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Narrado por Christopher

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Narrado por Christopher

Beijar Dulce me fez perceber que mesmo que não ficássemos juntos, eu a amaria para sempre, porque aqueles poucos minutos reacenderam milhares de fagulhas dentro de mim. Se tudo desse certo, eu lutaria por eles e a primeira coisa que preciso fazer é contar a verdade a outras pessoas importantes em minha vida.

Rafael me encaminhou para um quarto e pedi que me desse um momento antes de começarmos a cirurgia. A primeira pessoa para quem liguei foi Mariana. Contei tudo o que tinha acontecido desde que Dulce descobriu que estava grávida, ela ficou surpresa e horrorizada com minhas atitudes. Terminar um noivado por telefone é algo ridículo de se fazer, mas eu preferir ser ridículo a cometer mais algum deslize. Dulce estava solteira, mas eu ainda estava noivo quando a beijei, Mariana não merecia isso.

— Espero que você seja feliz com ela, Christopher. Espero de coração que vocês consigam começar do zero.

— Não tenho certeza de que isso vá acontecer, Dulce ama outra pessoa, mas eu preciso tentar, Mari.

— Se ela te beijou, acredito que ainda sente algo por você.

— Espero que você encontre alguém a sua altura.

— Eu também — rimos — Boa sorte, Christopher! Me liga depois da cirurgia.

— Pode deixar. Obrigado, Mari.

Ter a compreensão de Mariana me deixou muito mais leve e tranquilo, mas eu ainda precisava falar com meus pais e já imagino a decepção que vão sentir. Precisei ligar duas vezes até que me atendesse, com a voz um pouco desesperada, o fuso horário é de apenas uma hora, mas ainda é madrugada nos dois países.

— Filho, aconteceu alguma coisa?

— Aconteceu sim, mãe — disse e pude sentir as lágrimas começarem a escorrer — Tem algo que nunca contei a vocês e preciso contar agora.

— Como assim, Christopher?

— Nunca contei por que Dulce terminou comigo...

— Filho, você bebeu? Isso já faz quase cinco anos e...

— Dulce engravidou, mamãe.

— O quê? — sua voz soou mais desperta, imagino que por causa do susto.

— Quando me buscaram bêbado no bar, foi porque pedi que ela tirasse o bebê e ela me mandou embora, mamãe. Fui um monstro, quis matar meu filho — puxei as penas para cima, apoiando a testa no joelho. Meu peito apertava em ter que contar essas coisas a ela — Liguei bêbado do bar, implorei que tirasse o bebê... Quando viajamos, a levei para uma clínica de aborto. Eu disse a Dulce que minha carreira era mais importante que o nosso filho... Sou um monstro, mamãe. Por isso ela me deixou...

Desabei no choro e pude ouvir minha mãe chorar do outro lado da linha. Ouvi meu pai perguntar o que estava acontecendo e solucei quando ela começou a contar, depois colocou a ligação no viva voz.

— Christopher...

— Estou arrependido, mamãe. Me perdoem por decepcionar vocês... Se eu pudesse voltar no tempo, jamais teria feito isso. Jamais os deixaria ir embora de minha vida.

— Meu filho, onde você está? — meu pai perguntou em um tom preocupado.

— Dulce é a pessoa mais incrível que já conheci em minha vida... Ela não fez o aborto — os dois quase gritam de surpresa — Ainda assim, fui um monstro. Um idiota. Dulce apareceu no final do último show e me contou que tínhamos um filho. Dá para acreditar nisso? Tenho um filho com a mulher que amo. O nome dele é Thiago, é tão lindo e inteligente... A criança mais inteligente do mundo inteiro — disse orgulhoso.

— Então eu tenho um neto? — minha mãe perguntou animada e eu ri.

— Tem, mamãe. Um neto lindo demais, mas... Eu fui muito idiota. Não quis saber dele a princípio e disse coisas horríveis a Dulce. Mãe, não quis conhecer meu próprio filho, que tipo de monstro eu sou?

— Onde você está agora, Christopher? — meu pai perguntou outra vez e suspirei pesadamente.

— No hospital.

— O quê? Como assim?

— Meu filho está doente... Ele tem hepatite fulminante e foi por isso que Dulce me procurou. Thiago está fraco e precisa de um transplante de fígado, sou compatível e vou entrar em cirurgia daqui a pouco — a ligação ficou em silêncio por alguns segundos e então os soluços de minha mãe começaram a soar — Preciso pedir duas coisas a vocês.

— O quê?

— Papai, caso aconteça algo comigo, vocês podem cuidar para que tudo o que tenho seja passado para meu filho? Talvez Dulce não aceite, mas quero que ele herde tudo, é o mínimo que posso fazer.

— Christopher! — minha mãe gritou horrorizada — Não diga isso. Você vai viver e cuidar dele pessoalmente, vai conhecer seu filho e se tornar pai dele.

— Espero que sim, mamãe, mas caso isso não aconteça... Podem cuidar de tudo?

— Independente do que aconteça, meu neto sempre terá assistência, Christopher. Eu garanto isso — meu pai disse sério e suspirei. Não cheguei a conversar com Dulce sobre dinheiro, mas pelo carro que Matheus dirigia e pelo hospital em que estávamos, imagino que sejam bem de vida. Talvez não precisem de um centavo meu, mas quero que meu filho herde tudo e quando tiver idade decida o que fazer.

— A outra coisa que quero pedir é que venham para cá. Quero que conheçam o Thiago e preciso de vocês aqui, caso algo dê errado.

— Vamos correr para o aeroporto agora mesmo.

Passei todas as informações para minha mãe, desliguei o celular e chamei Rafael para dizer que estava pronto. Só espero que se algo de errado tiver que acontecer, seja na minha cirurgia e Thiago fique bem.

O valor de uma vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora