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Narrado por Dulce

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Narrado por Dulce

Um choque percorreu meu corpo ao ouvir a voz de Matheus. Corri em sua direção e não segurei o choro quando o abracei como se minha vida dependesse disso. Quando me acalmei o suficiente para fala, expliquei em poucas palavras, ainda agarrada a ele, que Thiago precisaria de um transplante e o que aconteceu quando procurei por Christopher.

— Quero ver o meu filho, Dulce — pediu desesperado. Segurei sua mão com força e o puxei em direção ao quarto. Meu olhar se encontrou com o de Christopher, que parecia estático no lugar — Aquele é o Christopher? — concordei, tentando seguir para o quarto, mas Matheus me manteve no lugar — Ele não vai fazer o transplante?

— Não vai...

Não consegui nem mesmo concluir a frase. Pisquei e Matheus já estava por cima de Christopher no chão enquanto gritava.

— Dulce sofreu por sua causa e agora vai fazê-la sofrer outra vez, por que não presta nem para salvar seu filho? Você é um filho da puta! Queria tanto que ele não tivesse nascido, que vai matá-lo?

Tentei puxar Matheus pelos ombros, mas ele estava transtornado, nunca tinha o visto assim. Olhei para Christian em busca de ajuda e vi em seus olhos que se ele se envolvesse, Christopher ficaria ainda mais machucado.

— Matt... — supliquei.

— Vai matar o meu menino! — não precisei ver seu rosto para sabe que estava chorando e isso fez as lágrimas voltarem a escorrer por meu rosto.

Dois seguranças se aproximaram e conseguiram afastá-los. Christopher tinha uma marca na bochecha, não que eu estivesse me importando com isso, mas isso me fez olhar para o rosto do meu noivo e vi uma marca parecida em sua mandíbula.

— Ele não é seu filho — Christopher esbravejou, fazendo Matheus rir.

— Foi você quem segurou a mão de Dulce no parto? Que trocou a primeira fralda ou deu o primeiro banho? Você estava lá na primeira palavra e no primeiro passo? Sabe a cor ou o desenho favorito? É seu nome que ele carrega? Thiago é meu filho, quer você queira ou não.

— Amor, por favor — choraminguei entrando em sua frente — Esquece ele, vamos ver nosso filho. Thiago está com saudades, amor.

Matheus pareceu se acalmar com minhas palavras e o segurança o soltou. Segurei sua mão com força e seguimos para o quarto de Thiago, mas antes de entrarmos, olhei para o segurança que ainda segurava um Christopher furioso.

— Esse homem não tem o direito de estar aqui. Já basta todo o sofrimento que eu e minha família estamos passando, para ter que aturá-lo. Quero que proíbam sua entrada — Christopher me fuzilou com olhos antes de ser arrastado pelos seguranças e segui com Matheus para dentro do quarto.

Ver Matheus sentar-se ao lado da cama de Thiago e chorar, partiu meu coração por completo. Se tinha alguém que entendia o meu sofrimento, era ele. A única pessoa que amava meu filho tanto quanto eu.

— Será que tem alguma chance de eu ser compatível?

— Não sei, amor. Precisa fazer falar com o Rafael e fazer o exame — disse ao me aproximar — Estou com tanto medo — admiti.

Matheus se levantou, abraçou minha cintura, enterrei meu rosto em seu peito e deixei que me consolasse. Era dele que eu estava precisando durante todos aqueles dias de angústia.

Eu não podia perder o meu menino. Thiago foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida, eu o amava tanto que fui capaz de perdoar Christopher e não guardar rancor. Meu filho foi fruto de um amor lindo e intenso, por mais que tenha terminado de forma trágica e Christopher tenha mudado tanto, além disso, ele era a cópia fiel do pai e não poderia odiar a Christopher amando alguém tão parecido.

— Eu preciso tomar um pouco de ar — disse, afastando-me dele. Na verdade, por mais que quisesse continuar em seus braços, sei que ele precisava de um momento sozinho com Thiago.

Sempre que eu estava estressada com alguma coisa, eu caminhava na praia, sentindo a areia sob meus pés e olhando o mar, mas tudo o que eu tinha ali em Nova Iorque, era o jardim do hospital. E por mais bonito que fosse, não era a minha praia e nem me passava a mesma tranquilidade dela.

Vi Christopher sentado em um banco, com o rosto enterrado entre as mãos. Pensei em dar meia volta, mas meu filho estava morrendo e ele ainda era a minha última esperança. Talvez... Só mais uma tentativa.

Me sentei ao seu lado e fiquei algum tempo em silêncio, sentindo as lágrimas escorrerem e meu coração acelerado em meu peito. O jardim era enorme, se Thiago estivesse bem, estaria correndo e tentando subir nas árvores.

— Você não é o pai dele, Christopher — senti seu olhar sobre mim e me levantei, tomando coragem de encará-lo de frente — Você não é o pai dele e nem o ama, mas... Ele é tudo o que eu tenho, Christopher — sem me importar com a humilhação, me ajoelhei em sua frente, separando seus joelhos para me encaixar entre suas pernas, seu olhar estava preso a mim — Sem o Thiago, eu não sou ninguém. Sem ele, eu morro.

— Não diz isso, Dulce — pediu desesperado — Rem muita gente que te ama e...

— Nada disso me importa sem o meu filho, Christopher — segurei seu rosto da forma mais carinhosa que pude e olhei em seus olhos — Se você me ama ou se algum dia me amou, nem que tenha sido um pouco, Chris... Salva o meu filho. Você não é o pai dele, não o ama e eu entendo isso, mas... Faz isso por mim. Por favor, não vou aguentar viver sem ele.

Seus braços envolveram meus ombros, puxando-me meu rosto de encontro a seu peito e deixei que me abraçasse enquanto eu desabava outra vez. Christopher acariciava meu cabelo e eu sentia suas lágrimas pingarem em meu ombro.

— Ele é a minha cara, Dulce — disse parecendo orgulho — Quando ele estiver melhor, eu posso conhecê-lo?

Solucei sentindo uma esperança tomar conta do meu peito e me afastei para olhá-lo.

— Isso é uma condição? — murmurei baixo. Ele maneou a cabeça e suspirei — Thiago é esperto para idade, mas é muito sensível e se apega muito fácil as pessoas. Não quero que você o iluda e suma quando cansar. Preciso que salve a vida dele, mas se isso não for uma condição, só vou permitir que se aproxime de meu filho quando provar que sua carreira não vai ser mais importante que ele.

O olhei ansiosa, esperando que disse que isso era uma condição – e se fosse, eu não contestaria porque a vida dele era mais importante – ou que ainda assim não faria o transplante, mas Christopher apenas enxugou o rosto e me olhou nos olhos.

— Eu vou provar!

O valor de uma vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora