A Feira de Ciências

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A Feira de Ciências - Família do Futuro

Eles não saíram do quarto outra vez naquela manhã. Nem mesmo para o almoço, o início da feira. Permaneceram os quatro no dormitório feminino a portas fechadas; janelas e cortinas também.

Ninguém se atreveu a repreendê-los.

Ou chamá-los.

Convenientemente, ou um agrado mínimo, o almoço foi deixado ali para eles. Apenas um carrinho no corredor em frente a porta. Ninguém para vê-los num misto de raiva e medo.

A vontade inicial de Mal era de destruir o quarto. Completamente. Num rompante mágico como encenara certa vez na cozinha do colégio. Mas não o fez. Não sabia até onde sua magia destruiria se se permitisse explodir assim, não sabia se conseguiria se limitar ao quarto. Mas mais importante que isso, não se permitiu esse surto, pois precisava acalmar os demais. Então estendeu a dádiva da destruição aos três.

E eles destruíram o quarto. Colocaram tudo abaixo. Mobília, portas, roupas, maquiagens, espelhos, televisão, mesmo a máquina de costura. Colchões e travesseiros eram uma mistura de espuma e penas e plumas.

Destruíram tudo com punhos e chutes e dentes.

Mal não interferiu. Não fez nada para impedir, nada para incentivar. Assistiu-os destruindo cadernos e livros, pisando sobre seus lápis de cor, estraçalhando vidros de esmaltes nas paredes.

Em 15 minutos estavam os três caídos no chão, completamente ofegantes, em meio ao estrago.

A líder se deixou cair ao lado deles e enquanto se abraçavam, enquanto mantinham-se unidos de joelhos no chão, o quarto retornava vagarosamente ao seu estado de ordem anterior. Cada vidro recomposto, cada tecido intacto, cada móvel inteiro. A destruição não passando de um sonho ruim quando se afastaram.

Pediu que contassem o que conseguissem, como pudessem, sem pressão. Um a um balbuciaram ameaças veladas, crueldades do passado, da infância, que se repetiriam infinitamente mais bárbaras num futuro em que estivessem frente a frente. E claro, tudo por debaixo dos panos, indiretas e duplos sentidos que somente eles entenderiam.

Malévola viera de caso pensado. Combinara com os outros pais de agredi-los, de atacá-los. Um lembrete, obviamente. Roubar a varinha, levá-la até Malévola; o elefante branco que eles ignoraram com facilidade até momentos atrás. Ou melhor, uma ameaça disfarçada de lembrete.

"Uma oportunidade única... Não a estrague"

Maldita cobrança!

-O que sua mãe disse? – questionou Jay depois que terminaram a refeição em um silêncio carregado. Carlos claramente engolia com dificuldade. A mão de Evie ainda tremia, precisando segurar o copo de suco pela metade com as duas mãos; ela não comeu e ninguém insistiu, o cheiro ácido do suco de limão era a única coisa ali que ela parecia conseguir tolerar.

-Podres por Dentro – murmurou; o nome da gangue, o lema pessoal deles; algo que parecia de uma vida antiga, milênios antes daquela existência presente – E algo sobre manter pragas sob controle. Saí na hora. Sabia que ela estava falando sobre vocês.

E o que ela pode estar fazendo com os outros, com aqueles que eram meus e que ficaram? Será que ela se importaria o suficiente para interferir?

Afastou o pensamento na hora. Teria tempo para pensar sobre, porém agora precisava se concentrar nos três ali e agora. Precisava se concentrar nos limites aos quais podia resolver.

Inesperadamente, o elefante branco foi varrido para debaixo das camas outra vez.

-Você derrubou a porta – disse Carlos cheio de espanto. Os olhos enormes, arregalados, o rosto lívido.

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