Seduzentes

O Seu Melhor Amigo

O Seu Melhor Amigo - O Cão e a Raposa

Na manhã seguinte, sexta-feira, a bomba foi lançada, como Mal já esperava. E Evie não estava preparada para aquilo, mesmo sabendo das previsões de Mal, mesmo com os alertas da amiga. Claro, também fora muito repentino, apressado. Muito mesmo. A princesa Audrey e o príncipe Chad assumiram que estavam num relacionamento sério. Como se já não bastasse o escândalo do rompimento no dia anterior... Chad realmente não tinha o bom senso de esperar a poeira baixar; Audrey já deveria estar muito arrasada para seguir agindo cautelosamente, mais uma vez seguindo de maneira passional, ou ela devia gostar de ver o circo pegar fogo tanto quanto qualquer vilão. Claro, essa última era bem improvável... porém, não descartável.

Para Mal aquilo era um sonho tornando-se realidade; em partes claro. A mesma revista que publicara o suposto noivado real em todas as plataformas possíveis: papel, internet, vídeo, etc – essa maldita e adorada matéria sensacionalista que já estava inclusive atormentando os pais dos dois envolvidos, segundo os comentários dos alunos e professores; embora nem Aurora e Phillip, nem Adam e Bela tenham dado depoimentos – publicara uma nova matéria sobre o término repentino e inesperado do casal e essa matéria continha além de fotos dos pombinhos, muitos comentários de aldeões e cidadãos e pessoas irrelevantes contribuindo para o caos que Mal queria criar: estavam chocados, pasmos, incrédulos com o acontecido; alguns chegavam a pedir que o casal reatasse, pois eram perfeitos um para o outro... e pensar como seria a reação no fim de semana com aquele novo namoro. O castelo nem havia divulgado uma confirmativa oficial sobre o término dos adolescentes. Namoro relâmpago. Mal conseguia imaginar tudo! As pessoas começando a questionar a rapidez em trocar de namorado, começando a suspeitar e tentar desesperadamente negar o que elas próprias pensavam sobre integridade de suas altezas...

Tudo bem, o escândalo da traição não seria divulgado e confessado publicamente, mas talvez a dúvida fosse ainda melhor, ainda mais maléfica. E a menina sabia que a dúvida era um veneno saborosamente lento. Há males que vem para o bem, não era esse o ditado? E Mal sabia como ninguém contornar uma jogada, sabia aprender com seus erros: ela se precipitara; não precisava clarear o tabuleiro de uma só vez. Benjamin, querendo ou não, contribuíra com o caos sutil que Mal tanto apreciava; salvara seu jogo de acabar cedo demais. A dúvida como uma laranja podre num cesto de frutas contaminava todo o resto lentamente até não sobrar mais nada. O menino-fera prolongara a brincadeira.

Evie estava bastante melancólica, disfarçava com maestria em público, mas tanto Mal quanto Jay e Carlos sabiam que a menina estava um lixo por dentro. Chad era o perfeito príncipe das histórias que ela ouvira da mãe: lindo, rico, sonso. Perfeito demais para se perder; e ele não querer ela que era linda, prendada, inteligente...era devastador; como se ela não fosse boa o bastante. Arrasada estava, pois, de uma forma ou de outra ela decepcionara sua mãe; porque ela não era perfeita.

Jay, tão protetor, esfregava os pulsos a todo instante durante aquela manhã, segurando-se para não socar o estepe-encantado; continha-se principalmente porque sabia que Mal estava com tudo sob controle, mas a líder sabia também do que Jay era capaz num descuidado acesso; precisava contornar a situação. Principalmente porque os professores notavam o rapaz instável. A menina fez questão de se sentar ao lado do amigo, vez ou outra o tocando discretamente sob a mesa, acalmando-o com o toque, lembrando-o de que ela estava ali com um plano em desenvolvimento. Carlos também estava inquieto, mas manifestava isso de outra forma, tentando agradar Evie com a conversa sobre tecidos e texturas, possível parceria na criação de modelos únicos para entretê-la. O que era ótimo, já que o menino só sabia ter duas reações: uma explosiva, outra mais passiva. Um a menos para cuidar.

-Basta – disse Mal apoiando-se sobre a mesa, cortando completamente a melancolia, raiva e conversa; os três olhavam para a amiga em expectativa. Mal, inclinando-se na direção dos amigos, sorriu – Nós vamos sair hoje.