Acampamento

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Acampamento - Tarzan 

Enquanto os professores e a diretora se encarregavam de conversar com Mal – um reflexo roxo ao longe – prepará-la para a volta forçada, os demais alunos ficaram livres do olhar dos responsáveis. As conversas aumentaram, alguns risos, alguns cochichos. Um pequeno grupinho dançava ao som baixo de um celular aproveitando descaradamente da desgraça da menina.

-Malzinha sempre surpreendendo – resmungou Carlos, entediado, quase invejoso do que acontecera com a amiga; ele também teria confessado qualquer pegadinha estúpida para ir embora daquela desgraça de acampamento estudantil – Droga! Eu preciso muito de um trago – levantou-se, quase desesperado por alucinógenos.

-Pelo menos ela conseguiu se livrar dessa farsa – Evie apoiou-se sobre os joelhos igualmente invejando a rapidez de Mal em se dar bem; dobrou seu casaco desistindo de vesti-lo – Não vai precisar dormir nesse colchonete fino...

-Como se você nunca tivesse dormido num chão frio – resmungou Jay, cortando um discurso longo sobre as desvantagens de estarem ali – Mas isso está um porre mesmo. Precisamos agitar isso aqui antes que eu surte e surre alguém.

-Por favor – Jay assustou-se ao ouvir a voz de Lonnie incentivando-o, quase implorando por uma agressão pública – Todo ano é a mesma coisa. Daqui a três minutos vão nos mandar para as barracas para dormir. Isso é, se lembrarem de olhar a hora antes de despacharem a Mal. Se for surrar alguém faça na vista de todos, assim nos divertimos um pouquinho antes de sermos forçados a nos revirar num colchonete até dormir.

O sorriso de Jay era autenticamente surpreso. Estranhamente, assim ele ficava muito mais sexy. Lonnie era uma caixinha de surpresas. Alguém que entre no jogo, alguém que diga não! A vontade de jogá-la no chão e atormentá-la – com palavras e com seu corpo – era grande.

Carlos havia desistido do cigarro no meio do caminho; ouvira as palavras de Lonnie. Parado, olhando atentamente para o que estava acontecendo, o movimento dos professores se afastando, as expressões entediadas dos alunos, o grupinho dançando... Ah, mas a solução era tão simples...

-Lonnie – chamou De Vil com um sorriso crescente – Reúna os alunos; pega os representantes, os mais animados, os líderes. Só a galera de atitude. Uns três de cada sala. Traga-os aqui.

Nenhum dos três viu Mal atravessando a trilha com um funcionário/motorista em seu encalço. Nenhum dos três notou o olhar angustiado do príncipe Ben nas costas da vilã de cabelos roxos.

-O que está pensando, Carlos? – o sorriso era de Evie; ela já sabia que havia uma alternativa para aquela noite enfadonha.

-Só junta a galera. Eu tenho um plano para animar isso aqui. Se concordarem, espalhamos a ideia.

Lonnie saiu rapidamente, sem olhar para trás.

[...]

-Isso vai dar certo? – o sussurro veio de Jane.

-Claro... Isso é, se você fizer a sua parte – respondeu Carlos sem sequer olhar para ela; aquela falta de contato machucou-a como uma alfinetada certeira num machucado exposto.

-Não sei se consigo fazer isso, Carlos – sua voz sumiu com o vento da noite, mas ele havia ouvido perfeitamente.

O vilão finalmente olhou-a. Jane tinha os olhos arregalados, as mãos trêmulas... Carlos suspirou internamente. A menina mais do que nunca parecia inocente aos seus olhos. Ele realmente estava pedindo muito de uma inocente.

-Você não vai prejudicá-la, Jane – disse com a voz mansinha, doce como mel – Só vai ajudá-la a dormir.

O problema nem era mais se livrarem dos adultos. Jane sabia o que aquele gesto desencadearia. Não sabia se estava pronta, mentalmente preparada para lidar com a alternativa oferecida pelos descendentes dos vilões. Sabia que emocionalmente ela estava um caos e não lidaria com nada.

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