Os corredores de Palácio de Wakanda estavam acostumados a vê-la vagando sem rumo definido, embora determinada a continuar caminhando. Havia uma bússola dentro de si que o Norte apontava ao inverno, ao frio que lhe era familiar e ela desejava tanto voltar para casa.
Pensou numa realidade alternativa, onde bateria à porta do apartamento alugado aos pedaços em que vivera por um breve período com seu irmão, e ele a abriria resmungando em poucos segundos. Pietro brigaria com ela por voltar tão tarde e não trazer doces.
Ela parou, pensando naquilo que Njeri dissera. Era ridículo como rubor havia tomado conta de suas bochechas, era mais ridículo ainda porque sua psiquiatra não estava se referindo de modo algum a James. E, ainda assim, estava parada no cruzamento entre corredores, e bastava apenas seguir pela esquerda e descer alguns degraus para chegar ao Laboratório de Criogenia. À direita, o Salão Principal, por onde deveria ir até ao ponto de encontro com seus amigos, que já deveriam estar reunidos com os visitantes.
Seus pés hesitaram para a esquerda, deu dois passos. Soltou um longo suspiro, seu coração acelerando-se à medida que mais números noves vinham à mente.
— Senhorita Maximoff. — Uma voz a chamou de volta. Ela se virou de forma natural, blefando com um sorriso acanhado e olhos baixos. Tinha aprendido um truque e outro com Natasha, embora T'Challa pudesse enxergar através disso. — Que surpresa vê-la pelo caminho.
— Majestade. — O cumprimentou com um aceno educado. — De fato, uma surpresa.
Ele encarou-a por alguns segundos, depois desviou o olhar para a direção que a jovem pretendia seguir. Compreendeu imediatamente quem ela iria visitar, embora não o porquê.
— Faz tempo que não conversamos a sós. Que tal me atualizar, enquanto me acompanha no caminho até Steve e Sam? Temos convidados muito especiais a receber.
— Claro. — Disse, sem conseguir esconder o desapontamento em seu rosto. Foi até ao lado do rei e ambos começaram a andar, ele com seu ar resoluto e mãos entrelaçadas nas costas. Seu olhar era investigativo, o resto da expressão neutra. Era interessante como o temperamento dos irmãos era diferente, de modo que Shuri só adquiria esta calma quanto estava na arena. —O que quer saber?
— O que for importante.
— Bom... — Wanda encarou a decoração, os quadros. Deu de ombros. — Njeri diz que estou me recuperando bem. Eu e Shuri estamos nos entendendo. E apesar de não termos chegado em alguma conclusão melhor, acho que as investigações do hack estão fluindo.
Ele deu um meio sorriso.
— Agora diga algo que eu não tenha ouvido dos outros. O que você tem feito, Maximoff?
— Eu... — A palavras arranharam a garganta dela. — Eu tenho tentando entender mais sobre mim. Sabe, isso... — Ela fez um gesto com a mão, mostrando uma elegante e calma chama escarlate sair de seus dedos. Imediatamente soltou um suspiro, aliviada. — Isso ainda não foi bem explicado.
À contragosto, recordou-se de uma conversa semelhante que teve com Visão e era penoso admitir que havia lógica em seu raciocínio: Quanto mais soubesse sobre seus poderes, menos se deixaria levar por eles.
— Entendo. E como está fazendo isso, exatamente?
— Bom, eu... — Ela molhou os lábios. T'Challa estava incrivelmente perto de saber o que todos vinham negando esses últimos dois meses: Wanda era uma garota esquisita usando poderes de forma irresponsável numa pessoa para se sentir melhor. O resto era consequência, coincidência. Armou-se da face mais inocente que tinha, com o tom mais evasivo que podia. Junto à isso, um breve lampejo rubro passou por suas íris, manipuladoras. — Eu tenho lido muito. Meditado.
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Vazios
FanfictionHá um vazio latente em Wanda. Um vazio que cresce e devora, sussurra e rosna. Grande, feroz. Vermelho e sanguinário. Um vazio que era apenas uma pequena flama, mas que ao longo dos anos, incendiou-se feito uma tormenta de fogo. Wanda o sente. Sente...