Refúgio das Fadas

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Refúgio das Fadas - Tinker Bell e o Tesouro Perdido

O seu dia passou devagar. Quase se arrastando. Mal culpava, além das ordens médicas de repouso, os remédios. Sentia que mesmo sua magia se via mansa, mole. Aquilo não era comum para ela. Seu corpo não estava acostumado a relaxar. E a magia que fora prisioneira a vida inteira, quando livre jamais havia murchado assim ao ponto de lhe dar paz. Em palavras mais simples, ela estava odiando o repouso.

Por isso ela continuava movendo as peças do seu jogo, trazendo frestas de luz para algumas delas, dando mais importância para umas e deixando outras mais na escuridão de seus pensamentos. Principalmente no que dizia respeito a sua princesa azul. O assunto Evie já tratado, agora seguia andando como devia e ela acreditava que a melhora seria uma das coisas mais bonitas que seus jogos isolados já causaram. Ao mesmo tempo, seguia maquinando como proceder com a outra princesa e como obter sucesso; apesar de já saber que só o jogo com Evie já afetava Audrey mais do que diretamente.

À luz, ela recebeu diversas visitas oficiais. Diversas. A maioria no horário do almoço ou no fim do período das aulas, antes do jantar. E de variadas classes. Aparentemente, ela era a fonte de curiosidade, de rumores. Lonnie e Jane fizeram uma visita rápida, mas descente, expulsando curiosos que nunca haviam sequer falado com a garota da porta do dormitório, e distraindo-a com bobagens engraçadas ou seduzentes. Kai, Aaron e Klaus vieram também, os irmãos mais jovens dos últimos permaneceram esperando do lado de fora por não terem tido nenhum contato mais direto, mesmo assim foram até o limite prestar solidariedade. Mal achou uma graça, quase patético, mas ainda fofo. E Raissa, Cordélia e Gisele, e tantos outros que Mal se cansava somente de pensar.

Claro, também havia as visitas com propósitos que não eram centrados nela. Aaron, Doug, Jane. As visitas que em teoria jamais aconteceram. Assim como as conversas sérias que em tese nunca existiram.

E apesar de estar realizando muito mais, de estar andando de forma mais veloz com o planejado, ela estava realmente repousando, relaxando como apenas algumas pessoas conseguiam fazer.

Seus queridos três amigos continuavam sempre por lá, presentes dentro ou fora do quarto, sempre atentos ao celular. Prestativos, divertidos, sempre tentando fazer com que a situação não fosse nada demais; sabiam que a líder odiava se ver isolada num quarto condenada a descansar e faziam o possível para deixá-la a vontade o que incluía desde ouvir grosserias a fazerem longos relatórios de como o dia letivo correra.

E no meio disso tudo, ainda tinha Ben. Ele sempre estava por ali. Passava pelas refeições junto dela e somente ia embora quando ela se acomodava para mais um cochilo, na manhã e à tarde; também sempre permanecia muito mais depois do jantar. Ele, no dia anterior, e naquela quinta-feira, havia deitado ao seu lado e colocara morangos em sua boca de um jeitinho romântico e sensual enquanto conversavam sobre estilos musicais diversos. A nostalgia somada a um carinho explícito deixando aquela fruta com um sabor ainda mais marcante. Conversas leves, por vezes bobas, mas que a deixavam completamente em paz. Raras vezes se beijaram. Os toques eram mais delicados, tanto os lábios, quanto as peles, quanto os olhares. Entre os dois, desde a quinta-feira anterior, quando fugiram para um primeiro encontro num lago encantado, havia uma crescente meiguice, uma suavidade inebriante; e ela estar de cama, somente contribuía para que ele fosse ainda mais delicado com ela que não estava acostumada com gestos, e carinhos, e olhares assim.

Foi deitada no peito dele, recebendo um cafuné suave que ela fingiu dormir naquela noite. E não era nada fácil fingir dormir ali, com ele, com aqueles carinhos. Era fácil relaxar, ceder aos remédios e ao garoto.

Mas não o fez.

À sombra, seu medo não diluía. A Queda e cada uma das visões ainda martelavam em seu peito. Um aviso, uma ameaça. Como se aquele delírio absurdamente real a acusasse de esquecer aqueles que cresceram com ela naquele inferno sobre águas escuras. Contudo, Mal conhecia bem a si mesma, conhecia seus pensamentos, suas intenções. Era impossível esquecer aquela ilha, aquelas pessoas. A Queda cobrava ações. E ela planejava agir. Se antes ela se movia devagar, sem pressa, preparando todo o terreno com o máximo de cautela possível para todas as possibilidades, agora Mal faria de seus atos ainda mais pensados, ainda mais intensos e, talvez, não tão discretos assim. Agora ela só via uma possibilidade viável. Só um caminho por onde queria seguir e guiar.

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