—Vamos mostrar para essa azeda quem é que somos nós. —disse Julia e nós duas fomos em direção aos fundos.
Por sorte, havia alguns tecidos, não era os mesmos do meu desenho, mas, serviria para alguma coisa. Rapidamente, colocamos alfinetes para segurar os panos, e em pouco tempo, fizemos 4 figurinos. Um de: Julieta. Outro de: Romeu. E os outros dois: da corte que seria: um do pai de Romeu, e outro da mãe de Julieta, e por um bom improviso, fora um bom trabalho. Fechamos as cortinas, e colocamos os manequins com as roupas e torcemos para que desse certo. O meu coração estava pela boca, eu estava nervosa, ouvimos atrás das cortinas passos, certamente, os alunos do teatro estavam chegando. Pude escutar os cochichos curiosos de pessoas se questionando o porquê de a cortina estar fechada, e depois de um bom tempo, ouvimos a Sra Hellen perguntando o mesmo. Aquele era um sinal, as cortinas poderiam ser abertas.
Quando a cortina foi aberta, eu sorri abertamente, eu sabia que aquilo era uma loucura, e provavelmente, levaria suspensão, mas, no momento, eu não estava nenhum pouco afim de pensar naquilo. Eu tinha que fazer uma bela apresentação, que fizesse valer a pena cada esforço como aquele. A Sra Hellen, olhou aos figurinos, e se sentou, ela ergueu a sobrancelha, e eu dei um passo à frente e limpei a garganta:
—Muito bem, eu estou aqui para mostrar os figurinos que eu fiz. Mostrar que, podemos ter um figurino, moderno e sem se esquecer da época. Este aqui, é o figurino base para a Julieta. Eu pensei em um estilo de princesa, mas, moderno. As cores, deixam o figurino retro, porém, não cafona. Vermelho, é a cor do amor, porém, também da guerra. Representa a guerra do coração de Julieta, e ao mesmo tempo, no amor que ela sentiria por Romeu, que fizesse ela cometer loucuras. Já no figurino do Romeu, eu pensei em algo o oposto, Verde esmeralda, as listras representam força e coragem, mas, não se esquecendo da cor verde que traz esperança. Amarelo para as roupas do pai do Romeu, onde mostra a dureza do coração, e a braveza do seu reino, os círculos representam oscilações de espirito, ele tinha o amor pelo filho, mas, não podia permitir que o filho se casasse com Julieta. Já na mãe de Julieta, decidi colocar as flores com ramos, representa que a mente e coração estavam em guerras, e a morte da filha causou dores. Tudo isso, foi feito no imprevisto, eu havia feito um projeto muito bem detalhado e com outros designers. Mas, decidi trazer para o palco, assim com as luzes, as cores podiam se destacar. E, é isto. — Sorri envergonhada.
Houve um silencio abrupto, ninguém falou, nem mesmo eu consegui soltar a respiração, porém, um único som me fez acordar do êxtase.
O som das palmas da professora Hellen, que com os olhos marejados, ela subiu no palco e disse:—Esses, são os melhores figurinos para a minha peça, posso toca-los? —perguntou a Professora com um certo receio.
Julia que já estava em lágrimas, apareceu ao meu lado, e eu sorri para ela e uma lágrima caiu sob o meu rosto. A professora, tocou nos tecidos, e respirou profundamente e disse:
—Cassie, meus parabéns, você é a nova figurinista da nossa peça. —E ficou admirada me olhando, o meu coração saltou, e eu nem sabia o que dizer ou fazer.
Continuei sorrindo e Julia me deu um abraço, os outros, bateram palmas e eu só soube sorrir. Ali, eu soube de uma única coisa: eu precisava lutar. Ficar calada não era a opção para mim, eu precisava lutar. O sinal tocou, enquanto estávamos conversando sobre a peça, a professora Hellen, havia me dito que eu precisava manter a mesma concepção das roupas que eu havia feito. Anotei tudo que eu precisava, e o sinal tocou, quando saímos do teatro, Julia segurou o meu braço e disse:
—Cass, isso foi, maravilhoso! —exclamou ela:
—Me senti notada, me senti quista. E o que você fez, pedindo para a professora me colocar como sua auxilia, foi nobre. —Sorriu ela com os olhos marejados.
—Julia, isso não foi nada. Foi o mínimo que eu podia fazer para você. Além do mais, isso não é nem o começo do que eu quero fazer nessa escola, temos longos anos para mudar a situação, e por isso, quero transformá-la. — disse sorrindo.
—O que quer aprontar agora? —perguntou ela sorrindo para mim, mas, não havia desconfiança.
—O que acha de nós criarmos um grupo? —perguntei a Julia a caminho da próxima aula.
—Grupo? de que? —perguntou ela curiosa.
—Bom, sabemos o que é ser invisível. Mais você do que eu, claro. Mas, sabemos. E se, criarmos um grupo de apoio para as pessoas que se sentem invisíveis. Tipo, que não conseguem simplesmente serem ouvidas. —disse sorrindo, e pela primeira vez, eu vi Julia calda e séria.
Eu vendo a sua expressão, me senti meia que, arrependida por ter sugerido. Era a reação que eu menos esperava. Foi então, que eu abri a boca para falar, e ela disse primeiro:
—Cass, olhe, eu não sei se eles vão querer. Se a escola vai querer entende? Nunca houve grupos sem ser de professores no comando. Duvido muito que vão querer nos apoiar. —disse ela baixinho.
—E quanto a liberdade de expressão? Aqui não existe? —perguntei olhando séria para Julia.
Julia abaixou a cabeça e disse:
—A escola não acha necessário entende? as pessoas que estão invisíveis, não veem um motivo para sair do anonimato. Porque, só assim, elas podem seguir as suas vidas em paz, e estudar em paz. A partir do momento que elas se manifestam, elas não podem mais revogar. Nem todos acham bonito pessoas que lutam contra isso, Cass, acho melhor não sonhar alto. —disse Julie, desanimando.
Aquilo para mim, foi um balde de água fria, eu realmente, não esperava que ela teria aquela atitude, e aquilo, foi como ver a escola de outra maneira. Se tornou um refúgio estar olhando para o anonimato, estar no anonimato. Eu suspirei, e então, seguimos para a aula de Biografia, mas, eu já não estava mais concentrada. E quando os 50 minutos se passaram, eu me virei para Julia, ela estava com lágrimas no rosto, e então, me levantei e fui até ela.
Ela tentou enxugar as lágrimas, mas, não houve sucesso:—Cass, eu.... —Ela tentou argumentar, mas, eu sabia que ela não tinha forças.
Eu abracei Julia muito forte, era nós duas contra o mundo todo. Se não era, parecia com certeza. Eu olhei nos olhos dela e disse:
—Você sabe que precisa enfrentar isso de alguma forma não sabe? que, de alguma maneira, talvez, devêssemos tentar. —disse e ela suspirando assentiu com a cabeça.
Ela ergueu a manga da camiseta fina e cinza que ela estava vestindo, e quando eu vi as
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Além das Aparências - Veja além das suas Aparências
RomanceVocê já parou para pensar que suas palavras podem interferir na vida de outra? Não acredita nisso? Tem certeza? Pois eu vou te contar uma história de uma garota normal, que ela me fez pensar duas vezes antes de responder alguém ou até mesmo fazer um...