Seduzentes

A Tempestade

A Tempestade - O Bom Dinossauro

Os alunos foram embora debaixo de uma chuva já intensa. E foram todos os alunos para suas casas. Todos mesmo. A previsão de chuva e fortes tempestades provavelmente colaborava para o sumiço dos estudantes; preocupação dos pais, talvez, ou só desejo de aproveitar ou sofrer do clima longe do internato.

Os quatro também iriam embora se tivessem para onde ir e como não tinham eram limitados àquele lugar.

-Queria ficar – murmurou Ben, tendo a namorada entre os braços na última parte coberta do colégio, de costas para a saída; não havia mais ninguém esperando os pais: o pessoal realmente fugira o mais rápido que puderam; e a turma deles, depois daquela atividade horrível então parecia ter evaporado. Mas ele não. Ben não – Queria ficar aqui com você, mostrar como dias de chuva são bons para ficar juntinho e atoa – dizia deslizando carinhos por aquela pele pálida; um ensinamento que queriam viver na prática, não só em pensamentos.

-Mas você não pode – e mesmo que tenha sido muito bem camuflado, havia uma pontinha de tristeza por ele não ficar ali. Ben notou. Roçou seus lábios nos dela, tão macios, por tempo suficiente para fazê-la suspirar; só então prendeu-o entre os seus com uma saudade já forte e genuína.

Ele ainda se surpreendia com o quão acessível Mal estava a ele; o quão ele conseguia entendê-la sem precisar de muito.

-Vou passar o fim de semana rabugento por isso – brincou sabendo que não era tão brincadeira assim – Vou sonhar com você – dizia entre os breves beijinhos trocados, quase em tom de promessa, em tom de imploração – Nos meus braços, na minha cama – a provocou com um mordiscar ligeiramente sensual.

-Cuidado, assim você não vai querer acordar – ela sorriu, segurando o riso ao ver a expressão dele reconhecendo a verdade daquela afirmação – Você pode me ligar, ou mandar mensagem...

A trovoada não os assustou.

-É pouco... muito pouco – ele gemeu e uma buzina anunciando sua carona causou uma expressão de dor em seu bonito rosto; o som muito mais agressivo que o causado pela tempestade.

Mal percebendo o som distante apesar da proximidade do veículo. Muita água caindo do céu.

-Compensamos depois – ela prometeu ligeiramente melancólica; também o queria entre seus braços naquele clima bom para amassos debaixo do edredom. Ben ficou muito tempo parado a sua frente, seus olhos nos dela e... outra vez a buzina soou, um tanto mais impaciente – Tchau – Mal murmurou enquanto ele a beijava uma última vez antes de correr na chuva prometendo que lhe mandaria mensagens, que ligaria.

A chuva forte o suficiente para sequer conseguir vê-lo entrar, ou ver o carro se afastar. Provavelmente chegou ensopado, pensou esperando que ele não se resfriasse, pensando que ele deveria ter usado um guarda-chuva... que provavelmente não serviria para muita coisa, resmungou internamento vendo a intensidade da água crescer.

Sentiu algo estranho, insatisfação talvez. Realmente o queria perto e vê-lo ir... Mal suspirou sabendo que ele já atrasara sua saída o máximo que podia para ficar ali com ela. Os dois ignorando o caos da semana e daquela atividade com facilidade e muitos beijos gostosos, longos e curtos em pontos diferentes do colégio.

Sozinha, resfolegou debochando de si mesma. Esboçou um sorriso cheio de escárnio para si própria. Riu ao afastar os cabelos do rosto. Não seria aquelas tontas que só pensavam em namorado. E ela tinha mesmo muito o que fazer e pensar além do garoto.

E pensar nisso era o bastante para lhe trazer certa inquietação.

Subiu para o dormitório masculino, e sentou-se na cama vaga de Carlos vendo-o desenhar na escrivaninha cheio de dedicação, mas uma dedicação mais contida do que ele mostrara na semana anterior, uma melancolia intrínseca na pele; o cachorro Dude "confortavelmente" aos seus pés, mas nitidamente nervoso com todos os clarões mesmo com as cortinas fechadas.