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 Narrado por Dulce

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Narrado por Dulce

Senti alguém balançando meu braço e abri os olhos devagar quando ouvi Thiago me chamar. Ele estava em pé ao lado da cama, agarrado com o elefante de pelúcia que Matheus tinha lhe dado há alguns anos.

— Filho, está tarde... Volte para sua cama — disse sonolenta.

— Estou com muito frio, mamãe — sua voz soou falha.

— Frio? — cocei os olhos enquanto me sentava na cama e o olhava. A noite estava tão quente, que eu tinha ligado o ar-condicionado do meu quarto, coisa que raramente fazia.

— Posso dormir com você, mamãe? — sorri levemente — Prometo que é a última vez, por favor.

Não sei ele estava realmente com frio ou usando uma desculpa para dormir ali. Depois de ter aparecido ali no meio da madrugada e em um momento muito inapropriado – graças a Deus foi no inverno e estávamos com o edredom por cima de nós – eu e Matheus tínhamos decidido que ele não dormiria mais com a gente. Sempre que Thiago aparecia, levávamos ele de volta para seu quarto.

— O que você acha de irmos dormir lá no seu quarto, mocinho? Mamãe te acompanha.

Thiago fez um bico fofo e puxei para meu colo, abraçando. Quando deitou a cabeça em meu ombro, senti seu corpo extremamente quente. Talvez ele não estivesse mentindo, tinha passado duas semanas se recuperando de resfriado, provavelmente estava tendo uma recaída.

— Pensando bem, dorme aqui com a mamãe! — o coloquei deitado ao meu lado e peguei o termômetro na gaveta da mesa de cabeceira, colocando-o em seu braço.

Thiago estava tão sonolento, que já tinha caído no sono outra vez. Fiquei acariciando seu cabelo até que o termômetro apitar e arregalei os olhos quando o retirei. Ele estava com quase quarenta graus de febre. Precisei fechar os olhos e respirar fundo para me acalmar. Toda vez que meu filho ficava doente, eu sentia um aperto enorme no peito. Principalmente agora que Helena já não morava aqui e Matheus estava em uma viagem a trabalho.

Liguei a banheira que tinha em meu banheiro e esperei encher apenas o suficiente para que eu pudesse dar um banho rápido em Thiago, depois voltei para o quarto e tirei sua roupa rapidamente. Eu e Matheus não gostávamos de dar remédios a ele, a não ser que fosse extremamente necessário, tentávamos fazer as coisas o mais natural possível e a pediatra já tinha ensinado sobre o choque térmico para febre.

— Está frio, mamãe — choramingou e morri de pena dele, mas era para o seu bem — Por favor, mamãe...

— Só mais um pouquinho, meu amor! É para o seu bem...

— Eu quero o papai — disse chorando e senti um aperto no peito. Eu também queria que Matheus estivesse aqui.

— Eu sei, filho! Já acabamos, está bem?

O enrolei em uma toalha e o levei de volta para minha cama, vestindo seu pijama outra vez. Thiago não demorou a dormir, mas eu passei a noite acordada, verificando sua temperatura, que subia e descia a noite.

Assim que o sol começou a raiar, comecei a arrumar a mochila que eu levava quando saia de casa com ele, porque eu não ficaria tranquila até que a pediatra o examinasse. Depois que deixei tudo pronto e me arrumei, desci para preparar nosso café da manhã e colocar a ração de Bob, o enorme labrador marrom que Matheus havia comprado no último natal, e fui acordá-lo.

Com o coração na mão, dei outro banho frio nele e o vesti com uma roupa confortável. Cada dia que passava, ele se parecia mais com Christopher. Se comparassem uma foto dele criança com Thiago, poderiam dizer que era a mesma pessoa. Até o temperamento e personalidade eram parecidas.

Thiago quase não comeu, o que me deixou ainda mais preocupada porque ele sempre foi esfomeado igual a mim. Prendi ele na cadeirinha e seguimos para o hospital de Savannah. Fiz sua ficha e logo fomos encaminhados para Lucia, que tinha se tornado pediatra dele depois do parto.

— Bom dia, Dulce! Ei, garotão! Como você está? — perguntou ao vê-lo deitado em meu ombro e me indicou a maca. O deixei sentado ali.

— Febre de quase quarenta gruas a noite inteira — expliquei enquanto ela o examinava.

Me dei conta de algo estava errado quando ela disse que precisaria fazer alguns exames e me pediu que aguardasse na sala de esperava enquanto o internavam para isso.

Eu já estava abrindo um buraco no chão de tanto andar de um lado para o outro naquela sala. Lucia havia levado Thiago a mais de quarenta minutos e toda vez que eu pedia alguma informação me diziam que ele estava sendo examinado. Tentei ligar para o Matheus mais de quinze dias, mas ele não atendia, já tinha dois dias que não nos falávamos e isso me deixava ainda mais angustiada.

— Lucia, graças a Deus! — disse ao vê-la se aproximar — O que ele tem?

— Onde está o Matheus? — a forma que ela me olhou fez meu coração parar de bater. Algo estava errado.

— Na Índia, viagem de negócios — Lucia suspirou e me puxou em direção as cadeiras que tinham ali. Nos sentamos e ela me olhou seriamente.

— Eu fiz vários exames porque, sinceramente, espero estar errada, mas os resultados só sairão em algumas horas... Estou suspeitando que ele esteja com hepatite fulminante, por conta dos sintomas que ele vem apresentando nas últimas semanas.

— Hepatite fulminante? — arregalei os olhos — Isso é grave, não é?

— Sim, Dulce! É extremamente grave e fatal na maioria dos casos — minha garganta fechou e senti o mundo inteiro parar de se movimentar ao meu redor.

— Como isso aconteceu?

— Existem muitas causas, Dulce, mas conhecendo a rotina de vocês, eu diria que a causa seria uma rara infecção — meus olhos lacrimejaram, me sentia completamente atordoada — Sei que é difícil o que vai ouvir agora, mas preciso ser sincera com você. Esse é o tipo de hepatite mais grave que existe e é uma doença que acontece de forma rápida. Se os exames forem positivos, não teremos muito tempo para pensar, teremos que agir.

As lágrimas começaram a escorrer por meu rosto. Meu filho podia estar doente, muito doente. Ele era apenas uma criança, isso não podia estar acontecendo. Lucia segurou minha mão e apertou.

— Estou te dizendo isso, para te preparar. Esse hospital aqui é muito bom, mas sei que vocês têm parentes trabalhando no hospital de Nova Iorque e a estrutura de lá é muito melhor se chegar ao ponto de...

— Ao ponto de quê, Lucia? — sussurrei desesperada.

— Dele precisar de um transplante de fígado.

Minha vista escureceu com essa informação. A voz de Lucia soou distante até que eu não ouvisse mais nada.

O valor de uma vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora