Apenas Faça

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Apenas Faça - Atlantis: O Reino Perdido

Havia um cômodo escondido em sua casa. Sua Jane sequer tinha conhecimento daquele lugar e nem teria como saber. A mulher havia fechado aquele cômodo antes mesmo do nascimento da menina, além de que magia o ocultava dos olhos de todos, incluindo os dela própria. Uma magia forte o suficiente para "enganá-la" a maior parte do tempo.

Era uma espécie de sótão com paredes cruas em cimento, sem maior acabamento, e janelas grandes para permitir a passagem de luz fosse do sol ou da lua. As paredes eram revestidas de prateleiras e estantes, continham vasos cheios das mais variadas plantas, desde as mais conhecidas as mais raras, e potes de variados tamanhos cheios de substâncias líquidas ou sólidas, umas de fácil dedução como cravos, outros que só se era possível imaginar o conteúdo para quem não sabia do que se tratava como um líquido consistente e perolado. Numa parede, cercada pelas prateleiras, uma grande lareira com espaço para um grande caldeirão.

No centro do cômodo havia uma mesa/ilha em pedra bruta. Caldeirões de variados tamanhos, médios e pequenos. Havia alguns instrumentos de corte, e um livro encadernado em couro antigo de dragão fechado e cheio de pó. Um exemplar raro, mas naquele momento desnecessário; a mulher conhecia aquela poção muito bem mesmo tantos anos depois. Bem demais.

A Fada Madrinha tremia só de estar naquele cômodo. Tinha péssimas recordações. Péssimas. Abraçou a si mesma tentando conter as lágrimas que ameaçavam cair, tentando fazer cessar o tremor de seu corpo.

A poção preparada para Mal era complexa, absolutamente rara e preparada num momento em nada propício, por isso mesmo sua concentração e empenho foram dobrados e a muito custo emocional da fada boa. Estava nos últimos minutos ao fogo baixo de palo santo sobre a ilha central; o aroma da madeira queimada em brasa invadia seus sentidos como um perfeito incenso, e mesmo assim não produzia na mulher a calma que precisava. Ao contrário. Olhava para aquela mistura, para aquela poção em descanso e...

Seguiu em direção a uma das janelas, dando as costas a poção. A janela com a visão perfeita daquele jardim tão querido por sua Jane. A imagem da filha a fez chorar. Sua menina, sua doce menina rodando por aquele jardim, seus braços abertos, seu rostinho inocente voltado para o céu... Então as lembranças de quando frequentava o cômodo onde estava...

Limpou as lágrimas depressa e com um ímpeto quase exagerado, quando o cronômetro alertou que o tempo ao fogo já havia acabado. E qualquer errinho naquela poção poderia sair como um tiro pela culatra.

Volte ao presente. Uma criança precisa de você. Continue a poção!

Tirou o caldeirão de sobre a brasa e olhou para o seu relógio de pulso. O susto foi imediato. Já estava naquele lugar havia horas, quase três horas. Precisava se concentrar se esperava voltar para o colégio tempo.



Queda. Mal estava em queda. Segundos, minutos, horas, não fazia diferença. Sentia-os em milênios. Milênios cruéis e intermináveis.

E a queda em nada era gentil. Movendo-se em favor da gravidade, desafiando a velocidade do cortante ar que fazia jus a frieza da estação que se aproximava. O frio parecia cortá-la, ou seria isso efeito da velocidade com a qual desabava por quilômetros e mais quilômetros na escuridão interminável?

Via o breu pesado como se construído em camadas e mais camadas de poluição. Mas sua visão fora trabalhada para o escuro, para a ausência de luz, total ou parcial. Conseguia distinguir dois picos pontudos, talvez montanhas distantes... Como se essa informação pudesse ajudá-la de alguma forma, pensou com desgosto.

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