Devyat' - Parte Quatro

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A viagem de Professor Charles e Ororo Munroe precisava ser rápida, pois os dois não podiam se afastar por muito tempo do Instituto Xavier e nem o grupo refugiado em Wakanda podia se manter parado enquanto hacks ainda aconteciam e vida de pessoas corria risco. Apesar da fachada de intercâmbio estudantil, eles precisavam agir.

O jantar foi agradável. Ororo e Sam concordavam em basicamente tudo relacionado a discos e álbuns dos anos oitenta, e talvez por esta razão T'Challa tenha acompanhado o semblante sisudo de sua irmã, soltando poucos comentários e focado mais em sua própria comida. Para a preocupação de Steve, Wanda e Charles participaram de uma conversa nada comum, pois parte era verbal e parte era mental, ambos rindo sobre o quanto Steve Rogers queria tirar o refrão de "Star Spangled Man" da cabeça, afinal, já fazia setenta anos que a canção estava ali.

Os dois, porém, deixaram a música onde estava.

Depois se direcionaram ao escritório destinado à eles para pesquisa.

Durante o trajeto, Wanda se flagrou mais leve. Havia algo na forma que professor Charles a fizera recordar do abraço do irmão que a fizera ficar alegre, como se a qualquer momento ele pudesse aparecer ao seu lado e pegar sua mão. Dentro dela, porém, existia também medo que a sensação a abandonasse e de novo fosse entregue à sua própria tormenta.

Agora, sentada num banco com apenas o telepata a sua frente, paciente, Wanda não tinha mais certeza da paz em seu coração. O restante do time estava separado daquele cômodo vazio e branco através um vidro blindado, tal qual cientistas esperam a reação de suas cobaias.
Não, era maldoso pensar assim. Wanda sabia disso, mas não podia evitar que o coração injetasse pânico nas veias ao lembrar-se de laboratórios, ao lembrar-se de coleiras. Não podia deixar de ser cética e sentir ira quando era posta no meio de quatro paredes para que pessoas a observassem.

— Wanda, eu estou aqui. — Disse ele, agora ponto a mão sobre a sua. — E nós só vamos dar uma olhada nessa lembrança que você viu. Pense nisso como uma simples conversa, como tivemos no jantar.

— Não podemos fazer isso outro dia? Amanhã cedo mesmo. Eu só... Eu só preciso me preparar para isso.

Ele suspirou, mas Wanda supôs que ele faria sua vontade. Seria leniente. Ele fechou os olhos e girou sua cadeira de rodas alguns graus para a direita, encarando o vidro. Antes que pudesse dizer algo, a voz de T'Challa soou pelo sistema de som.

— Eles fizeram uma longa viagem, senhorita Maximoff. E precisamos de respostas. Por favor, ao menos tente.

Houve um barulho estranho, uma batida no microfone talvez. Depois veio Sam:

— Você consegue, garota.

Ela se sentiu tola e derrotada. Soltou um suspiro, abaixou os ombros tensos. Passou os dedos nas têmporas, tentando se concentrar no que tinha pensado para se conectar à mente de Bucky Barnes, ou melhor, no que tinha sentido.

E não eram coisas boas.

Pensara em como era inútil. Como sempre, sem exceção, conduzira às ruinas tudo o que lhe era bom. Sua vontade de mudar o mundo para melhor não passava de um desejo de vingança coberto por vaidade e tolice, e não importava o quanto ela queria reparar o mal que havia feito, não importava quanto tentasse... Encontrava a morte.

Wanda optou por ignorar o quanto seu coração estava pesado, conduzindo Xavier para a memória que não era sua. Passou rápido pelo início, querendo poupar a dignidade de James pela indiscrição, mas ele gritava alto demais. Foi doloroso assisti-lo novamente tomar choques, ver seu rosto inexpressivo e a boa entreaberta. Algo disparou em Wanda, algo escarlate.
De novo podia sentir o corte feito pela navalha em sua mão, enquanto a visão de si corria confusa pelo laboratório da HYDRA, assustada pela cena de tortura e o rosto arrogante de Alexander Pierce.

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