Visitantes - A Dama e o Vagabundo
Os quatro subiram para os dormitórios e arrumaram suas mochilas depois de uma feroz luta com os floretes das aulas de esgrima. Apesar de não terem se machucado, nem estragado suas roupas – com armas afiadas com toda certeza estariam em retalhos, talvez até sangrando – os músculos começavam a doer, as articulações enrijecer, o sangue esfriar. O príncipe responsável e a diretora apareceram quando os quatro se viam ofegantes e as lâminas no chão, comunicando a respeito da chegada dos carros em voz mansa e cautelosa como se qualquer um dos quatro fosse arremessar os floretes como lanças para espantá-los dali ou empalá-los.
Subiram em silêncio, nenhum deles oferecendo qualquer reação, qualquer olhar, qualquer fala fosse para confirmar aos responsáveis que compreenderam ou oferecer qualquer mísero conforto entre eles mesmos. Apáticos não era a palavra mais adequada, talvez fosse choque ou um ferrenho autocontrole pesando junto ao esgotamento mental que os deixava em estado de aparentes mortos-vivos. Não repararam no medo e na preocupação no príncipe e na diretora, não perceberam a dor que sentiam por vê-los naquele estado.
Mal não se importou com o que jogava dentro da mochila. Jay também não. Carlos e Evie, por mais organizados que fossem, se moviam automaticamente sem perceberem o que estavam selecionando para passarem o fim de semana. Evie preferiu trocar a calça que usava por uma jeans, e Jay trocou o blazer pela jaqueta de couro.
Mal os reuniu no corredor e com voz de ordem declarou: "Chamem meu nome. É só dizer. Eu vou saber e vou estar ao seu lado". Isso trouxe algum conforto aos outros três; a promessa de auxílio, de amparo. E eles sabiam que aquilo era real, que a líder apareceria imediatamente ao lado deles se assim precisassem. Também não precisava comunicar que aquilo era uma medida de emergência e que era preferível que lidassem sozinhos. Outro ponto que não precisava ser dito em voz alta era que deveriam se atualizar o tempo inteiro no grupo de mensagens no celular.
De volta ao térreo, o crepúsculo dando lugar à noite, a feira já estava finalizada e parecia não haver mais pais orbitando pelos jardins. O estacionamento se via quase vazio e mesmo os funcionários pareciam já ter fugido do colégio e do clima ruim que ficara impregnado depois de toda aquela confusão. O que deveria ter sido uma saída leve para a grande maioria, afinal eram as férias de inverno, se tornara algo indigesto. Mesmo assim ainda havia um pequeno amontoado de adultos, de nobres, esperando silenciosamente por eles.
Mal aguardou carro por carro e se certificou de ver cada um deles bem acomodado, de se despedir individualmente, assim como o príncipe Benjamin. Primeiro os meninos: Jay; seu carro o levaria para o aeroporto onde pegaria um voo de mais ou menos uma hora até os desertos pertencentes a princesa Jasmine e seu Aladdin. Carlos iria até a ferroviária pegar um trem. Para os dois rapazes foi garantido que receberiam assistência até o embarque e que ao chegar no destino haveria quem os recebesse: Jay por um encarregado que o levaria até o palácio, mas Carlos já seria recepcionado por Roger e Anita na estação.
Assim que os dois se foram, ficou nítido que Branca de Neve aguardava por Evie. Esta evitava olhá-la a todo custo, inclusive fingia não a ver; Mal, por alguns segundos pensou ter visto a princesa entristecida com a reação de sua Evie. Mais da metade da família já havia ido, porém a princesa e o filho, Aaron, ficaram para acompanhar a garota. O rapaz o mais solícito que podia: para Mal, a promessa de cuidar da princesa má, e para Evie, sussurros de que eles se divertiriam no fim de semana, galantemente tirando o peso da mochila das mãos dela.
-Você não gostou da proposta – Ben disse ao seu lado observando o carro que levava Evie fechar as portas e sair; finalmente se aproximando depois de tanto confronto. Como das outras vezes, ele não iria embora enquanto não visse os quatro saindo. Zeloso com seus atos, assim como ela.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Seduzentes
FanfictionExistem formas diferentes de ser mau. A mais interessante de todas elas é arte da manipulação, sedução... Em todos os sentidos da palavra. "Para que colocar fogo no circo? - pensava Mal - Coloque um isqueiro na mão do macaco..." Claro, é uma delíci...