Reunião

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Reunião - As Peripécias de um Ratinho Detetive

Evie insistiu em uma sessão de cuidados naquela noite para desintoxicá-los, mesmo que superficialmente de todo o estresse que estavam sentindo. Os quatro reunidos hidratando os cabelos, esfoliando a pele, separando as roupas que usariam pela tarde do dia seguinte. Pequenos rituais de beleza que a acalmavam e distraiam... pelo menos esse tipo de afazeres distraía Carlos também. Jay e Mal apenas seguiam em silêncio cedendo as máscaras de argila. Ninguém falou nada a respeito da sensação de déjà vu, mesmo assim os quatro sentiam que reviviam o Dia de Cruella.

A noite foi mal dormida variando de pesadelos e insônia, breves cochilos e dores de estômago. E isso não somente para os quatro intercambistas da Ilha dos Perdidos.

Mal estava sentada junto à escrivaninha, o diário de desenhos aberto e diversos lápis coloridos espalhados pela mesa quando Evie acordou antes do despertador.

-Não conseguiu dormir? – perguntou cheia de vontade de dizer que daria tudo pela maçã envenenada da sua irmã-postiça no momento. O nervosismo pelo que podia ocorrer naquele dia era gigantesco; muito conveniente seria passar por ele "fingindo" de morta.

-Só cochilos – respondeu a líder sem se virar, a mão movendo o grafite sobre o papel – Me cansaram mais do que se eu tivesse ficado acordada – confidenciou. Evie percebeu que os lápis eram todos nuances da cor rosa.

Imediatamente fez uma correlação entre matiz e nome.

-Mal, Audrey ter desistido da atividade te incomodou? – já tinha uma escova de cabelo em mãos subindo e descendo nos fios azuis. Mais do que garantir a ordem e o brilho das madeixas, aquilo era um meio de tentar controlar os tremores das mãos.

A princesa da Ilha dos Perdidos ainda conseguia sentir a tensão no salão, ainda conseguia ouvir a voz quebradiça da alma despedaçada da princesa do país dourado. Só de lembrar, ela se arrepiava de um jeito muito ruim.

-Não posso dizer que fiquei surpresa – Evie pensou ter sentido uma pontada de tristeza na voz cansada da amiga; e ela sabia compreender, ou no mínimo supor entender o porquê.

-Estava jogando com ela como estava jogando comigo, não é? – perguntou com receio, sua voz sumindo no ar, começando a sentir alguma empatia pela filha de Aurora – É por isso que Jay está tão destruído?

-Sim.

Mal continuava de costas.

O lápis parou.

-E o que está fazendo agora? Quero dizer...

-Eu perdi esse jogo – Mal não a deixou terminar o raciocínio, nem precisava – Mas ainda não quero que ela perca também. Entende? – e virou-se para olhá-la, desistindo do desenho.

O rosto de Mal dizia tanto, demais... revelava inúmeras vontades e verdades, jogos ou não. Dizia tanto que Evie sequer sabia interpretar ¼ do que via das emoções complexas e sempre camufladas da amiga.

-Sim – e sim, ela entendia; no mínimo, começava a compreender tudo, todo o cenário e personagens que ela ignorara durante meses. Perdera muito ao só saber olhar para si mesma.

-Finalmente percebeu o quão devastada ela está – Mal afirmou, o olhar atento na sua protegida – Que ela enfrenta tantos demônios quanto você – Evie engoliu bile e virou o rosto sem sentir necessidade de confirmar – O que te acordou?

O que a acordara para Audrey... Não sabia o que fora, ou pelo menos pensava que não sabia até se ver respondendo muito naturalmente:

-Aceitar meus problemas, é claro, mas... Foi a voz dela. A voz muito mais do que a recusa – Evie sentiu os olhos encherem d'água, a voz diminuir – Parecia vidro se partindo.

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