Eu Conheço Esta História

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Eu Conheço Esta História - A Princesa e o Sapo

O sinal do almoço soava estranho, quase agressivo aos ouvidos da menina; como um carrasco pronto para levá-la até sua próxima tortura. Evie estava sensível, sentia-se mal desde o café da manhã, então a mera ideia de seguir para o refeitório tão cheio de cheiros pesados a enjoava.

Não, ela não seguiu para o refeitório, nem para um dos banheiros provavelmente cheios de fofocas e conversas que não lhe interessavam nem diziam respeito. Decidiu subir para o dormitório sob a desculpa de adiantar algumas lições e, principalmente, se olhar no espelho. Chegando lá, confortavelmente sozinha, passou reto pela penteadeira, evitando olhá-la, e sentou-se junto a escrivaninha adiantando os deveres de química e biologia, concentrando-se o máximo possível nas tarefas. Quando estava por acabar, já nas últimas questões, sua mente se dispersou cedendo as paranoias que rondavam seus pensamentos desde o fim de sexta-feira.

A lembrança da garotinha do fim de semana, Lis, trazia à tona a sua saudade de uma garotinha que ficara na Ilha. Além disso, numa das conversas com a mocinha, Evie ficara sabendo que o principal modelo fashion da garota e de esmagadora maioria do reino de Auradon era a princesa Audrey. Ela está sempre tão impecável! Tão romântica, mas tão segura de si! As palavras invadiram seus ouvidos mais uma vez como se Lis estivesse logo ao seu lado defendendo com unhas e dentes a beleza e elegância da princesinha cor-de-rosa que Evie insistia em odiar; o pior era não ter argumentos contra Audrey: ela realmente aparecia sempre impecável.

Você é a garota mais linda de toda a Ilha dos Perdidos, dissera Dizzy uma vez, mas aquelas eram palavras repetidas e repetidas por diversas vozes dentro da prisão. Era sua marca, sua única marca. Era sua individualidade, a beleza. Que fosse verdade, que fosse dela toda a beleza daquela prisão, ali em liberdade, Evie não sentia que era o bastante. Nunca se sentiu o bastante desde que chegara.

Evie se levantou.

Ela não era cega. Vira claramente como Chad olhara para a princesa ao chegar no café da manhã. E, porra! A princesa era linda. Linda demais. O corpo esbelto, curvilíneo na medida certa, com uma cinturinha perfeita, ainda mais esbelta do que meses atrás quando eles haviam chegado. E estava tão bem vestida que chegava a doer a forma como até mesmo Jay olhava encantado para ela que sorria em resposta.

Evie parou em frente ao espelho.

Ela não pode levar muitas roupas para a casa de seu professor no fim de semana, então não tinha muitas opções do que vestir para aquela segunda-feira. Seu vestido de mangas longas não parecia nada bonito, muito menos charmoso. Sua meia não parecia um complemento tão bom assim, nem seus sapatos de saltos tão finos; e era um milagre ela permanecer de pé sobre eles.

Por que seu corpo continuava parecendo uma massa disforme? Ela já diminuíra os carboidratos e cortara as gorduras... Estaria retendo líquido? Seria melhor diminuir a quantidade de água ingerida por precaução... e claro, apertar um pouco mais seu espartilho.

Num breve piscar de olhos, logo ao lado de seu reflexo murcho e infeliz, a princesa Audrey se via perfeita. O cabelo em tom chocolate liso e brilhoso como fios de seda, a pele suave cor de creme, seus lábios como a rosa. E suas roupas... tão mais bonitas... A princesa era tão esbelta...

Sentiu vontade.... sentiu vontade de.... Seus olhos muito depressa encontraram a porta da suíte e dois alertas soaram em sua cabeça: um mandava correr em direção ao vaso sanitário; o que era até meio insano: a menina não tinha nada no estômago que pudesse jogar fora. Enrolara o professor e sua esposa o restante do fim de semana. Nada como conversar bastante e bagunçar o prato para distrair as pessoas de que ela apenas encostara o garfo nos lábios. O outro alerta...

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