Salvar e Socorrer

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Salvar e Socorrer - Bernardo e Bianca

Na manhã de sexta-feira, apesar dos pedidos e protestos de Evie, Mal voltou para os calçados sem saltos. Lindos coturnos que complementavam sua meia arrastão e seu micro vestido cinza chumbo, mesclado com manchas roxas e rosas devido as muitas artes de Mal. Como no dia anterior, na mão direita usava a luva de renda, na esquerda, abusara dos anéis.

Para consolo de Evie, Mal permitiu que ela alisasse seus cabelos com a chapinha. As mechas lisinhas, caindo soltas, livres pelas costas e ombros da menina.

-Deus! A prova de espanhol nunca foi tão difícil! – resmungou Jane – Acha que conseguiu flexionar os verbos, Mal? Eu tenho certeza de que os errei todos!

Mal riu.

As duas caminhavam em direção aos armários. A prova já ter passado não mudava em nada o fato de ainda terem aula normal no restante do dia. Mal só queria seu diário, só queria desenhar e distrair-se de tudo aquilo.

O colégio também já dava sinais de que percebia a mudança de grande parte das alunas. Cabelos diferentes, sobrancelhas feitas, roupas estilizadas... Não ainda não chegara ao ponto em que Mal e Evie queriam chegar, mas o burburinho já anunciava que os certinhos enxergavam algo novo ali.

-Não achei a gramática tão difícil assim – disse Mal andando pelos corredores com total liberdade, observando com o canto dos olhos os demais estudantes dando passagem, sentindo muitos olhares em sua bunda; o tipo de olhar que ela recebera do príncipe logo pela manhã, durante o café: desejoso e receoso – Mas a interpretação de texto estava um saco. Difícil foi não dormir. Li o mesmo parágrafo umas 20 vezes.

As alunas podiam se colocar até do avesso. Mal sempre se destacava mais... Era algo inerente a ela. Muito além do corpo desgraçadamente maravilhoso, algo da personalidade, talvez...

Apesar do céu parcialmente nublado, ninguém se atrevia a passar pela grama ou jardins com receio de molhar seus sapatinhos de cristal, ou sabe se lá se aquilo era uma regra do colégio. De qualquer forma, Mal não tinha qualquer intenção de voltar a se amontoar no pátio para o almoço. Não, magia tinha que servir para algo simples como secar os bancos e impedir que as gotículas resistentes nas folhas da copa daquela grande árvore molhassem a ela e aos amigos.

Como elas haviam acabado a prova mais cedo, teriam aquele restante de aula livre antes do almoço. Era uma tortura de certa forma, pensando em sua barriga que roncava. Mal só queria chegar ao seu armário e pegar o diário... Assim que abriu a porta, uma folha de papel caiu aos seus pés. Um bilhete, mas...

-Jane, sabe de quem é a letra? Não está assinado.

"Encontre-me na piscina; precisamos conversar"

-Parece a do príncipe Ben... – disse com o tom meio perdido, como se estranhasse o conteúdo do bilhete e a destinatária.

-Tem certeza? – Mal insistiu; ela estranhava bem mais do que o conteúdo.

-Eu... Sim, eu tenho certeza. Sobre o que vocês poderiam conversar? Quero dizer, o príncipe...

-Marquei uma aula particular com ele – disse com descaso, olhando o papel, sentindo a pedrinha verde esquentar em contato com seus seios, levou-o ao rosto, pertinho do nariz, então... – Matemática é um merda – disse fazendo a menina rir.

Os olhos de Mal brilharam fortemente, cortando de vez as risadas da coleguinha. Ela conseguiu, de fato, ver Ben escrevendo o bilhete, mas não era para ela... Nem sequer era algo recente.

E riu discretamente, de uma forma maléfica. Um truque que poderia ter dado certo se não fosse pela magia forte em Mal, além de seu senso para pegadinhas andar sempre em alerta por ter crescido na Ilha.

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