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 Narrado por Dulce

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Narrado por Dulce

Matheus dirigia com pressa enquanto eu arfava, me segurando para não gritar tamanha a dor que estava sentindo quando as contrações vinham. Em um momento de trégua, o olhei através do retrovisor e percebi que ele estava prestes a rir.

Ele estava rindo?

De que diabos ele estava rindo?

— Do que você está rindo?

— Essa situação toda é engraçada — riu, me deixando irritada.

— Engraçada porque não é você que está com a barriga do tamanho de uma melancia e com uma criança querendo sair por sua vagina, idiota! — gritei grosseiramente, mas ele não entendeu minha tentativa de ofendê-lo, porque gargalhou ainda mais, o que me deixou ainda mais irritada.

— Desculpe — disse quando me ouviu fungar. Seu rosto se contraia em uma careta estranha, parecia fazer muito esforço para não continuar rindo — Oh, Dulce! Me desculpe — seu tom suavizou ao ver que eu já estava chorando.

— Cala a boca, idiota! Me leve logo para o hospital! — tentei soar grosseira, mas minha voz tremula me traiu. Senti seu olhar em mim através do retrovisor quando outra contração me atingiu e cravei os dedos no banco.

— Por favor, me desculpa. Eu sou um completo idiota — eu não respondi e em troca ele acelerou ainda mais o carro.

Chegamos ao hospital algum tempo depois, porque apesar dele ficar em Savannah, cidade vizinha a qual eu morava, o trajeto não levava mais que quarenta minutos e Matheus realmente tinha afundado o pé no acelerador. Não que eu esteja reclamando.

Ele me ajudou a sair do carro e me guiou para dentro do hospital, gritando que eu estava em trabalho de parto e não levou muito tempo para eu estar sentada em uma cadeira de rodas, enquanto me levavam para um quarto. Quando disseram a Matheus que ele só poderia me acompanhar se fosse o pai do bebê, ele não hesitou em concordar com isso. Deve ter notado o quanto eu estava apavorada.

Era estranho o quanto me senti segura sabendo que ele estaria comigo, sendo que não o conhecia a mais de quatro horas. Talvez fosse por meus pais ainda não terem chegado e eu não ter ninguém conhecido ali.

Me levaram para um quarto e uma enfermeira me ajudou a tirar as roupas e colocar um avental. Pelo canto do olho, vi Matheus olhar fixamente pela janela, querendo me dar privacidade. Foi fofo, mas não era algo que me preocupasse no momento, eu estava sentindo muita dor e ansiedade de ter meu filho em meus braços.

— A grande hora chegou, Dulce — a obstetra com quem eu vinha me consultando disse ao entrar no quarto — Vou te examinar rapidamente e dependendo da dilatação começaremos o parto.

Lucia aproximou-se de mim, pedindo que eu abrisse as pernas o máximo possível. Observei Matheus se afastar outra fez quando fiz o que a médica mandou.

— Você ainda está com apenas cinco centímetros de dilatação e precisamos esperar chegar até dez — disse levantando-se e olhando a ficha que os enfermeiros me fizeram preencher antes dela chegar — Suas contrações estão de sete em sete minutos, vamos esperar que chegue até três e volto para examiná-la.

Concordei, apesar de não entender muito o que ela estava dizendo, a dor que eu estava sentindo não me deixava assimilar nada. Percebi que ela olhou confusa para Matheus, talvez porque eu tivesse lhe contado que seria mãe solteira, então olhou para mim com os lábios erguidos em um pequeno sorriso.

— É bom vê-lo presente nesse momento. Vamos precisar da sua ajuda, papai! Preciso que preste atenção no tempo das contrações e mande me chamar quando estiver de três em três minutos, ok?

Matheus levou algum tempo para entender que ela estava falando com ele, mas concordou com a cabeça, aproximando-se de mim quando ela saiu e cobrindo-me com o lençol que ela tinha afastado quando me examinou. Ele sentou-se em uma cadeira ao meu lado e segurou minha mão.

— Lembra que eu disse sobre minha mãe querer que saíssemos? — concordei um pouco confusa — Não imaginei que nosso primeiro encontro acabaria em uma sala de parto — sorriu debochado, fazendo com que eu desse uma risada fraca, seguida por uma careta de dor.

Apertei sua mão quando outra contração se aproximou. Levou algum tempo antes que eu a soltasse e volta a respirar normalmente. Matheus olhava para o relógio, parecia estar levando sua tarefa a sério.

— Tudo bem, você acabou de me punir por rir no carro — brincou alongando a mão. Eu sorri de uma maneira cansada e o senti tirar uma mexa de cabelo do meu rosto.

— Obrigado pelo que está fazendo por mim — sussurrei.

— Não precisa me agradecer — claro que eu precisava, mas não tinha forças para contestar.

Uma hora mais tarde, eu já não estava mais aguentando e Matheus chamou pela médica. Meus pais já haviam chegado, mas não permitiram sua entrada e ele permaneceu ali comigo.

— Deixa eu te examinar, Dulce — aproximou-se de mim outra vez, repetindo o mesmo procedimento de mais cedo, antes de me olhar com um enorme sorriso — Chegou a hora, querida! Está preparada?

— Não sei — sussurrei cansada — Minha mãe pode vir ficar comigo?

— Não, querida! Desculpe, mas apenas permitimos a presença do pai — olhou diretamente para Matheus — Você não vai ficar para assistir ao parto?

Senti o olhar de Matheus sobre mim, mas não tive coragem de olhá-lo. Eu não queria passar por isso sozinha, mas não era justo pedir isso. Ele já havia feito muito por mim, sem nem me conhecer direito.

— Vou sim! Ela queria a presença da mãe também — o olhei confusa e o vi sorrir — Não se preocupe, querida. Eu não vou sair do seu lado.

Sorri agradecida, sentindo-me muito mais segura por saber que eu não estaria sozinha. A equipe médica entrou na sala e vi Matheus vestir um avental, enquanto Lucia encaixa minhas pernas nos eixos metálicos, para mantê-las abertas.

***

Já não tinha mais forças para empurrar. Estava suada, ofegante e angustiada, já estava a tanto tempo dentro daquela sala, empurrando e empurrando, sentindo uma dor insuportável. Eu não conseguiria...

— Você consegue, Dulce! — Matheus repetiu. Ele segurava minha mão, incentivando-me a empurrar, mas eu não aguentava mais — Olha para mim, querida! — o olhei cansada — Só mais uma vez, está bem? Com força, você vai conseguir!

Sem esperanças, respirei fundo e empurrei, ciente de que não conseguiria repetir isso outra vez. O som um de choro soou longe quando minha visão ficou nublada.

Despertei sentindo um cheiro forte em meu nariz. Matheus estava em minha frente, me presenteando com um enorme sorriso enquanto segurava um embrulho branco em suas mãos. Minha atenção se voltou para o amontoado de pano quando ele se inclinou em minha direção e o vi... Meu garotinho que estava melado de sangue e fluidos, tinha poucos fios de cabelo. Nunca meu coração bateu tão rápido quanto agora.

— Thiago — sussurrei e vi Matheus me olhar confuso — O nome dele é Thiago

— Dulce... — sua voz ficou longe quando fechei meus olhos.

O valor de uma vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora