Decisão - O Caldeirão Mágico
O dormitório masculino estava em um silêncio tenso e ansioso depois de um suave fechar de portas. Vamos falar. Expectativa e medo rondavam os quatro jovens como gatinhos brincalhões prendendo as pernas dos donos com fios de lã, arteiros e maldosos, esperando ver quem cairia primeiro e quem se manteria paralisado.
A noite do lado de fora era escura. Sem luar, sem estrelas. O mundo e o tempo pareciam estagnados, em espera, pesados em alerta pelo que se iniciaria e encerraria ali. Do lado de dentro, três sentiam que prendiam a respiração.
A filha de Malévola, escorada à porta trancada, passeava o olhar esmeraldino entre seus protegidos, entre o passado e futuro e diversas possibilidades de escolhas. As mãos estavam às costas segurando o envelope com a ponta dos dedos.
-Já sei o que quero – começou a líder com a voz mansa e lenta – Já sei o que vocês querem. Mas nós nunca verbalizamos. Não tivemos uma conversa às claras. Prós e contras e o que mais precisarem dizer. Vamos falar agora.
Jay, sentado no chão, abraçou os joelhos. Evie, em uma das camas, forçou o colchão para se sentir estável. Carlos fechou os olhos, os cotovelos apoiados na mesa redonda. Os envelopes, todos fechados, se encontravam ao alcance de suas mãos. Os documentos ali contidos eram uma presença estranha e revolucionária, um soco e um afago, perto o suficiente para que sentissem seu calor, mas sem se queimarem.
-Nós recebemos uma ordem antes de deixarmos a Ilha – continuou a menina; a fala lenta e rouca – Roubar a varinha e levá-la até Malévola. O que pensam sobre executá-la?
O silêncio durou exatos quatro segundos, um para cada jovem atormentado por aquela missão e tudo o que ela desencadearia sendo ou não cumprida.
-Não é difícil roubar a varinha do museu – declarou Carlos por fim; a voz neutra e sem emoções – Consigo desativar todas as proteções que a envolvem. Câmeras e alarmes são simples para mim.
-Já conhecemos o caminho até o museu e até a ala da varinha, e ainda temos o espelho mágico. Podemos pedir por rotas de fuga, por exemplo. Ver onde existe ou não movimento... – Evie colaborou.
-E Mal agora domina muito sua magia para qualquer emergência – concluiu Jay – Poderíamos contar tanto com ela quanto com a varinha para entrar na Ilha e terminar a tarefa.
-Tem ainda a expectativa pela coroação. Estarão todos distraídos, não vão notar nada se não quisermos que notem – Carlos lembrou, então finalizou em um murmúrio decadente – É quase fácil demais.
O silêncio era opressivo. Nenhum dos três ergueu o olhar, nenhum dos três ousou buscar olhares. Suas mentes já viam e lutavam contra todas as imagens de preparação para aquele ato. Vestirem suas roupas de couro escuro para se misturarem à noite; para lembrarem de suas origens. Seguirem em passos soturnos em direção ao museu. Desarmar sistemas, câmeras. Entradas e fugas furtivas.
Suas mentes, porém, não conseguiam, se recusavam, a continuar tecendo imagens assim que passavam de volta para o interior da Barreira. Tudo a partir dali era violento de maneiras que não saberiam descrever. Não se sentiam prontos para enfrentar qualquer decisão e temiam o que veriam nos amigos.
-É quase fácil... – concordou Evie em um sussurro – Apesar de toda a confusão que causaria depois.
Porque mesmo que chegassem ao interior da Barreira, à Ilha dos Perdidos, sem serem vistos, sem o roubo delatado, existiriam consequências caóticas rondando o feito. Porque não era como se a história terminasse no momento em que a varinha chegasse as mãos de Malévola.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Seduzentes
FanfictionExistem formas diferentes de ser mau. A mais interessante de todas elas é arte da manipulação, sedução... Em todos os sentidos da palavra. "Para que colocar fogo no circo? - pensava Mal - Coloque um isqueiro na mão do macaco..." Claro, é uma delíci...