A Queda

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A Queda - Dumbo

Terça surgiu num dia bem mais bonito que o anterior – segundo os padrões, obviamente. Havia nuvens no céu, contudo o sol tinha seu espaço e brilhava todo dourado como uma folha da estação. E Mal percebeu isso pela janela do banheiro.

A menina despertou confusa e dolorida pela posição encolhida em que se encontrava. Seus olhos sensíveis a luz protestaram a claridade que parecia refletir nos azulejos, enquanto sua mente tentava entender o que havia acontecido.

Depois da ed. física ela não havia voltado para o dormitório. Um quase acidente a desestabilizara demais a ponto de fugir de qualquer possível testemunha; tão desestabilizada que dormiu ali, naquelas estranhas condições: em posição fetal logo ao lado da bacia sanitária.

Com muito esforço se levantou. Seus músculos protestavam e sua mente implorava por desacelerar. Precisou se sentar sobre o vaso, tentando se recompor, antes de firmar seu corpo de pé. Por que tão cansada? Por que tão frio, e mesmo assim tão quente? Saiu da cabine sem conseguir responder nenhuma de suas perguntas, então com cuidado abriu a porta e saiu para os corredores desertos daquele ponto distante do colégio, distante das áreas movimentadas.

O refeitório parecia animado, isso apenas pelo falatório altíssimo ouvido de tão longe; então ela não tinha muito tempo. Pensou em jogar sobre si mesma um feitiço de invisibilidade, mas só o pensamento já a exauriu a ponto de se apoiar numa parede para recuperar o fôlego.

Chegou no quarto sem ser vista – com muita sorte e pouco mérito, sabia; isso para não dizer no tempo descomunal que levara para se mover – e surpreendeu-se ao ver que Evie ainda dormia. Algo dentro de si se contorceu ao ver a amiga tão frágil, numa respiração tão profunda. Odiava ver Evie assim. Aproximou-se da cama e pôs seus joelhos no chão, não sem que seu corpo protestasse, e delicadamente beijou a princesa nos lábios.

-Evie, nós nos atrasamos – disse num tom muito macio, absurdamente gentil de uma forma que não era típica; rara, porém já sentida por Evie outras vezes. Os olhos da princesa tremularam ao som da voz tão aveludada e arregalaram-se de uma vez.

-Foi só um susto – disse ela como se ainda estivesse dentro de um sonho, dentro de diversas lembranças ruins e bem recentes – Minha mão escorregou do pano...

-Não importa. Ninguém percebeu – disse Mal cedendo ao jogo, como sempre fazia – Vem. Acho que nós duas precisamos de um banho – Evie também continuava vestida com as roupas do dia anterior; era assustador pensar que as duas muito provavelmente desmaiaram mesmo que por razões distintas.

Mal puxou as botas de Evie, enquanto a princesa puxava a blusa da amiga deixando-a apenas de sutiã. E apesar da situação parecer erótica, não havia nada de sedutor ali. As duas meninas pareciam abatidas demais para joguinhos sensuais. Quando nuas, com os cabelos presos em nós no alto de suas cabeças, seguiram para o banheiro juntas, e juntas tomaram uma ducha quente para relaxar os músculos; pelo menos pareceu relaxar e despertar Evie, não Mal. Naquela manhã, não. A água que atingia aquela pele pálida parecia queimar a menina em frieza, como se ela estivesse passeando nua e febril sob uma geada no inverno. O efeito era de cansaço e dor. A menina se sentia cada vez mais tensa e cansada, em vias de cair inconsciente naquele chão molhado. Mesmo assim, Mal lutava contra si mesma para se mostrar um pilar no qual Evie poderia se escorar como sempre havia sido, e parecia funcionar: Evie parecia mais em paz enquanto a amiga a ensaboava.

Quando limpas, dentes escovados e pele hidratada com algum dos muitos óleos perfumados, saíram da suíte. Evie rapidamente cobriu-se inteira com um vestido longo de mangas compridas num azul lindo e calçou suas botas mais românticas. Mal por outro lado, pegou a primeira calça jeans e a primeira blusa que apareceram em frente aos seus olhos. Calçou os coturnos e soltou os seus cabelos bagunçados mesmo sem se importar se estava bonita ou imponente.

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