O Sonho Que Eu Sonhei - Branca de Neve e os Sete Anões
Não estava confortável. Nenhum pouco confortável, na verdade. Mal estava deitada, sabia que estava, mas a superfície não era exatamente agradável; não agora. Seus pulmões também não se agradavam com o ar que chegava. Mas o maior problema era muito além do físico; eram as sensações e calafrios que percorriam sua espinha indicando algo que Mal não gostaria. E a sensação mais forte era de estar num lugar conhecido; num lugar ao qual pertencia.
Obrigou-se a abrir os olhos, assim como obrigou seu corpo a se erguer de uma única vez. Os braços tremularam para sustentar o tronco, os olhos protestaram para abrir.
Ao seu lado esquerdo, o guarda-roupa cobria toda a parede, negro como o chão, em perfeitas linhas retas, com maçanetas em ossos. As demais paredes estavam livres de móveis e demais adornos, num cinza forte quase negro. A porta maciça era tão negra quanto as portas de seu guarda-roupa. A lareira feita em pedra escura cuja chama nunca se apagava, era a mesma pedra da sacada e de parte da torre em si. O único toque de cor eram seus travesseiros num verde forte. E ela estava sentada sobre o edredom fino; na cama sem cabeceira. Um quarto minimalista; simples. O seu quarto.
Ela estava na Ilha... A Ilha dos Perdidos.
Em cárcere...
No castelo de sua mãe.
O torpor logo deixou seu corpo imediatamente; seus olhos arregalados desceram, observando suas roupas. Ela esperava encontrar um pijama com o qual tinha certeza ter adormecido, mas não foi isso o que viu. Ela com toda certeza havia desabado na cama depois de um dia exaustivo de roubos, e maldades com seus amigos; certeza que ela e Jay se aventuraram em parkour recentemente. Sequer tivera paciência para se despir.
Estava vestida em materiais fortes; calça e jaqueta em tons de roxo bem similares, senão iguais. A parte inferior era trabalhada em rasgos e spikes de bronze, enquanto a jaqueta tinha ombreiras chamativas, como escamas, e mais cores: rosa e verde vinham nos detalhes. Em suas mãos, luvas; nos pés, coturnos. Nunca fora amante de joias e bijuterias, no sentido de sempre usar algo, mas... Não havia colar com pingente verde que fora do pai, que a mãe lhe dera antes de partir; não havia a joia que a viciara a ponto de não saber viver sem.
Inacreditável como seus pensamentos entravam em conflito. Conseguia pensar exatamente o que ela deveria ter feito, ao passo que sabia haver algo errado. O que era sonho parecia ser real demais e a realidade parecia um pesadelo; ou seria o contrário?
-Não... – a voz sequer saiu com o mover dos lábios. O medo começava a tomar seu coração como um fungo.
Nervosa e rapidamente, ela jogou seu braço para debaixo do colchão. Não havia, não devia haver sequer a possibilidade de estar... Mas estava. Lá estava o seu caderno pobrinho e sem fechadura, seu diário de desenhos. Folheou-o. Lá estava Esmeralda na formosa Notre-Dame, seu último desenho; um grande e bonito castelo; Tiana com um sapo em mãos; a princesa Eilonwy junto a Taran e a porquinha mágica¹, entre outros, incluindo um lugar lindo, possivelmente um templo esquecido pelos deuses e seus adoradores, talvez no Olimpo, ou aos pés do mesmo, um lugar que ela reconhecia ser o palco de uma tarde com gosto de fruta, cheia de beijos molhados de luz... Mas não havia vitrais, nem flores, nem o rosto...
-Não... – suspirou em medo – Não, não isso não é real... – sua voz quase não saiu – Não posso estar aqui...
Seu quarto era fracamente iluminado por uma luz cinzenta que passava pelas portas abertas da sacada. As nuvens cinzentas que impediam o sol de brilhar dourado e grandioso como um deus no jardim azul do céu. Um deus encarcerado... como ela.
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Seduzentes
FanfictionExistem formas diferentes de ser mau. A mais interessante de todas elas é arte da manipulação, sedução... Em todos os sentidos da palavra. "Para que colocar fogo no circo? - pensava Mal - Coloque um isqueiro na mão do macaco..." Claro, é uma delíci...