O valor de uma vida

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Narrado por Dulce

Christopher saiu do quarto sem me deixar falar, mas quem poderia culpá-lo? Essa situação toda já tinha passado dos limites, mas eu não ia pensar nisso agora, ia descansar porque amanhã era nossa folga e Thiago estaria chegando com minha mãe.

Aqueles meses foram incríveis e terríveis ao mesmo tempo. Eu morria de saudades de Thiago e sei que ele também sentia a minha. Todas as folgas que tínhamos, Christopher e eu pegávamos um voo para minha casa e ficávamos com ele, às vezes, Matheus ou nossas mães os traziam, como aconteceria amanhã.

***

Acordei extremamente cedo, me arrumei e fiquei andando de um lado para o outro esperando meu filho chegar, quando finalmente bateram na porta, abri ela e abracei o meu pequeno com força.

— Também estava com saudades, mamãe, mas a senhora está me sufocando — resmungou enquanto eu o apertava e beijava seu rosto.

— Não estou te sufocando, estou te dando amor.

— O seu amor está me deixando sem ar — resmungou, me fazendo rir — Posso ir ver o papai?

— Pode sim. Ele está no quarto da frente, fica com ele um pouco que eu preciso conversar com sua avó.

— Tá bom, mamãe.

O coloquei no chão e fiquei observando-o bater na porta do quarto de Christopher, que logo foi aberta. Thiago gritou pelo pai, que acenou para mim antes de entrar com ele.

— O que aconteceu entre vocês? — minha mãe perguntou quando entramos em meu quarto.

— Longa história... Eu preciso que a senhora seja paciente, me escute e me ajude, porque estou quase enlouquecendo, mamãe.

— Me conte, filha.

Nos sentamos na cama e contei a ela tudo o que estava pensando e planejando nesses últimos meses. Depois de quase duas horas contando tudo, ela apenas soltou um longo suspiro e segurou minhas mãos.

— Você sabe o quanto eu gosto dele, não é? — assenti com medo do que ela diria — Eu e seu pai estávamos torcendo por essa decisão, apesar de tudo o que tem acontecido, acredito que vocês podem passar por cima disso e serem felizes sim! Você tem razão em conversar com o Thiago.

— Vou fazer isso agora mesmo, mamãe.

— Bom, eu vou aproveitar que estamos na Espanha e vou encontrar uma velha amiga que mora aqui, tudo bem? Vou passar o final de semana na casa dela, assim você e o Ucker aproveitam o Thiago melhor.

Me despedi de minha mãe e fui buscar o Thiago no quarto de Christopher, mas antes que eu batesse na porta, ela foi aberta. Christopher segurava nosso filho no colo e eu sorri.

— Oi.

— Oi.

— Nós vamos pra piscina, mamãe! Vamos também?

— Claro, príncipe. Antes a mamãe precisa muito conversar com você, pode ser?

Christopher me olhou atenciosamente, ciente de que conversaria com Thiago sobre a minha decisão. Decisão essa que eu ainda não tenho total certeza.

— Fiz alguma coisa errada, mamãe?

— Não, meu amor. Só preciso te contar uma coisa, bem rápido e depois vamos para piscina encontrar o papai, tudo bem?

Thiago concordou receoso, mas veio para o meu colo. Entrei em meu quarto sentindo o olhar de Christopher queimando minhas costas.

Com toda calma e paciência do mundo, expliquei ao meu filho de quatro anos como nossas vidas iriam mudar dali para frente. Independente de quem eu escolhesse, ele teria dois pais e um não moraria no mesmo país que nós dois, então seriam muitas viagens para visitá-lo e muitas adaptações a ser feita. No final, Thiago passou bastante tempo em silêncio antes de me olhar e sorri inocente.

— Eu tenho dois papais que gostam muito de mim, não é, mamãe? — concordei, fazendo-o sorrir ainda mais — Vou sentir muita falta do meu pai, mas vou gostar de morar com o meu outro papai.

— Que bom, príncipe! Você vai sempre visitar seu pai, mesmo morando longe e vai poder falar com ele todos os dias.

— Tá bom. Vou gostar disso, mas com uma condição — o olhei receosa — Chega de papai, está bom? Dois já tá bom.

Sem conseguir prender o riso, gargalhei do seu jeitinho.

— Não pode contar para nenhum de seus pais, certo?

— Vou guardar segredo, mamãe! Prometo.