—Então, o que pensa em fazer hoje à noite? —perguntou Cassie enquanto caminhavamos em direção ao teatro.
—Bom, eu ainda não sei. Talvez ficar só de Netflix e você? — perguntei curioso.
—Bom, na verdade, eu não tenho nada para fazer. O que acha que aparecer lá em casa? — sugeriu ela sorrindo e eu sorri de volta.
Vai ser difícil de explicar, mas, quando Cassie me olha, eu me sinto nervoso. Ela provoca em mim sensações e emoções que eu jamais havia sentido. Eu nunca estive ao lado de uma garota antes, ou melhor, estive, mas ela nunca prestou atenção em mim. E Cassie, falava olhando nos olhos, o que me deixava mais nervoso ainda.
Sorri e então, disse:
—Bom, eu levo a pizza. —disse piscando e ela sorriu e desviou o olhar.
Ficamos algum tempo em silêncio, e quando já não aguentava mais a tortura. Eu disse:
—Você gosta de quais filmes? — perguntei e ela sorrindo disse:
—Ah não, não mesmo. — disse ela dando uma risada.
—Que foi? Fui inconveniente? — perguntou ele assustado.
—Não. Mas, está fazendo algo que definitivamente não é o momento agora. — disse ela por fim.
—Eu não compreendo. —disse confuso, realmente não havia entendido.
—Bom, nos filmes americanos a garota branca é xavecada com essa pergunta. —disse ela sorrindo e então, eu compreendi.
Cassie era diferente em todos os sentidos, até mesmo nesse.
—Muito bem, então, quando posso saber mais sobre você? — perguntei e então, Cassie sorrindo, apressou o passo e empurrou a porta do teatro, me deixando sem resposta.
Cassie subiu no palco, e como ela daria uma bela modelo fotográfica.
Daquelas que, chega chegando.Fiquei parado olhando para Cassie uns 5 minutos e ela acabou percebendo:
—Travou foi? — perguntou ela dando risada.
—Ah, desculpa. Eu distraí. — disse sorrindo timidamente.
—No que estava pensando? — perguntou ela sorrindo e se aproximou de mim, ainda em cima do palco.
—Em como daria uma bela modelo de fotografia. — disse e ela surpresa, começou a dar risada.
—Ficou maluco? Uma gorda não pode ser modelo. —disse ela rindo e debochando.
Indignado, subi no palco e fiquei atrás dela e disse:
—Você ficou maluca? por acaso nunca ouviu falar da Ashley Graham? A história dela é linda! E fora, aquela modelo brasileira Sylvia Braun, e aquela outra Josiane Lira? O mundo da fotografia é para todos os tipos de corpo Cassie, não somente para as magrelas. —Disse colocando as mãos na cintura dela.
Cassie prendeu a respiração, e então, disse:
—Acha mesmo que eu poderia ser uma boa modelo? — perguntou ela ainda na minha frente.
—Com todas as letras. Posso não entender de moda, e tecidos. Mas, acredite em mim quando digo que, você daria uma ótima modelo. — disse e ela se virou, nossos olhos se encontraram, e ficamos assim por alguns minutos.
—Como pode afirmar uma coisa dessas? —perguntou ela e eu me afastei, soltei a sua cintura e disse:
—Não, não venha com essa. — disse e ela me olhou e disse:
—Como?! — perguntou ela sem compreender.
—Não vai ficar me tratando como um garoto clichê. Meninas brancas, fazem essa pergunta o tempo todo quando querem xavecar. Eu sou diferente. — disse fechando os olhos e quando abri, Cassie estava dando risada e segurando a barriga.
Depois disso, ficamos dois períodos atentos fazendo o cenário.
Escolhemos dois tipos de panos, haviam verdes de todas as cores, e todos os tons e não sei como Cassie conseguia se achar nessa confusão toda, afinal, era vários tons das cores.
—Como você faz isso? — perguntei separando os tons claros de vermelho, dos tons escuros.
—Isso o que? — perguntou ela arrumando perfeitamente a sua pilha de tecidos no chão.
—Organizar sem ficar maluca. Olhe, veja a diferença da minha pilha para a sua. A sua parece que foi feita por um robô, e a minha, de uma criança de 5 anos. — disse e Cassie dando uma risada fraca, respondeu:
—Bem, quando fico focada em alguma coisa, eu trabalho com o todo o empenho. Quando lidamos com tecidos, temos que imaginar um quadrado em cada pedaço. — disse ela abrindo o tecido no chão e fazendo a forma do quadrado invisível no tecido com o dedo.
—E você acha mais fácil fazer assim, do que simplesmente desenhar um quadrado? — questionei e ela deu uma risada e disse:
— Moda também usa imaginação. Es, não dá tempo de desenhar. Então, usamos ela para fazer o serviço mais chato. — disse ela sorrindo e eu compreendi.
Abri o tecido no chão, e então, com muito esforço imaginei um quadrado, e fazendo isso, dobrei no ponto do meio.
O que me permitiu um quadrado quase perfeito, mas, com muita prática eu chegava lá. Assim que o terceiro sinal tocou, eu e Cassie concluímos tudo, as pilhas estavam em ordem de cores: Claras, médias e escuras.
E quando acabamos eu suspirei disse:
—Depois disso, o que vai vir a seguir? — perguntei curioso.
—Vamos desenhar os cenários. Cada cor para um tipo de cenário. Decidi fazer vários tons de claros, assim podemos fazer camuflagem do cenário. — disse ela orgulhosa.
—Você já tem um rascunho? — perguntei e ela negou com a cabeça.
—E aí? vai no desfile? — disse ela empilhando os tecidos no canto da enorme sala atrás do palco.
—Sinceramente? Não pretendo ir. o prefeito não quis os meus trabalhos. — disse ela suspirando fortemente.
—Como assim ele não quis os seus trabalhos? Você é a melhor de toda a cidade. E outra, é voluntário. — disse indignado.
—Eu sei. Mas, ele disse que não me enquadro nos padrões do desfile. Tem vergonha de apresentar uma gorda coo frente de linha nos modelos. — disse ela abaixando a cabeça. —E para você tudo bem? — Falei incrédulo.
—E o que você quer que eu faça? soque o prefeito? —disse ela debochando.
—Não, mas, não pode se conformar com isso Cassie. Você é a talentosa e merece por isso. — disse e ela deu de ombros.
—Tanto faz, isso não importa mais. Sou gorda, e não me querem lá. Então, não vou. —disse ela tentando colocar um ponto final nisso.
—E você acha mesmo que para mim vai ser um "Tanto Faz? "— perguntei erguendo a sobrancelha e ela me olhou nos olhos.
—E o que você pode fazer? Você não é gordo. Não pode combater isso. — disse ela colocando a última pilha de tecidos e indo em direção a porta.
Quando ela disse isso, eu quis retrucar. Dizer a quão errada ela estava, porém, não tinha forças para relembrar o passado, e tinha medo de não ser compreendido com a minha luta constante e diária contra mim
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Além das Aparências - Veja além das suas Aparências
RomanceVocê já parou para pensar que suas palavras podem interferir na vida de outra? Não acredita nisso? Tem certeza? Pois eu vou te contar uma história de uma garota normal, que ela me fez pensar duas vezes antes de responder alguém ou até mesmo fazer um...