Seduzentes

O Plano de Ratcliffe

O Plano de Ratcliffe - Pocahontas

Um mandou mensagem para a princesa azul, com qualquer que fossem as palavras para manter a menina o mais distante possível; o outro foi checar a situação no corredor, qualquer aluno ou funcionário errante, ou mesmo a princesa má. A conversa era importante, e tinha que ser sigilosa, principalmente aos ouvidos de Evie. Não fosse pela situação presente, Mal provavelmente teria erguido um feitiço silencioso ao redor do quarto.

Mal ouviu as frases ditas rapidamente pelos dois rapazes. Sentiu a urgência de cada palavra corrida. E não os interrompeu nenhuma vez.

Jay iniciou a contar sobre o incidente na segunda-feira que o levara para a diretoria, mas começou a se estressar a ponto de Carlos fazê-lo se sentar à força numa das poltronas e assumir o relato à cerca da briga entre Chad e Jay por Audrey. De Vil foi bastante enfático, bastante breve, mas ficou claríssimo que ele tinha dúvidas, se não uma nova certeza incômoda a respeito da princesa cor-de-rosa. Os dois ressaltaram, só faltando gritar com os olhos para demonstrar a urgência daquela informação, de que o pulso imobilizado de Audrey era culpa exclusiva de Chad Charming.

Respirando fundo, Jay continuou contando que ainda na segunda, depois do almoço, faltando pouco para a educação física, Evie fora confrontá-lo sobre o ocorrido de maneira completamente distorcida.

-Chad mudou toda a verdade, a manipulou direitinho e ela caiu! – Jay se exaltou – Porra! Ela caiu no próprio jogo! Ela ignorou completamente que confiava em mim há mais tempo. Mal, ela... – e não encontrou as palavras que queria, então foi Carlos quem continuou seguindo com o assunto.

-Durante a aula, aquele show todo... tive certeza de que vocês haviam caído, e depois pareceu tudo parte da apresentação. Houve uma queda, Mal? Houve um erro?

Mal somente assentiu.

Então continuaram relatando que foi um caos encontrá-la para conversar, que reviraram o colégio durante a noite de segunda-feira até desistirem e ela os ignorara na terça. Os três trocaram um forte olhar, sabendo que havia um motivo, mas aquela era uma questão para depois, apesar de se mostrar urgente também.

Continuaram narrando sobre terça-feira, em especial sobre a atividade que ela, Mal, havia perdido. Sobre a escolha de suas vestimentas por outros.

-Já está num nível ridículo o ódio dela por Audrey – insistiu Jay evidentemente angustiado por se ver entre aquelas duas cores: rosa e azul. Mal concordava, embora não demonstrasse qualquer reação.

Encerraram dizendo da fraqueza durante a aula de Benício, mas pelos olhares distantes, eles também não estiveram bem durante aquela aula em especial.

-É isso, Mal. Precisamos fazer alguma coisa. Não podemos deixar a situação como está – falou Carlos.

A preocupação por Evie vinha de quase todos os lados. A ausência nas refeições, a falta de alimentação, somado ao fato de a linda menina constantemente estar melancólica, quase apática, perdendo seu belo brilho, tanto interior quanto exterior, era óbvio e sequer foi algo falado.

A mente de Mal processava as informações com gosto, apesar de que com algum cansaço. As informações dadas iam além das palavras, além dos tons e enfatizações. Vinham nos olhares, nas posturas, no mover dos dedos, no balançar de pés.

Os relatos a respeito das atitudes de Chad, mais do que inquietantes, causavam em Mal um interesse forte, uma certeza de que ela acertara em cada um dos movimentos que havia feito até então. E que acertaria todos os que ela planejava.

-E então, Mal?

-Então o que? – revidou atenta a eles daquele jeito odiável de quem não daria as respostas facilmente, muito menos prontas; aquele jeito odiável de quem os faria buscar por elas, merecê-las.