O Dia que Ninguém Vai Gostar - As Aventuras do Ursinho Pooh
O jovem casal andou devagar como se os dois adiassem aquele momento inevitável. As mãos agarradas, prendendo-se um ao outro como boias salva-vidas sem saber qual dos dois naufragaria primeiro.
O coreto surgiu como uma visão romântica. Demais convidado daquele evento estranhamente se mantinham afastadas do lugar deixando as figuras que deveriam ser suas majestades a sós. Seria por que estavam em um clima mais romântico? Ou seria por que o clima já estaria em estado de alerta para recebê-la?
A cada passo mais próximo o casal do conto de fadas se tornava mais distinguível, mais real. A cada passo a menina ao lado do príncipe gelava um pouco mais.
A promessa de cair juntos pairou entre eles em silêncio quando, já no coreto, pararam frente a frente ao rei e a rainha de Auradon. E em silêncio os quatro ficaram por não mais de cinco segundos, porém tão pesadamente intensos e avaliadores que ninguém tentava mostrar o menor sinal de conforto.
O homem trajava um terno em tom marsala intenso bastante simples, mas de qualidade gritante. Os cabelos eram de um loiro escuro assim como as grossas sobrancelhas e os cílios que emolduravam um par de olhos azuis. Ele tinha traços fortes como se mesmo humano, houvesse uma besta escondida sob sua pele, uma possível alma indomável. Era bonito. Daria um excelente desenho; o homem ao lado do vitral da fera.
A mulher usava um vestido de corte reto até um pouco abaixo dos joelhos e um blazer lhe cobria os braços. Um conjunto. O tom de rosa lhe conferia um ar doce e amigável, os tecidos e o corte das peças comunicavam elegância. Seus cabelos eram mais escuros, um castanho comum, e se encontravam em um rabo simples deixando seu rosto de traços finos e as orelhas delicadas mais a mostra. Além da aliança, somente brincos de diamante a enfeitavam.
Pareciam figuras normais. Pareciam pessoas normais. Ricas, sim; talvez esnobes. Mas não pareciam prontas para agredi-la ou atirá-la em uma jaula.
Claro... Naquele primeiro momento.
Eles a analisaram de volta. Desde os scarpins, até a maquiagem. E claro que o peso da reprovação estava no decote, nos cabelos coloridos. Mal não esperava nada diferente, mesmo assim ver o casal disfarçar as mandíbulas rígidas e lábios retorcidos a deixou ligeiramente incomodada.
Talvez a educação e protocolo exigisse uma reverência dela, talvez até do namorado. Mal, contudo, não se curvaria. Não ali, não naquele momento; talvez nunca. Aquelas pessoas teriam que merecer seu respeito e isso seria algo difícil considerando que ela, querendo ou não, representava inúmeras outras vidas. Benjamin já parecia pressentir que aquela norma não seria cumprida, parecia também não querer que ela a cumprisse; ela não sabia explicar como o sentia tão bem. O príncipe manteve a mão firme na dela, enquanto o braço livre abraçava a cintura da moça com firmeza mantendo-a ereta no lugar.
-Mãe, pai. Esta é Mal, minha namorada – disse Ben fazendo um esforço considerável para não permitir que a voz tremesse – Mal, estes são meus pais: Bela e Adam.
Aquela apresentação foi, no mínimo, graciosa. Era gritante como o garoto queria os apresentar como pessoas. Pessoas comuns e não títulos e históricos genéticos ou qualquer outra merda que pudessem querer usar para se nomearem. Até porque era toda essa merda que os colocava em situação tão odiosa.
A garota se sentiu mal por ele que teria que fazer a ponte não somente entre sua namorada e seus pais; o que por si só já era uma situação não agradável e estranha. Não, Benjamin estaria colocando toda sua vida de estudo e diplomacia e jogo de interesses em prática ali. Aquela apresentação era muito mais do que familiar, ele querendo ou não. Era política. Era uma apresentação de inimigos com interesses conflituosos. Medo e ódio fervilhavam naquela relação que mal nascera e já tinha enormes chances de ruir.
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Seduzentes
FanfictionExistem formas diferentes de ser mau. A mais interessante de todas elas é arte da manipulação, sedução... Em todos os sentidos da palavra. "Para que colocar fogo no circo? - pensava Mal - Coloque um isqueiro na mão do macaco..." Claro, é uma delíci...