Você Fez Isso?

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Você Fez Isso? - Universidade Monstro

Aquela sexta-feira passou estranha e tensa, cheia de procuras e recusas, questionamentos rasos e profundos, proferidos ou não em alta voz. Isso, óbvio, além das provas escolares. O âmbito social estava em desordem... mesmo para os envolvidos, era difícil entender o porquê.

A sempre misteriosa Mal dormira na enfermaria. O burburinho nasceu e morreu ali mesmo devido um olhar rígido atípico da diretora que chegara pela manhã bem cedo para conferir o estado de Carlos De Vil; pelo menos a maior parte dos rumores morreu. A mulher não questionou a presença da adolescente; desde a exaustão de Mal a mulher percebera que a proteção entre os quatro era gigantesca, muito maior do que ela havia imaginado quando chegaram no país. Para a adulta, era terrível tentar cogitar o que aquilo significava onde cresceram.

Junto com a diretora veio Jane, completamente disposta a passar a manhã ali ao lado do colega de classe para que Mal, no mínimo, tomasse banho e se alimentasse. As duas em um mudo acordo de permanecer junto a Carlos até que ele estivesse consciente. Por isso mesmo quando a garota apareceu no refeitório, pegando num primeiro momento apenas uma xícara de café, estava com as roupas que usara no dia anterior, fato comentadíssimo entre os mais atentos, e pelas viciadas em moda.

A diretora não permitiu que nenhuma das duas garotas permanecessem na enfermaria depois do sinal indicando as aulas; porém garantiu as duas que ela mesma permaneceria ao lado do rapaz. Como mãe, não pode deixar do notar o olhar sensível no rosto de sua menina; olhar esse focado em Carlos. Desde a estadia do rapaz em sua casa, desde o breve desabafo de sua Jane, tentava olhar mais para a filha, ainda mais do que já olhava.

De Vil acordou meia hora depois aparentemente calmo, acendendo um cigarro ali mesmo; o beck e o isqueiro estiveram em sua mão, deixados ali por Mal. O garoto não precisou pensar muito para saber que a amiga tivera que deixá-lo, e mesmo assim não o deixara sem amparo. A diretora estranhamente não reclamou. A mulher perguntou como ele estava e com a voz mansa contou que fora encontrado na biblioteca. Forçando a memória, Carlos somente se lembrava dos dois anjos... os mesmos com quem delirara anos atrás. Azul e verde nos olhos mais lindos que já vira. Absolutamente especiais. Obviamente guardou a informação para si para evitar qualquer estadia a mais num manicômio. Garantiu que estava bem, apenas cansado; sequer percebeu o estado de seu braço. Mesmo assim ele seguiu a manhã inteira com o terapeuta e a psiquiatra. As provas que ele perdera seriam remarcadas.

Enquanto os não envolvidos nas entrelinhas diretas do desastre confabulavam sobre o término e a postura patética do rejeitado príncipe Charming, Doug tentava se aproximar de Evie que não fazia mais do que olhá-lo de longe sem corresponder a nenhuma tentativa de contato, mesmo o encontro de olhares fora breve demais todas as poucas vezes em que se esbarraram. Apesar de ele não ter lhe dito nada além da verdade, ela estava sentida. Doera muito; a levara a um lugar sombrio onde ela resistira ir por muito tempo. Não se sentia confortável em dar proximidade ao nerd; não naquele momento. Não era algo que Evie pudesse evitar sentir. O garoto por outro lado, desde que soubera que explodira com a amiga quando ela na verdade já havia terminado o relacionamento, sentia-se absurdamente culpado pelo que e como dissera.

A princesa Audrey já ignorou todos com uma classe infeliz, sem se preocupar em escolher um alvo específico para preterir. Ela chegara e passara pelo dia como realmente intimidava a realeza: postura e olhar altivo. Não andava, nem corria. Quase podia dizer que desfilava, porém toda uma graça a mais lhe conferia um andar intimidante; a beleza doce restringindo-se exclusivamente para com os trabalhadores do internato. Não deu brecha para a maioria das conversas, seguindo focada nos estudos aparentemente. Provas e trabalhos feitos com um capricho muito além do que já se era esperado; o empenho nos serviços extracurriculares, altíssimo. Assim, mais do que distrair sua mente tão cruel, estava quase sempre perto de um adulto... e não sem motivo.

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