Se Preparem

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Se preparem - O Rei Leão

Não importava se era madrugada, se faltavam poucos minutos para o glorioso sol nascer e matar a noite escura e tenebrosa. Mal pulou a janela de seu quarto e escalou pelas paredes do castelo até se ver livre da residência em que vivia. Jay ensinara os melhores meios de se locomover pelas paredes sem chamar muita atenção quando eles ainda estavam nas bases da infância, mas ela nunca esqueceu. Era um truque bastante útil. E em troca ela roubou para ele um bracelete lindíssimo – para que ele "presenteasse" uma garota num aniversário. Mal sabia que a joia na verdade fazia parte de alguma cruel pegadinha e que acabaria indo parar nas mãos de Jafar.

Mal andava pelas ruas graciosamente, em passos leves e inaudíveis. Era praticamente a dona da Ilha dos Perdidos. Se em Auradon havia um príncipe herdeiro, ela era a herdeira da ilha. Não apenas por ser filha da maior vilã de todos os tempos, mas por ter algum mérito próprio; pelo menos entre os mais jovens: ela era a líder, seu grupo era o melhor. Não existia perigo algum naquele horário; não para ela.

Chegou num beco de passagem estreita, pulou uma cerca baixa e saiu numa rua longa de paredes perfeitamente grafitadas. Os grafites contavam histórias, todas contadas pelo ponto de vista dos vilões e não dos mocinhos. Os maiores desenhos sempre eram os grandes vilões em seu auge, em seus maiores feitos. Todos os grafites feitos por ela; alguns inclusive pagavam para que ela os desenhasse – vilões pequenos com certeza. A Rua da História, diziam alguns. O ponto é que aquela rua era dela; um presentinho de Malévola – uma desculpa apenas para manter a filha longe de si por tempo o suficiente para não matá-la.

Então a pequena vilã levantara-se cedo apenas para pichar muros? Não, claro que não.

Mal agitou a latinha e parou em frente ao desenho de Cruella De Vil para retocar as listras de seu impecável casaco de pele.

A jovem levantara-se apenas por conta de um pesadelo. Fazia algumas semanas que isso vinha acontecendo. Jardins floridos, palácios enormes, lagos cristalinos. A princípio via flashes, depois começou a ter visões mais claras, como se ela própria estivesse caminhando pela grama verde ou pelo chão de mármore. E um menino. Talvez tivesse sua idade, mas era difícil saber: sua imagem sempre aparecia embasada, desfocada. Mal tinha o impulso de se aproximar, pois ele era a única pessoa além dela a estar ali. E o impulso de tocá-lo era tão forte e intenso que ela se forçava a acordar antes mesmo de distinguir a cor de seus olhos ou cabelos.

Ela estava sonhando com Auradon.

E se alguém descobrisse – sua mãe, principalmente – ela seria esfolada num ponto onde muitos poderiam assistir até que caísse desmaiada no asfalto cru só para ser acordada com água salgada ou vinagre. Afinal, o sonho é um desejo d'alma.

Maldita Cinderela! Por causa dela Mal estava se culpando por algo que ela sabia não poder controlar. E não poderia sequer confessar aos seus amigos sem correr o enorme risco de ser linchada.

Não. Ela sempre interrompia o sonho e recorria aos seus desenhos para se acalmar, mas até no papel começaram a surgir imagens de heróis e seu mundinho perfeito. Não sabia o que aquilo significava, se é que significava alguma coisa. Mas era melhor esquecer e esconder. Seu lugar era ali, naquela ilha de becos imundos e ruas quentes, de casas geladas e pessoas nojentas.

Não importava o quão perfeito estava o desenho de Úrsula; ela estava lá retocando seus tentáculos. Alguma coisa dentro de Mal – um sentimento, intuição – gritava dizendo que algo daria muito errado e que isso teria início em Auradon.

[...]

Estavam os quatro melhores amigos reunidos; a nova elite da Ilha, como diziam alguns. Estavam as gargalhadas depois de Mal ter roubado o doce de uma criancinha, depois de zoarem pelas ruas mais movimentadas. Mal se sentou sobre um barril observando Evie seduzir garotos e homens, enquanto Jay roubava tudo de valor que possuíam. Ninguém mandou se atirarei ao chão com a visão daquelas lindas pernas tão bem expostas; claro que Evie não se importava se alguns viam sua calcinha ou não. Faz parte do charme, dizia ela, mas era sempre muito seletiva sobre quem realmente podia vê-la.

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