Frustração de Malévola

188 11 2
                                    

Frustração de Malévola - A Bela Adormecida

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Frustração de Malévola - A Bela Adormecida

Eram poucos os diplomatas e realezas no salão, mesmo na ala mais fechada e fugida da primeira noite invernal. A maioria já havia se retirado para dormir muito tempo antes. Naquelas horas da madrugada, somente restavam aqueles com espírito jovem.

Muitos dançavam. Ainda no mesmo frenesi do início da festa. Nada fardas; somente gravatas frouxas e vestidos curtos. Um enorme borrão em constante movimento, como tinta e pincel dançando em tela abstrata. Uma tinta cheia de brilho e pedrarias.

Havia música, óbvio. Mero zumbido. Um som de fundo, completamente abafado como se engolido por céu e terra. Ainda dançavam. Todos eles. Parecia fazer sentido já que a sincronia entre o conjunto prevalecia. Não que fizesse sentido...para ela.

O aroma no ar era uma mistura de diversas colônias, suor e noite fria. Magia também se ela havia compreendido o que tornara seu ar diferenciado naquele dia. Também parecia grudar em sua língua, tão sutil quanto um sonho em vias de desvanecer.

Mal sentiu que estava além daquela realidade. Em outro plano talvez. Não naquele castelo. Não com amigos e colegas em uma festa de luxo.

Poderia ser o consumo de álcool, mas ela não acreditava nisso; aos jovens somente champanhe era oferecido. Também poderia ser cansaço. Mas tudo parecia fora dos eixos. Sua órbita mais angulosa.

Talvez ela estivesse além da própria pele.

Ainda assim, estava lúcida. Plenamente consciente de algo... algo que precisava seguir.

Seu corpo girou muito fácil desviando-se de pessoas e toques, e mais danças divertidas e sensuais. Sabia que os conhecia, sabia que poderia reconhecê-los, mas não o fez. Não tentou ou não conseguiu, ela não sabia. Não importava naquele momento. Passou por eles sem saber exatamente quem eram.

Mesmo sem magia, pelo menos não dela própria, mesmo parecendo impossível, aquela menina tão chamativa desapareceu entre aqueles que ainda restavam. Ela não tinha nenhum outro objetivo, desejo ou vontade que não fosse sair daquela pista, daquele salão.

E assim o fez.

Mal deslizou para dentro do palácio em passos lentos e firmes de quem sabia para onde ia, apesar de não saber; o salto no mármore completamente silencioso. Seguia algo, porém. Uma angústia, uma curiosidade que pulsava na pele e fazia os olhos arderem, a boca secar.

Os corredores passaram a ser mais escuros, até não haver luz que não fosse proveniente das estrelas que entregavam seu brilho pelas janelas altas. Corredor longo e resguardado por armaduras de ferro e aço escovado. Longo e sem fim.

Então imerso em breu.

Os passos da moça diminuíram.

As estrelas sumiram pelo nevoeiro gelado que invadia as paredes do palácio. O inverno tomando forma, a noite assumindo seu aspecto denso e perturbador.

O arrepio foi imediato e não pelo inverno, não pelas baixas temperaturas em contato com seu corpo quente. Não. Era antecipação. Seu corpo já havia entendido o que acontecia, o que procurava.

Alarmes distantes disparavam em si mesma, distantes e implorativos. Dê meia volta. Fuja. Corra. Saia daí. Seu coração disparava contra o peito pedindo por uma fuga que não teria. O gosto de terra forte em sua língua despertando lembranças e pesadelos.

A seda de seu vestido grudou como uma segunda pele; a sensação de estar nua. Suas madeixas lhe agarravam os braços como correntes; a sensação de estar encurralada.

A névoa da noite rodopiou ali na altura dos olhos dela. Condensou-se. E brilhou. Verde hipnótico, joia infernal de um cetro muito conhecido... Assim como os olhos da figura ainda imersa em sombras.

Alta. Chifres. Rosto anguloso.

O contorno de Malévola. Apenas o contorno. Como se fosse um delírio, não real.

A rainha de todo o mal.

Aquela que fora traída pela filha.

Mal não conseguiu parar seus passos, dar meia volta e fugir. Não conseguiu se beliscar para acordar do pesadelo. Não conseguiu gritar por quem quer que fosse. Como se fosse adiantar. Como se houvesse outra opção que não seguir em frente.

Precisava seguir em frente. Precisava estar perto dela.

O contrário do sonho.

Continuou andando, enfeitiçada. Não importava em que sentido.

Parou a menos de um metro da mãe.

Frente a frente. Como iguais. Um reflexo não em lâminas espelhadas, mas em sombras. Passado e futuro em um encontro indesejado.

Poderia ser apenas uma ilusão, não fosse a voz baixa, rouca e fria, completamente sem emoções ecoar lentamente – não apenas no corredor, mas no sangue da menina – ameaça de algo mais, muito mais.

-Não pense que este é o fim da história.

Era uma promessa.

Não mesmo.

SeduzentesOnde histórias criam vida. Descubra agora