Infiel

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Infiel - A Dama e o Vagabundo

Audrey estava sozinha em seu quarto. Usava apenas um roupão branco e bem fofinho, os cabelos escovados e úmidos caíam em suas costas. A menina tinha um cheiro doce, uma mistura de baunilha e rosas, um cheiro marcante e bem feminino, um cheiro convidativo. Mas seu perfume não fazia mais efeito algum sobre o namorado.

A princesa sentou-se sobre o sofá embutido a janela e admirou a vista do colégio. Conseguia ver ao longe a copa das árvores tingindo-se de dourado e marrom, o outono dando as caras pouco a pouco. Apoiou os braços no beiral da janela e deitou o rosto. Tal como a mãe, tinha uma voz bela; cantarolava baixinho, só para si, uma música suave e melancólica que denunciava seu estado de espírito.

Audrey estava vivendo um de seus raros momentos sem compromisso, um dos seus raros momentos sozinha. Chad estava falando com a psicóloga e Ben estava... estava... ela não sabia onde ele estava, imagina com quem, apenas.

Seus olhos encheram-se de lágrimas.

Fechando os olhos sua mente era tomada por lembranças dos dois juntos. Eles haviam crescido juntos, se conheciam desde sempre; mesmos bailes, mesmo núcleo de amigos. Por um bom tempo, mal se cumprimentavam; não mais do que a boa educação mandava. Eram muito crianças e preferiam ficar meninos de um lado, meninas de outro; aquela fase chatinha da infância e pré-adolescência.

As lágrimas caíram rápidas por seu rosto, ignorando mesmo seus olhos fechados, mostrando que aquelas gotinhas eram muito mais fortes do que sua atual força de vontade.

Audrey se apaixonara por Benjamin Florian aos 13 anos, no exato instante em que as mãos dos dois se juntaram sobre a toalha que ela derrubara naquela primeira independente festa na piscina. O primeiro sabor da adolescência. Ela se lembrava de ver aqueles olhos bonitos brilharem quando os olhares se fixaram. Soubera que naquele instante Ben estivera apaixonado assim como ela. Mas não fizeram mais do que conversar juntos; as bochechas sempre coradas.

Com 14, os dois já faziam programas juntos, bem mais do que trabalhos de escola e aqueles momentos em que ambos tinham que fazer sala para as realezas. A companhia não era mais uma obrigação, nem uma questão social: era um prazer; algo pelo qual valia a pena esperar. Costumavam sair para cavalgar e paravam sempre num coreto para abrigarem-se do sol. Geralmente Chad aparecia para encontrá-los ali. Novamente, não mais do que conversas, alguns flertes e elogios, todos muito sutis.

Audrey deitou nos próprios braços chorando penosamente.

Lembrou-se então da maior surpresa de sua vida: o lindo baile de 15 anos que seus pais organizaram para ela – claro, a grande maioria considerava o baile de debutante com 16 anos, mas a menina já tinha um corpo maduro e uma mentalidade mais adulta; não havia porque adiar, fora que Audrey sempre quisera uma viagem só com as amigas de aniversário aos 16.

Na noite anterior ao aniversário, ela estivera no palácio da Bela e da Fera, e fora lá, na residência de Benjamin Florian que eles se beijaram delicadamente, apenas um selinho nos lábios virgens dos dois. Ben prometera ali que faria do dia seguinte, do aniversário dela, especial. Mesmo assim entregou o presente dela ali: uma pulseira linda de rosas, num ouro rose maravilhoso.

Na festa surpresa – ela lembrou-se de todos os rituais, de todos os detalhes da decoração, do vestido. Seu vestido começava branco e tornava-se rosa conforme descia pelo corpo, na saia diversas rosas cor-de-rosa... Seu pai trocara a sapatilha branca pelo salto cor-de-rosa impecável. Ela dançara com Philip e então, no meio de um giro, ela se viu sozinha no salão... Ele chegara devagar, em passos lentos, o terno era quase inteiramente branco e sua gravata tinha todos os tons de rosa que haviam no vestido dela. Ben viera vestido para combinar com ela! Ele fora o seu príncipe: curvara-se respeitosamente, beijara-lhe a mão e a conduzira na valsa mais perfeita que ela jamais ouviu.

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