou que havia sido os poderes dela que haviam destruído o avião, talvez num surto emocional muito grande, embora estes mesmos poderes tenham lhe protegido do desastre. Ela estava acordada e viu quando ele, trajado em vermelho, aproximou-se.

"Olá, criança. Qual é o seu nome?"

Ela abriu a boca, mas não respondeu. Abraçou-se mais com o bicho de pelúcia roxo que carregava. Magnus chegou mais perto, observando-a com a luz vinda do fogo e da lua. Uma tragédia tinha tirado-lhe uma filha, e uma tragédia trouxera outra à ele. No pescoço dela reluziu o brilho dourado de uma corrente de ouro, um pingente delicado com um nome.

"Lorna?"

Assentiu, seus olhos verdes muito abertos. Tremia, ainda pelo choque do acidente. Pela realidade que todos os mutantes viviam, aquela seria a primeira de muitas dificuldades que a pobre menina experimentaria. Gostaria de oferecer algo melhor à ela. Gostaria de poupá-la de toda a dor.

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