Salve os Proscritos

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Olá amáveis e seduzentes leitores!
Esta é minha primeira fanfic postada neste site, então espero que sejam receptivos e compreensivos comigo.

Vamos especificar que:
* Cada título de um capítulo será uma música de um filme animado da Disney (uma brincadeira minha); as vezes um trechinho da música pode aparecer no texto, ou como música ou como fala/pensamento de algum personagem - sempre irei especificar o filme (como abaixo).
* O roteiro não é o mesmo do filme; embora haja semelhanças, haverá alterações.

Divirtam-se:


Salve os Proscritos - O Corcunda de Notre-Dame

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Salve os Proscritos - O Corcunda de Notre-Dame

Benjamin tentou voltar ao sonho, mas não conseguiu. Sua cama era confortável demais, o travesseiro macio demais. O despertador também gritava, ordenando que ele se levantasse. Sentou-se com alguma dificuldade, rejeitando o dia lindo do lado de fora com uma careta. As cortinas brancas e suaves movendo-se delicadamente com a brisa irritaram-no.

Perfeito demais... Errado demais...

Estava razoavelmente irritado tinha alguns dias, mas nunca fora visto por ninguém – uma única vez apenas, por seu pai. Ben dissera se tratar de ansiedade devido a sua primeira grande proclamação, seu primeiro grande ato autômato como príncipe herdeiro e futuro rei. Funcionara a ponto de o pai rir, apertar seu ombro e prometer não contar nada para sua mãe.

Sim, tinha alguma verdade nas palavras dele, mesmo assim... Um aparelho ao lado de sua cama incomodou-o de tal forma que rangeu os dentes.

-Bom dia, alteza – saldou sua secretária eletrônica.

Controle-se, garoto! Ordenou a si mesmo.

-Bom dia – disse com alguma dificuldade, a garganta seca, os punhos fechados no travesseiro branco – Quais são os compromissos de hoje?

-Passeio pelos jardins reais com a princesa Audrey e a primeira prova dos trajes para a cerimônia de coroação.

-Nada pela manhã?

-Não a princípio, senhor.

Desligou o aparelho razoavelmente mais feliz.

Ainda tinha tempo para digerir o sonho; voltou a deitar-se. Os travesseiros fofos demais pareciam abraçá-lo, sufocando-o. Jogou-os no chão num inesperado rompante de raiva, acertando e derrubando alguns objetos; era como se a fera surgisse de sob a pele. Parecia uma raiva sem sentido, mas havia, sim, fundamento. Esgoto a céu aberto, ruas abafadas, construções precárias. Fazia algumas semanas desde que sua alteza real começara a sonhar com a Ilha dos Perdidos. O local onde os vilões permaneciam confinados longe dos inocentes...

Tão injusto! Havia novas vidas inocentes lá. Da mesma forma que havia novos pequenos vilões em Auradon. A diferença era que esses bandidos eram mandados para a Ilha enquanto os filhos dos grandes vilões permaneciam lá, encarcerados sem um motivo plausível, culpados por serem apenas filhos de seus pais.

Nos sonhos ele estava lá, nas ruas extremamente abafadas, pisando no cimentado malfeito e empoeirado. A princípio eram apenas flashes, fotos passadas rápido demais. Depois começou sentir que estava lá, mesmo sem estar. Passou por muros cinza e então por um rompante de cores: vida num muro bem grafitado, um desenho grandioso exaltando os vilões, mesmo assim lindo; morte e outros desejos absurdos expressos em pichações medíocres não longe dali. Arte. Havia arte naquela ilha. E desde criança ele fora educado a saber que qualquer manifestação de artes – plásticas ou cênicas – era uma forma de expressar sentimentos. E não diziam eles que vilões não tinham sentimentos?

E uma menina. Não sabia nada de sua aparência, sempre desfocada, pelo menos nos primeiros sonhos. Mas ela era o único ser humano ali. A vontade de se aproximar, de perguntar por que as coisas funcionavam daquela forma tão precária... Um desejo tão grande e urgente de tirá-la dali.

Então visualizara finalmente os olhos dela; somente os olhos dela: intensos, maliciosos e verdes. Muito verdes.

Aquela aparição, aquela linda cor, fora o rompante.

Logo na primeira aparição da menina, Ben começou a escrever a proclamação que o colocaria em definitivo na corte real. Algo que mostrasse que ele faria algo bom. O povo esperava algo grandioso: a construção de um hospital, um monumento em favor dos descendentes. Colocou no papel usando sua mão real para escrever – sem se dar ao luxo de chamar um escriba ou usar o computador. Assim sentia que estava realmente fazendo aquilo. Terminou a proclamação apenas dias depois.

Benjamin levantou-se com a mente agitada, pensando como contaria aos pais o que fizera, se dava maiores detalhes ou simplesmente cagava para a opinião deles... Não importava, decidiu. Realmente não importava. Ele só precisava dar uma chance para os demais descendentes. Para ela. Precisava tirá-la de lá... Claro que, o pai não poderia fazer muito, porque, mesmo sem contar, a ordem já havia sido dada. Os vilões já deveriam estar preparando seus filhos, mesmo a transferência sendo em algumas semanas.

O sonho mais recente, porém, o de agora, fora muito mais intenso. Tão intenso que ele estava lutando contra todos os genes herdados do pai para controlar seu péssimo humor.

Vira a menina, com seus longos cabelos roxos, apoiada numa sacada, a noite sendo testemunha de sua melancolia. Ela tinha um caderno apoiado na mureta. Ben conseguia vê-la desenhar com agilidade, de forma espontânea, como se estivesse fazendo algo extremamente básico, como respirar; porém ela fazia com urgência, como se estivesse sem fôlego, como se fosse esganada. Chegando mais perto, ela murmurava inconscientemente num ritmo suavemente doloroso:

-Salve os proscritos, pois não tem pão. Estão aflitos, não há compaixão. Salve o meu povo...

A voz baixa demais, quase não saía...

Ela desenhava a cigana Esmeralda na bela Notre Dame.

Antes de acordar, Ben viu-a esconder o caderno num corte no colchão, jogar os lençóis para baixo e então pular a sacada; não sem antes deixar em seu rosto uma clara agonia sem um motivo aparente.

O coração de Ben se partiu com o real significado daquelas palavras, daquela oração em forma de canção. Mesmo inconscientemente, ela estava pedindo por socorro. Por ela e pelos demais.

-Salve o meu povo, os pobres tão sós... – ele murmurou em seu quarto, tentando acalmar a raiva descontrolada que borbulhava em seu peito, procurando uma camisa adequada para o restante do dia – Eu peço a deus que olhe por nós... Salve os proscritos...

Não se preocupem, pensou olhando para a janela, procurando a Ilha com os olhos, mesmo sabendo que dali não veria nada, vou lhes dar uma chance.

Em seu íntimo, Benjamin Florian tentava se convencer que sua proclamação não tinha relação alguma com a forma com a qual seu coração batia quando pensava naquela jovem residente da Ilha dos Perdidos. Estava agindo como um bom governante, apenas. Não era nada pessoal.

Mesmo assim, a imagem daqueles olhos tão intensos e magoados perseguiu-no no restante do dia... E deram força quando, finalmente, falou com seus pais.

-Não é pessoal – disse a si mesmo durante a noite – Não é...

Mesmo assim, esperava sonhar com ela de novo.

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