Uma Coisa Muito Importante a Fazer

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Uma Coisa Muito Importante a Fazer - O Ursinho Pooh

Ben não conseguiu – apesar de querer demasiadamente – falar com Mal antes do jantar. Ele tentara enviar mensagem, cogitara um bilhete e quase fora no quarto da moça. Ele não estava se sentindo à vontade com aquela situação.

Jane agora sabia da sua vergonha. Da imensa traição. Que imagem a menina agora teria de seu futuro rei? Como confiar num governante que não conseguia ser fiel à sua própria namorada?

Andava de um lado para o outro em seu quarto. Estava angustiado. Angustiado demais. Havia um nó em sua garganta impossibilitando a passagem de ar; sufocando-o lentamente a cada respirar.

Desistiu de falar com Mal. Decidiu que era com Jane que ele queria e precisava conversar.

Ela é neutra nessa confusão toda. E o príncipe percebeu mais um fator importante que o fez levar a decisão à diante: ele nunca falara sobre aquela situação em voz alta; nunca confessara seus sentimentos, suas angústias... Vivera aquela situação tão as escondidas quanto Mal. A grande diferença era que a menina não parecia ter problema com aquela situação, inclusive sua alteza imaginava que ela já havia estado em situações similares no quesito "manter silêncio". Ele não. Precisava manter as coisas claras; não aguentava mais a sombra, a dúvida, incerteza.

Mandou a mensagem e esperou impacientemente pela resposta. Encontrou a moça nos jardins; um canto sossegado, porém bastante aberto, a mostra. Nada a esconder, mas "nada a declarar".

-Jane, eu queria... Eu não sei o que a Mal contou, mas eu...

-Ela me disse o suficiente.

-Então sobre isso, sobre nós dois...

-Ben, não é da minha conta – disse baixinho – Eu estava sobrecarregada de problemas e... bom, acabou no que deu – disse sem conseguir olhá-lo nos olhos.

-Jane, eu queria conversar com você...

-Não vou contar nada, pode ficar tranquilo – ela falava baixinho, sem olhá-lo.

-Fico aliviado de ouvir isso – admitiu – Mas o que eu realmente queria era um amigo para desabafar, para conversar – ela ergueu seus olhos muito azuis – Você é minha melhor opção.

-Melhor? Ben, sou sua única opção – ela disse com a voz tristinha – Sou a única que sabe.

-Mas eu poderia escolher contar a alguma outra pessoa. Você sempre me pareceu tão confiável, Jane. Na sua, sempre presente, sempre discreta...

-Tudo bem, não precisa mentir... eu te escuto.

O silêncio durou longos segundos até que Benjamin sorrisse constrangido.

-Não sei nem como começar uma conversa sobre isso, guardei tão fundo dentro de mim que... que...

-Tem certeza de que quer dividir seus problemas e sentimentos comigo? Com alguém?

-Eu preciso, Jane – disse fechando os olhos e respirando firme – Preciso entender, para isso eu preciso falar e ouvir a opinião de alguém neutro nessa história toda.

Estavam os dois sentados num dos bancos de cimento. Ele tinha as pernas trêmulas, as mãos firmes sobre os próprios joelhos. Respirou fundo e acalmou-se quando a amiga sussurrou:

-Quando quiser...

Precisava falar... e para ser claro só precisava começar pelo início.

-Você já teve um sonho muito real? Nítido demais, coeso e coerente como uma boa redação. Aquele tipo de sonho que é tão real e inatingível quanto o seu reflexo no espelho.

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