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Narrado por Christopher

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Narrado por Christopher

Através de uma janela, vi Christian e o menino conversando e jogando cartas. Eles pareciam bastante entrosados, trocavam sorrisos e conversavam. Precisei me afastar, para que Christian não me visse, a última coisa que eu precisava era levar mais alguns socos.

Fiquei em uma das salas de espera encarando a parede a minha frente. Quando o menino pareceu adormecer, Christian tinha acariciado seu cabelo, beijado sua testa e, mesmo que eu não quisesse sentir nada, senti um aperto no peito. Será que o menino o chamava de pai? Christian costumava fazer viagens misteriosas ao longo desses anos, agora eu tinha certeza de que ele se encontrava com Dulce e o menino. Presenciou momentos que eu deveria presenciar se não tivesse feito tanta merda.

Não consegui dormir depois que Alfonso me disse aquelas coisas e estava sentindo dores não apenas no rosto, como no estômago, já que Christian havia me acertado ali algumas vezes. Decidi vir ao hospital e, por ironia do destino, vi Christian entrando antes de mim. Não sei por que o segui, mas paralisei quando percebi quem ele estava visitando e passei horas observando-o através da janela.

Me dei conta de que a criança não era culpada de nada. Foi minha culpa ter perdido Dulce. Sempre fui o único culpado de tudo. Não fui homem suficiente quando ela precisou de mim.

Vi Christian passar pelo corredor próximo de onde eu estava e me escondi. Percebi que ele estava saindo do hospital, então voltei para o quarto, me esgueirando dos enfermeiros.

O menino era tão parecido comigo quando criança, que parecia estar vendo minha imagem ali. Não tinha como negar que fosse meu filho... Ele era lindo, mas estava com a pele quase amarelada, manchas roxas embaixo dos olhos e os lábios ressecados. Tinha muitos fios e aparelhos ligados ao seu corpo, estava tão frágil que senti um gosto amargo na boca.

— Quem é você? — murmurou sonolento ao abrir os olhos. Me assustei um pouco, não pretendia ser visto por ele.

— Oi... Sou amigo da sua mãe — respondi desconfortável. Não era minha intenção ter ficado tanto tempo ali, olhando-o.

O menino estreitou os olhos. Parecia me analisar de uma forma intensa demais para sua idade.

— Eu lembro de você.

— Mas nunca nos vimos antes, como pode se lembrar de mim?

— Tem uma foto sua no quarto da mamãe. Você, ela, meu padrinho e mais três pessoas.

Forcei um sorriso. A princípio pensei que fosse uma foto de nós dois juntos, mas era apenas uma foto do RBD.

— Você é muito esperto.

— Papai sempre diz isso — arregalei os olhos. Eu sou o pai dele e nunca disse isso antes.

— Seu pai? — ele assentiu.

— Mamãe me contou a alguns meses que eu tenho dois papais. Um de coração e um de sangue. Não conheço o de sangue, mas não ligo muito. Meu papai de coração cuida de mim desde que eu era um bebezinho e eu o amo muito.

Imaginar que Christian pudesse ter um relacionamento de pai e filho com ele tinha doido, mas agora a dor foi ainda maior. Se ele tinha um pai presente, significava que Dulce tinha alguém com ela. Meu peito doeu tanto que senti meu coração ser arrancado.

— O que sua mãe diz sobre o seu pai de sangue? — tinha termo pior que esse?

— Mamãe diz que ele me ama muito, mas não pode me visitar por causa do trabalho — ele olhou em direção a porta antes de me olhar outra vez — Posso te contar um segredo? — concordei rapidamente — Mamãe está mentindo para mim. Papai trabalha muito e sempre tem tempo para mim... Ele viaja, mas sempre volta. Só não digo isso a mamãe porque não quero que fique triste.

Um nó se formou em minha garganta, um embrulho forte em meu estômago. Mesmo eu sendo um monstro, Dulce falou bem de mim para o menino.

Fiquei observando-o lutar contra o sono, mas logo pareceu adormecer outra vez. Esperei mais alguns segundos, querendo ter certeza de que estava dormindo e corri para o banheiro, sentindo um nojo terrível de mim mesmo. Vomitei tudo, até sentir alguém me observando.

O valor de uma vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora