Seduzentes

A Coisa Mais Temida

A Coisa Mais Temida - A Espada Era a Lei

Joseph entrou cedo no ateliê de arte, como de costume; era um homem dado as madrugadas, mas aquele dia amanheceu frio o suficiente para enrolar em sua cama o máximo possível. Mesmo assim ainda era cedo para estar ali. Os alunos ainda estavam montando o desjejum; teria um tempo sozinho para apreciar o lugar vazio e em ordem antes de vê-lo ser consumido pelo caos criativo que ele tanto amava.

Tal foi sua surpresa ao encontrá-la ali, adormecida sobre o braço, o pincel ainda em mãos e uma tela belíssima e ainda fresca. Suas mãos branquinhas estavam manchadas, multicolores. Seus longos cabelos espalhados pela mesa grande e central.

Aquela imagem, a imagem dos raios fracos do sol outonal adentrando exatamente sobre a moça adormecida, como um holofote, brilhou nos grandes olhos cinzentos do professor. Era uma excelente inspiração para uma pintura. Uma imagem que deveria ser registrada.

Chamou-a. Nada. Tentou elevar o tom de voz; chegou a tocá-la. Nada.

Sorriu. Estava feliz por ela não ter acordado. Gostaria que aquela imagem fosse vista por outra pessoa. Ao sair, fechou a porta.

A mulher dormira tarde e se levantara cedo, muito mais do que de costume. Ficara muito tempo conversando com a filha; num monólogo, seria melhor dizer. A filha quase não falara mesmo em vista da insistência da mãe. Jane sabia algo. Sabia algo sobre o que ela e os demais viram no salão de festa do colégio, durante a atividade de inclusão e intimidade estabelecida pelo professor de teatro. Jane parecia ser a única a par da situação real entre os jovens Ben e Mal. Mesmo assim nada dissera.

Eles eram importantes demais... A situação estava chegando num momento crítico. Ela precisava saber o que fazer para poder agir com segurança. Qualquer movimento errado que ela fizesse, principalmente com Mal, acarretaria numa gigantesca avalanche.

Agora, em sua sala, na direção do colégio, ela recebia o professor de fotografia, Caleb, para discutir sobre um trabalho que ele passara não muito tempo atrás: o trabalho da dupla Doug e Evie. Aparentemente era importante o suficiente para que precisassem ser discretos sobre o tema, por isso o horário mais cedo. Os dois estavam sentados frente a frente com xícaras de porcelana a meio caminho dos lábios quando a porta foi suavemente agredida.

-Entre, por favor – disse a mulher surpresa com a interrupção de um assunto que ainda mal havia sido iniciado – Professor Joseph, que surpresa. O que o traz aqui nesta hora da manhã? Se bem me lembro é o horário em que mais gosta de pintar...

-Perdoe-me por interromper a conversa, Caleb – disse ao outro professor duas décadas mais jovem – Mas há algo que eu gostaria que a senhora testemunhasse no ateliê. Os dois se me permitirem a ousadia. Caleb está com sua câmera?

Ao contrário do que se pode imaginar, os dois professores de disciplinas com a mesma finalidade, uma mais clássica e a outra tão moderna, se davam muitíssimo bem. Joseph com seu ar mais lunático e Caleb de uma sobriedade a mais. Ambos sempre preferiam ser tratados pelo primeiro nome, com o mínimo de formalidade possível.

-Sempre a levo comigo – mostrou o objeto.

-Ótimo. Sentirá vontade de usá-la. Vamos?

-Agora? – questionou a mulher não entendendo bem a situação.

-Garanto que gostará de ver.

-Muito bem então – disse se levantando e caminhando lado a lado com os dois professores pelos corredores discretamente movimentado por funcionários administrativos. Os alunos ainda estavam do outro lado do colégio, ainda em período de encherem suas barrigas – Joseph, não acha que deveria...