A Sequência do Relógio - Pinóquio
Jane se levantou da cama devagar, mas imediatamente depois que despertou. Sequer esfregou os olhos ou pensou no que estava fazendo. Ainda estava escuro pela janela. Ainda era madrugada: 05h23min. Mesmo assim, ela calçou suas botas UGG e pegou uma mantinha para cobrir seus ombros. Saiu do quarto sem duvidar de que precisava sair, mas sem saber para onde seguia.
No corredor do segundo andar, notou a porta do quarto de hospedes entreaberta. Carlos. O nome do adolescente apenas pensado já fez com que seu estômago se agitasse. Seguiu em direção as escadas, indo imediatamente para a sala, para a janela grande do ambiente. Foi afastando um pedacinho da cortina que viu algo que fez seu coração disparar: Carlos estava sentado na guia da calçada, com um cigarro entre os dedos, apenas de pijamas: a calça de flanela e uma camiseta de algodão; à frente do rapaz estava Dude andando pela rua.
Sem pensar em mais nada, Jane saiu. Abriu e fechou a porta com cuidado e em passos lentos chegou até o colega de classe. Segundos depois estava sentada logo ao lado dele; os dois com os olhos fixos no cachorro.
-Não consegui dormir mais – declarou ele antes que a moça perguntasse – E você? Não deveria estar dormindo?
-Talvez. Também não consegui dormir mais... eu só... só despertei – ela suspirou e viu uma pequena nuvem sair de seus lábios pelo choque de temperaturas. Jane focou seus olhos no colega, na forma como ele levou o cigarro à boca, a tragada, a forma como ele fechou os olhos ao soltar a fumaça num sopro – Por que veio aqui para fora?
Acenou com o beck.
-Não achei que sua mãe gostaria do cheiro impregnando as paredes e móveis dela. Eu também precisava de ar... – disse soprando um pouco mais. Por que aquele garoto era tão atraente aos olhos dela mesmo fazendo algo tão absurdamente errado e prejudicial à saúde? – Odeio lugares muito fechados, ou passar muito tempo trancado.
-Por que isso? – ela praticamente sussurrou. Carlos não olhava para ela, mas ficou visível que ele arqueou as sobrancelhas mostrando assim uma indagação – O cigarro. Por que você fuma?
-Porque me acalma – fechou os olhos e suspirou fazendo com que a nuvem que saísse de sua boca fosse apenas em virtude da diferença de temperatura – Gosto de observar a fumaça subindo, então sumindo. Me tira da realidade, ao mesmo tempo que sinto que me mantém a ela; não que isso faça muito sentido. Já sentiu algo assim?
-Não sei. Como é? – inconscientemente, os dois olharam para a mesma direção, para o horizonte, para o céu além das casas vizinhas.
-É como... Vê como o céu muda de cor? Acho que a Mal vê isso melhor do que eu, e saberia explicar melhor já que ela usou essa analogia algumas vezes, mas... mas é a mesma coisa – Jane ouvia atenta, praticamente ávida para entendê-lo melhor – Vê como o azul clareia em tons de lilás? Logo mais as nuvens começarão a ter nuances rosadas e alaranjadas antes de o sol aparecer...
-Vejo... – ela sorriu admirando o céu, praticamente uma pintura feita de sonhos: azul em diversas nuances, clareando devagar conforme conversavam. Ela entendeu exatamente o ponto onde Carlos queria, porém não sabia chegar – É lindo mesmo.
-Não sei se sente o mesmo, mas... Não parece real, essa mistura, esse encontro. Me tira da realidade, mas me mantém preso a ela. Entende?
-Sim... Acho... Acho que gosto de sentir o mesmo, mas relacionado a dança – ela sentiu os olhos dele em si com uma intensidade que fez suas bochechas esquentarem – Sinto que vou para mundos diferentes, sem nunca deixar o meu.
-Dançar é bom – concordou ele – Passa essa mesma sensação de encanto. Gostei da forma como disse: que visita outros mundos sem deixar esse aqui.
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Seduzentes
FanfictionExistem formas diferentes de ser mau. A mais interessante de todas elas é arte da manipulação, sedução... Em todos os sentidos da palavra. "Para que colocar fogo no circo? - pensava Mal - Coloque um isqueiro na mão do macaco..." Claro, é uma delíci...