Capítulo 7: "Quem sou" - parte 2

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—Então, o que pensa em fazer hoje à noite? —perguntou Cassie enquanto caminhavamos em direção ao teatro.

—Bom, eu ainda não sei. Talvez ficar só de Netflix e você? — perguntei curioso.

—Bom, na verdade, eu não tenho nada para fazer. O que acha que aparecer lá em casa? — sugeriu ela sorrindo e eu sorri de volta.

Vai ser difícil de explicar, mas, quando Cassie me olha, eu me sinto nervoso. Ela provoca em mim sensações e emoções que eu jamais havia sentido. Eu nunca estive ao lado de uma garota antes, ou melhor, estive, mas ela nunca prestou atenção em mim. E Cassie, falava olhando nos olhos, o que me deixava mais nervoso ainda.

Sorri e então, disse:

—Bom, eu levo a pizza. —disse piscando e ela sorriu e desviou o olhar.

Ficamos algum tempo em silêncio, e quando já não aguentava mais a tortura. Eu disse:

—Você gosta de quais filmes? — perguntei e ela sorrindo disse:

—Ah não, não mesmo. — disse ela dando uma risada.

—Que foi? Fui inconveniente? — perguntou ele assustado.

—Não. Mas, está fazendo algo que definitivamente não é o momento agora. — disse ela por fim.

—Eu não compreendo. —disse confuso, realmente não havia entendido.

—Bom, nos filmes americanos a garota branca é xavecada com essa pergunta. —disse ela sorrindo e então, eu compreendi.

Cassie era diferente em todos os sentidos, até mesmo nesse.

—Muito bem, então, quando posso saber mais sobre você? — perguntei e então, Cassie sorrindo, apressou o passo e empurrou a porta do teatro, me deixando sem resposta.

Cassie subiu no palco, e como ela daria uma bela modelo fotográfica.
Daquelas que, chega chegando.

Fiquei parado olhando para Cassie uns 5 minutos e ela acabou percebendo:

—Travou foi? — perguntou ela dando risada.

—Ah, desculpa. Eu distraí. — disse sorrindo timidamente.

—No que estava pensando? — perguntou ela sorrindo e se aproximou de mim, ainda em cima do palco.

—Em como daria uma bela modelo de fotografia. — disse e ela surpresa, começou a dar risada.

—Ficou maluco? Uma gorda não pode ser modelo. —disse ela rindo e debochando.

Indignado, subi no palco e fiquei atrás dela e disse:

—Você ficou maluca? por acaso nunca ouviu falar da Ashley Graham? A história dela é linda! E fora, aquela modelo brasileira Sylvia Braun, e aquela outra Josiane Lira? O mundo da fotografia é para todos os tipos de corpo Cassie, não somente para as magrelas. —Disse colocando as mãos na cintura dela.

Cassie prendeu a respiração, e então, disse:

—Acha mesmo que eu poderia ser uma boa modelo? — perguntou ela ainda na minha frente.

—Com todas as letras. Posso não entender de moda, e tecidos. Mas, acredite em mim quando digo que, você daria uma ótima modelo. — disse e ela se virou, nossos olhos se encontraram, e ficamos assim por alguns minutos.

—Como pode afirmar uma coisa dessas? —perguntou ela e eu me afastei, soltei a sua cintura e disse:

—Não, não venha com essa. — disse e ela me olhou e disse:

—Como?! — perguntou ela sem compreender.

—Não vai ficar me tratando como um garoto clichê. Meninas brancas, fazem essa pergunta o tempo todo quando querem xavecar. Eu sou diferente. — disse fechando os olhos e quando abri, Cassie estava dando risada e segurando a barriga.

Depois disso, ficamos dois períodos atentos fazendo o cenário.

Escolhemos dois tipos de panos, haviam verdes de todas as cores, e todos os tons e não sei como Cassie conseguia se achar nessa confusão toda, afinal, era vários tons das cores.

—Como você faz isso? — perguntei separando os tons claros de vermelho, dos tons escuros.

—Isso o que? — perguntou ela arrumando perfeitamente a sua pilha de tecidos no chão.

—Organizar sem ficar maluca. Olhe, veja a diferença da minha pilha para a sua. A sua parece que foi feita por um robô, e a minha, de uma criança de 5 anos. — disse e Cassie dando uma risada fraca, respondeu:

—Bem, quando fico focada em alguma coisa, eu trabalho com o todo o empenho. Quando lidamos com tecidos, temos que imaginar um quadrado em cada pedaço. — disse ela abrindo o tecido no chão e fazendo a forma do quadrado invisível no tecido com o dedo.

—E você acha mais fácil fazer assim, do que simplesmente desenhar um quadrado? — questionei e ela deu uma risada e disse:

— Moda também usa imaginação. Es, não dá tempo de desenhar. Então, usamos ela para fazer o serviço mais chato. — disse ela sorrindo e eu compreendi.

Abri o tecido no chão, e então, com muito esforço imaginei um quadrado, e fazendo isso, dobrei no ponto do meio.

O que me permitiu um quadrado quase perfeito, mas, com muita prática eu chegava lá. Assim que o terceiro sinal tocou, eu e Cassie concluímos tudo, as pilhas estavam em ordem de cores: Claras, médias e escuras.

E quando acabamos eu suspirei disse:

—Depois disso, o que vai vir a seguir? — perguntei curioso.

—Vamos desenhar os cenários. Cada cor para um tipo de cenário. Decidi fazer vários tons de claros, assim podemos fazer camuflagem do cenário. — disse ela orgulhosa.

—Você já tem um rascunho? — perguntei e ela negou com a cabeça.

—E aí? vai no desfile? — disse ela empilhando os tecidos no canto da enorme sala atrás do palco.

—Sinceramente? Não pretendo ir. o prefeito não quis os meus trabalhos. — disse ela suspirando fortemente.

—Como assim ele não quis os seus trabalhos? Você é a melhor de toda a cidade. E outra, é voluntário. — disse indignado.

—Eu sei. Mas, ele disse que não me enquadro nos padrões do desfile. Tem vergonha de apresentar uma gorda coo frente de linha nos modelos. — disse ela abaixando a cabeça. —E para você tudo bem? — Falei incrédulo.

—E o que você quer que eu faça? soque o prefeito? —disse ela debochando.

—Não, mas, não pode se conformar com isso Cassie. Você é a talentosa e merece por isso. — disse e ela deu de ombros.

—Tanto faz, isso não importa mais. Sou gorda, e não me querem lá. Então, não vou. —disse ela tentando colocar um ponto final nisso.

—E você acha mesmo que para mim vai ser um "Tanto Faz? "— perguntei erguendo a sobrancelha e ela me olhou nos olhos.

—E o que você pode fazer? Você não é gordo. Não pode combater isso. — disse ela colocando a última pilha de tecidos e indo em direção a porta.

Quando ela disse isso, eu quis retrucar. Dizer a quão errada ela estava, porém, não tinha forças para relembrar o passado, e tinha medo de não ser compreendido com a minha luta constante e diária contra mim

Além das Aparências - Veja além das suas AparênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora