Capítulo 5: "Humilhação" - parte 3

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Julia colocou a mão no meu ombro como se estivessem me consolando, e então, juntas caminhamos em direção a saída da escola.

Meu telefone ligou, eu atendi:  

 —Oi mãe, tudo bem com a Senhora? — perguntei demonstrando preocupação.   

Minha mãe lançou um leve suspiro pelo telefone, e então, ela disse: 

 —A base de café filha. Te liguei para te dizer que o prefeito quer te encontrar na câmara ainda hoje. Já saiu da escola não é mesmo? —perguntou ela com curiosidade. 

  —Certo. Já sai sim, mas, ele te adiantou o assunto? —perguntou ela me olhando com atenção. 

—Não, terá que descobrir. Aproveite e leve Julia com você. — disse minha mãe sugerindo e desligou o telefone, ela sabia que eu iria discordar. 

   Julia estava me olhando quando eu guardei o telefone, e então, disse:  

  —Onde nós vamos? —perguntou ela sorrindo e eu revirei os olhos.  

  —O prefeito quer me ver hoje, agora. —disse: —  Minha mãe disse para você ir junto, mas, não precisa se não quiser. - disse suspirando, e Julia então, sorriu e disse:    

—Ver o prefeito é? que máximo. Vamos lá. —disse ela indo em direção do bicicletário e destravando a bicicleta e montando. 

   Apostamos corrida até a câmara e então, assim que chegamos ali estacionamos as bicicletas e entramos.

A Prefeitura era um prédio enorme, com janelas de vidros de fora a fora, que cobria todo o edifício, letreiros espelhados e uma enorme porta que abria automaticamente, como as do shopping. Assim que entramos, a secretária dele estava atrás do balcão, pediu os documentos, e os nomes. E pediu para que esperássemos no andar de cima, onde ficavam cadeiras pretas uma ligada a outra. Subimos no elevador, e então, vemos as cadeiras pretas e sentamos.

Demorou alguns minutos, até finalmente sermos chamadas, o prefeito era um homem alto, magrelo e branco, havia um enorme bigode no rosto e então, com um sorriso amarelo de café ou possivelmente cigarro, ele pediu que sentassemos na cadeira.    

—Sr Johnson, o Sr pediu para me chamar? perguntei sorrindo com delicadeza e Julia foi logo se sentando.  Muito bem, é um prazer revê-las juntas outra vez. Vi que o seu nome Cassie estava na lista de voluntários desse ano. O que me deixa profundamente orgulhoso e certo, de que fará um bom trabalho. Com tudo, tenho receio de que, a sua presença seja interpretada de uma forma... — ele parou para pensar. 

 —De uma forma? — repeti para que ele concluísse a linha de raciocínio.   

—Duvidosa. — disse ele em ter muita noção da palavra para conjugar.  

 —Não compreendi muito bem. —disse perdida e confusa. 

  —Muito bem, vou tentar explicar. O seu histórico é restritamente impecável. Boas notas, boa referência, e além de tudo, um trabalho lindo e muito bem feito, como aquela peça na escola. — disse ele sorrindo :

—Mas, esse ano, virá uma rede televisiva, para divulgar o nosso trabalho, e lidaremos com algo mais fútil do que perfeito. E você, como uma pessoa perfeccionista, não está enquadrada em nossa peça desse ano. —disse ele suspirando como se tivesse jogado um peso do corpo.  

 —Mas, eu não compreendo. Eu me inscrevi dois anos seguidos para participar, para ser chamada. — disse com uma voz mais fina do que o comum. 

—Eu sinto muito Cassie, mas, nesse ano, precisamos de imagem. —disse ele se levantando.  

  Julia se levantou, seu semblante mudou, eu segurei em seu punho, mas, não pude evitar o que viria por aí:  

—Seu mentiroso! Você não quer que uma gorda seja vista, não é? tem vergonha do que ela pode fazer? da imagem que ela possa trazer? —questionou Julia ferozmente. 

—Não é nada disso... - disse o prefeito em sua defesa. 

 —Vamos julia... deixa isso para lá. —disse eu me levantando e saindo.  

  O prefeito então, disse: 

  —Mas, se quiser ajudar a sua cidade, poderia desenhar alguns figurinos para nós? — falou o prefeito enquanto eu estava na porta, prestes a sair.  

  Eu me virei, respirei fundo e disse:    

—Sinto muito. Sem mim, sem minhas obras. —disse e sai pela porta enfurecida.

—Velho mesquinha! Nojento! Avarento! Podre! Preconceituoso! — resmungava Julia ao sair da Prefeitura, eu subi na bicicleta e fiquei em silêncio. 

—Porque você está em silêncio? Era para você estar furiosa como eu! — exclamou ela me olhando e subindo na bicicleta.

  —Para que? Não vai mudar o fato dele só pensar nas aparências, Ju. — disse a ela e ela revirou os olhos e disse:

—Você não pode ser pacifica o tempo todo Cassie, vai ter que aprender a se respeitar e a se posicionar. —disse Julia pedalando ao meu lado.

—Falar, brigar, tudo isso é em vão Ju, tenho que fazer algo. E não brigar. —Disse e ela revirou os olhos e disse:

  —Então, fica por isso mesmo? o seu sonho morreu? — perguntou ela.

E eu fiquei em silêncio, incapaz de responder quaisquer coisas. Eu só queria chegar em casa, trocar de roupa, tomar um belo banho e dormir. Não queria conversar, ou processar aquilo tudo do dia de hoje, já tinha sido um dia angustiante e cansativo. E eu já estava cansada o suficiente.

 Deixei Julia na casa dela, e nos despedimos, assim que cheguei em casa, fui na geladeira fazer um pão, quando, vejo bilhete na geladeira: 

"Filha, reunião de negócios. Não irei ao jantar. Beijos, mãe." 

Suspirei ao ler o bilhete, amassei e joguei no lixo da pia, preparei o lanche e então, subi para o meu quarto. Peguei o caderno e tentei rabiscar, mas, minha mente não me deixou concluir. Não conseguia parar de pensar em como o dia tinha sido péssimo, me joguei na cama, e comecei a chorar no travesseiro, ao ponto de gritar. Tudo era muito injusto comigo, as pessoas sendo tão cruéis, chorei até perder as forças e dormi de tanto chorar. 

Acordei, e olhei no relógio, era 23:00 horas. Peguei o meu pijama, e fui tomar banho, abri o notebook, e então, entrei nas redes sociais, ali havia um enorme cartaz da faculdade dos meus sonhos:

"San Francisco State University."

Uma faculdade conceituada da Califórnia.
 
Porém, eu era muito fraca para esse tipo de lugar, jamais chegaria ali.  

Mal sabia eu, que as coisas mudariam a partir daquele dia...

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