Preocupe-se, Espere

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Preocupe-se, Espere - WALL-E

A manhã nasceu embasada para Doug, e isso nada tinha com a ausência de seus óculos. Outra manhã, outro dia ruim. Fazia algumas semanas que ele se sentia pequeno e insignificante. Claro que sua vida fora praticamente inteira assim, mas desde o jogo entre colégios ele se sentia um trapo.

Sentou-se, colocou os óculos e conferiu o celular naturalmente. Não reparou na hora, reparou na mensagem enviada por alguém que o intimidava só por existir. Venha me ver. Só aquelas primeiras palavras o arrepiaram até o dedo mindinho do seu pé.

Seguiu para a suíte deixando propositalmente para depois o restante da mensagem, e tratou da sua higiene pessoal de forma automática, remoendo em seus pensamentos o que ela poderia querer dele agora. Vou precisar da sua ajuda. Lembrou-se de como havia sido ouvir aquelas palavras. Lembrou-se da infração que cometeram e dos pequenos pedidos que ele atendeu sem se importar, sem discordar: afastar e observar. Doug achava que outras duas cabiam melhor: Preocupe-se, espere.

Suspirou.

O que Mal quer de mim agora?

Sabia que dificilmente ele conseguiria negar algo pedido por aquela menina. Principalmente porque ela facilmente usaria seus sentimentos, agora muito confusos, contra ele.

-De pé tão cedo? – questionou seu colega de quarto. Um atleta da classe mais jovem; o absoluto contrário de Doug: bonito e vigoroso.

Quando eu mandar, avisava o restante da mensagem. Sempre condenado a esperar, lamentou.

-Tenho alguns estudos para pôr em dia – mentiu em voz baixa, sentando-se junto a escrivaninha e pegando seus trabalhos extracurriculares.

-Até parece – resmungou o outro levantando como um zumbi e se trancando no banheiro. Um dos muitos motivos de acordar mais cedo era justamente porque seu colega dormiria ali dentro e empestearia o lugar por umas longas duas horas.

Ele tentou revisar seus trabalhos e não conseguiu. Primeiro porque ele se superara – eram os maiores e mais completos trabalhos que ele já havia feito tanto em assunto quanto em vocabulário – segundo porque seus pensamentos estavam divididos entre duas meninas... duas meninas com cabelos em tons fantasia.

Fechou os olhos e a viu. A pele pálida, os olhos escuros, os cabelos azuis... tão linda, tão infeliz... Como não se preocupar?

-Já vou descer, você vem? – chamou o colega, trazendo-o de volta ao mundo presente; a voz quase um choque elétrico. Quanto tempo ele havia se dispersado?

-Não... Vou depois – disse recolhendo seus papéis e ouvindo a porta fechar, esperando a próxima mensagem.

Evie desde que havia chegado havia roubado seus olhos e ouvidos. Linda, inteligente, divertida... era praticamente uma deusa em corpo humano. Boa demais para ser de verdade. E ele nunca se dispusera a se aproximar tanto assim de alguém; ao contrário, desde criança fugia de ter que interagir com qualquer um, especialmente o sexo oposto.

Ela o atraía como um ímã. O enfeitiçava como um sonho. Mas o sonho estava desvanecendo e a realidade a cada dia mais o atingia fria e triste. Não sabia mais como a via. Não sabia mais se...

Agora. Dizia a nova mensagem.

Saiu do quarto controlando sua respiração, controlando seus pensamentos, controlando seus sentimentos...

Seja esperto!

Não entendeu a última mensagem até... Quando na ala feminina sentiu o coração disparar e mal teve tempo de bater na porta, pois ela já se abria e a deusa perfeita de seus delírios se mostrava surpresa ao vê-lo ali, quase colidindo com ela.

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