Comendo o Pêssego

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Comendo o Pêssego - James e o Pêssego Gigante

Mesmo acordando de madrugada para pegarem a estrada, o grupo chegaria atrasado no colégio. Obviamente o atraso estava já previsto e a única aula perdida seria a primeira. Na volta, Evie abusou da companhia de Carlos e Jay, deitando a cabeça no colo do primeiro e deixando seus pés sobre o último. Já Mal vinha cochilando no ombro no menino-fera; este não conseguiu cochilar na van (assim que acordara encontrara um bilhete simples "Só para que não se esqueça, eu disse 'sim'" aquelas palavras o despertaram mais que café). Absolutamente ninguém falou nada sobre a proximidade dos dois. E, claro, que o fim de semana teria que render uma redação.

O colégio seguiu com a normalidade fervente da proximidade das provas e de um evento social grande. Mal e seus amigos estavam tão atarefados que ignoravam essa sombra de um futuro evento; tinham muito o que estudar, para as provas, para além das provas. A líder estava aparentemente bem mais rigorosa com os amigos do que no bimestre anterior – e nenhum deles queria repetir a experiência traumática que fora certa prova de química.

Os grupos de estudos haviam recomeçado com mais força, e nerds como Doug viravam celebridades. A realeza também era cobiçada já que eram, sim, muito inteligentes, muito capazes, mas não tão acessivos, então aqueles que tinham alguma intimidade abusavam, como Jay fazia com Audrey. Mesmo as aulas de ed. física naquela segunda-feira tornaram-se muito mais flexíveis; era comum ver livros e cadernos abertos e alunos repetindo textos decorados e nenhum dos dois treinadores se queixava sobre.

A única aula que permaneceu a mesma foi Noções Básicas de Natação com o maravilhoso professor Benício. Naquela terça-feira, ele não pegou leve, nem se intimidou com a chegada das provas. Ao contrário, fazia parecer que não existiam avaliações. O que foi perfeito: além de se dedicarem as aulas com normalidade, suas mentes relaxavam do estresse que rodeava o restante do colégio.

-Acho que quando sair daqui, vou pedir pra cozinha aquela vitamina show – declarou Jay sem pretensão, apoiando-se na borda enquanto recuperava o fôlego. A fala foi perfeita sem pretensão de ser.

-Opa! Aí sim, hein – brincou o professor, fazendo-os sorrir. Os quatro então se organizaram, combinando de todos irem pedir o mesmo; chegaram a convidar o professor para participar da refeição juntos e deu certo trabalho fazê-lo aceitar. Foi a primeira refeição que fizeram juntos naquela semana: os quatro; o professor era mero complemento.

Jay e Audrey estavam sempre juntos nas refeições: ela explicando da forma mais simples que podia assuntos que ele não dominava, e aparentemente Jay aprendia melhor comendo. Jane, quando com o namorado, passava todos os possíveis pontos chaves para que ele e sua turma se dessem bem, quando com a própria classe, reunia-se a Lonnie, Ben, e Mal. Chad, Evie e Doug eram um trio curioso, principalmente quando olhados com atenção: era perceptível que, em atitudes simplistas, os dois disputavam a atenção da garota. Carlos raramente era visto fora das aulas, e quando era, estava sempre com diversas folhas brancas e com o cachorro, Dude, ao lado; em uma rara manhã, cedo demais, funcionários viram o rapaz brincando com o cão: jogando bolinha e esperando o animal trazer de volta.

Na quarta, as meninas tinham mais trabalho. Quatro das cinco descendentes ainda faziam parte das aulas extracurriculares de dança e obviamente teriam algum tipo de trabalho para concluir o bimestre. Mesmo sem falar, parecia consenso mesmo para a professora que as intercambistas não participariam das aulas no semestre seguinte. Quanto a Jane, estava mais à vontade, minimamente confiante, o suficiente para não fugir correndo dali.

Foi ao fim desta última aula que se dispersaram; a grande maioria indo estudar mais ou para o refeitório. Mal seguiu para os fundos do colégio com um sorrisinho que se recusava a desaparecer do seu rosto. Como naquela primeira vez, encontrou-o sentado na escada de mármore que dava para a grama ressecada do jardim. Como na primeira vez, sentiu vontade de desenhá-lo ali, lindo sobre a pálida incidência solar. Sem palavras, desceu os degraus e se sentou logo ao seu lado.

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