Estou Atrasado!

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Estou Atrasado! - Alice no País das Maravilhas

Ela foi sentindo o desconforto crescente aos pouquinhos, e ignorou o quanto deu, principalmente porque seu corpo e mente imploravam por estar deitada, por descansar, por dormir. Mas algo estava errado. Faltava algo. Remexeu-se sentindo uma dor descomunal no ventre e baixo ventre, mas a ausência gritava. Levou uma mão ao pescoço e soltou o ar num ofego, antes mesmo de abrir os olhos muito pesados. Desesperadamente e as cegas, Mal começou a revirar a cama, lençóis e travesseiros atrás de seu colar e...

-Acalme-se, acalme-se, menina – a voz era estranha; desconhecida, antiga e claramente feminina – Está no seu porta joias.

Ela abriu os olhos o máximo que pode e sentiu-os arder de maneira mágica, tão descomunal quanto seu desconforto, tão intensos e urgentes quanto a necessidade de encontrar o que era seu.

A tampa da caixa caiu sobre a madeira ruidosamente, não que Mal tivesse prestado muita atenção em algo que não fosse o calor reconfortante da esfera na ponta de seus dedos. Imediatamente sentiu um alívio em seu peito. Sabia que tinha acabado de soltar uma carga de energia para o amuleto, pequena ela percebeu, mas ainda assim aquilo era um alívio. Mais sentiu do que viu mãos auxiliando-a a fechar o colar de volta ao seu pescoço.

-Bom dia, Mal – aquela voz, sim, era familiar, distante da cama. Recostando-se novamente nos travesseiros, sentindo o corpo cansado e mole, para não dizer dolorido em pontos que ela sequer imaginava; as dores mais intensas agora no baixo ventre, além de uma sensação esquisita; Mal se questionou o que diabos a diretora fazia em seu quarto.

-Bom dia – disse com a voz rouca. Nada sexy. Nada receptiva. Conseguiu abrir os olhos a muito custo por conta da claridade... que sumiu assim que a cortina foi fechada. Imediatamente ela voltou seu olhar na direção e pode ver um certo preto e branco lindíssimo. Aquela era a forma de Carlos de agradá-la além de protegê-la. Sabia também que havia sido ele quem a ajudara com o colar.

-Dormiu bem? – questionou a voz diferente; a enfermeira de idade avançada. Mal a mediu com os olhos rapidamente, não parecia uma ameaça.

-Como se tivesse sido dopada – disse friamente. Seus olhos rapidamente acharam Evie sentada em sua cama, como se tivesse saído de uma lembrança de pouco tempo atrás, e mais adiante, Jay fundindo-se as sombras e a madeira da porta. Resguardada. A curta, média e longa distância.

-Efeito colateral de algum dos remédios – afirmou a enfermeira; Mal não entendeu porque duvidou, mas manteve a desconfiança em si; sempre jogara com a sua intuição e era por ela que estava viva. A funcionária pediu a permissão da diretora com os olhos, então prosseguiu com a fala – Você sofreu uma forte exaustão. Seu corpo deixou de responder com normalidade e você desmaiou no refeitório no almoço do dia anterior. Do que se lembra?

-Estava com Aaron no almoço. É a última coisa concreta que lembro – disse firme na mentira, pois seus pesadelos eram absurdamente concretos, palpáveis, e muito, muito reais apesar de parecerem, em essência, absurdos – Ele me trouxe para cá?

-Não imediatamente – disse a diretora – Ele a levou até a enfermaria onde você foi tratada e medicada, só ao fim da tarde ele se dispôs a trazê-la para cá.

-O certo não seria eu estar na enfermaria? Sob observação? – as adultas trocaram um olhar que despertou o interesse dos quatro adolescentes. Se antes estavam atentos, agora estavam muito mais.

-Não achamos adequado mantê-la ali onde muitos curiosos poderiam importuná-la, incluindo os próprios ajudantes da enfermaria. Isso seria um risco a sua recuperação.

-Isso – começou Mal arrastando as palavras duras num tom rouco; o efeito era desgastante e ligeiramente assustador – Minha recuperação. Consiste em quê?

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