—Não posso acobertar você, eu realmente preciso de um ajudante. —Disse bufando com impaciência.
Louis parou, e passou as mãos pelos cabelos sedosos dele e disse:
—Me peça qualquer coisa, e eu vou fazer. Qualquer coisa. —disse ele me olhando nos olhos.
Eu coloquei a mão na têmpora, e então falei:
—Traga para mim, um desenho do uniforme das líderes de torcida.— Ele se alegrou, e batendo palmas, abriu a boca para dizer. Eu então, ergui o dedo e disse:
—Ainda não acabou. Além disso, vamos nos encontrar na praça da cidade. —E ele me olhou perplexo e disse:
—Para que? —perguntou ele me olhando sem entender nada.
—Não vou fazer os figurinos sozinha Louis, preciso de ajuda. E o castigo é seu, só vou mudar o horário. —disse suspirando.
—Então, se eu te encontrar na praça, eu não preciso vir no final dos ensaios? —perguntou ele com cautela.
Eu revirei os olhos e disse:
—Não, não precisará. —disse com firmeza.
Louis saiu disparado pelo corredor da escola, eu suspirei e eu sabia que não daria certo. Foi então, que eu fui caminhando em direção a aula e então, subi as escadas em direção a sala de aula. Assim que cheguei, pedi licença e entrei na sala. Coloquei o caderno e olhei para o quadro negro.
Ali estava escrito:
"Porca Gorda."
Eu engoli a seco, Julia me olhou e disse:
—Eu surrar quem fez isso com você. —disse ela mostrando os punhos.
—Não, não precisa não. —disse suspirando e escorreguei pela cadeira.
O sinal tocou, passou tão rápido que eu nem percebi. O professor apagou tão rápido, que seria ter sido melhor se ele não tivesse feito. As pessoas ao meu redor, faziam som de porco, aquilo acabava comigo. Na troca de aula, Louis apareceu com um tecido branco e vermelho, sabe-se lá como foi que ele conseguiu o tecido.
E ele suspirando disse:
—Toma, o seu tecido. —disse ele me dando, ele olhou ao redor e viu as pessoas me zombando, eu abaixei a cabeça.
—Obrigada. —disse baixinho.
—Cassie... eu sinto muito por.... —Ele abriu a boca para dizer algo a mais, porém, um outro garoto veio e bateu no seu ombro.
—Ei cara, está fazendo o que aí? Vem sentar com a turma cara. Porque está falando com a porquinha? — perguntou o garoto debochando.
—Eu... eu só.... —disse o Louis sem jeito.
—Vem, cara. —disse o outro rapaz apareceu batendo nas costas do Louise.
Ele me olhou, e eu abaixei a cabeça. Eu estava tão cansada de ouvir isso, Louis se afastou com a cabeça baixa, o meu coração estava pulsando. Eu não queria mais ser gorda, não queria mais que me chamassem assim. Eu estava cansada, cansada de lutar contra tudo aquilo. Então, me levantei, e sai pela sala, Julia se levantou, mas eu passei tão rápido por ela que não deu tempo.
Eu então, corri para o banheiro, e um pensamento veio em minha mente:
"Você precisa dar um jeito nisso."
"Nunca vai conseguir lidar contra isso, se não tomar uma atitude."
"Liberte-se de você mesma, não é isso que é Diversidade?"
" Faça, você se sentirá melhor."
Eu corri para o banheiro, e me ajoelhei perante ao vaso sanitário, com as mãos trêmulas, e então, coloquei o dedo na garganta e coloquei tudo para fora. Não queria mais ser gorda, não queria mais ser o centro das atenções, não pelo o meu talento, ou por algo que eu fiz. Eu queria ser por causa de mim, ser gorda se tornou um problema, e eu iria resolver. Coloquei a mão ainda na minha garganta, e coloquei todo o café da manhã para fora, e assim que eu acabei, eu chorei.
Chorei até o sinal tocar, trêmula, eu estava me sentindo enjoada, vazia e triste. Limpei a boca, e então, eu me levantei, dei a descarga e limpei a boca. Me olhei no espelho, e senti nojo do que eu estava vendo, uma moça negra, que deveria representar força, estava com nojo de si mesma. E eu cobri o rosto, não conseguia me encarar. Sai da portado banheiro, limpando os olhos, ninguém estava por perto. E coloquei a mão no bolso, e vi os dois tecidos e e de repente, senti que eu poderia ser o que eu bem quisesse, porque afinal, eu iria lutar contra mim mesma. Julia me encontrou no intervalo, havia escolhido uma mesa bem afastada das pessoas, o refeitório da escola, era um lugar bem amplo, com inúmeras mesas redondas. E como símbolo da nossa adorável escola, havia uma águia no meio da mesa, aquilo era ridículo. Julia se aproximou de mim e se sentou ao meu lado, ela me olhou e disse:
—Para onde você foi? Depois, daquilo. — disse ela baixinho.
—Precisei ficar sozinha Ju, um tempo sozinha. —disse mais baixo ainda.A bandeja da comida da escola, estava sob a mira dos meus olhos, mas, eu não conseguia comer. Era como se eu sentisse nojo de tudo.
—Você não tocou na comida não é? —perguntou Júlia me analisando.
Eu abaixei os olhos, e peguei o garfo e coloquei na boca, e de repente, senti a fome vindo com intensidade."Isso, coma tudo. Não pode deixar que vejam você. Coma, e depois, se livre disso."
Comi todo o almoço da minha bandeja, Julia ficou me observando atenta e então, ela disse:
—Eu tenho uma notícia para você, não sei se vai achar boa. —Olhei nos olhos de Júlia e ela então, disse:
—Eu arranjei um emprego por tempo integral aqui na lanchonete da cidade. Tem mais uma vaga sobrando, e eu queria saber se você não gostaria de trabalhar comigo. Você sabe, fazer o seu sonho de ser figurinista dar certo. — disse ela com cautela.
Eu parei, não sabia se ela estava falando sério mesmo ou não, só fiquei ali parada.
Alguns alunos da minha sala, ainda me olhavam, e faziam gestos ou sons desagradáveis e então, eu engoli a seco, e disse:
—Falarei com a minha mãe, obrigada por me dizer. — disse concluindo.
—Cass, você não precisa fingir que está bem. —disse ela ainda insistindo no papo de ser psicóloga.
—E eu não preciso de uma psicóloga. —disse por fim.
Julia baixou a cabeça lentamente, fechou os olhos, e puxou a respiração e permaneceu em silêncio. Eu sabia que ela estava tentando me ajudar, ou então, descobrir o motivo de eu estar daquele jeito. Eu sabia que eu podia contar com ela, afinal, ela sabia o que era estar assim. Mas, eu me sentia tão pesada, tão cansada, tão desanimada que eu não tinha forças para contar nada a ela, então, depois de um tempo, eu disse:—Então, como foi na Califórnia? — perguntei tentando amenizar o clima ruim.
Julia me olhou, e de repente, mudou o semblante. Ela adorava falar sobre sua experiência na Califórnia.—Foi um tratamento bem difícil, quatro anos longos e eu já queria subir pelas paredes. A instituição não me deixou nenhum minuto em paz. Mas, por outro lado, eu venci os meus... — e ela parou e colocou a mão no pulso e disse:
—Demônios. — e colocou a palavra em aspas.
—Você conheceu a cidade? — perguntei curiosa.
—Sim, com certeza. Fizemos um tour de "Lugares Proibidos." —ela disse dando risada.
—Mas, isso não faz o menor sentido. —Comentei dando risada com aquela informação.
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Além das Aparências - Veja além das suas Aparências
RomanceVocê já parou para pensar que suas palavras podem interferir na vida de outra? Não acredita nisso? Tem certeza? Pois eu vou te contar uma história de uma garota normal, que ela me fez pensar duas vezes antes de responder alguém ou até mesmo fazer um...