Capítulo 10: "Você Aceita?" - parte 1

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O sinal tocou, e sai em disparada para casa.  

Motivo? 

Meu pai que havia um tempo considerável que eu não via, estava na cidade.

E o motivo do pânico?  

É da última vez que eu o vi, eu estava gritando com ele. Dizendo o quão covarde ele era, por estar saindo de casa daquela forma. E o pânico só aumenta, quando penso que talvez, no exato momento da minha vida, eu esteja sendo covarde como ele, ou pior do que ele. Júlia e Louis, quiseram vir em comigo, mas por motivos de vergonha eu havia dito que estava tudo bem eu estar fazendo aquilo sozinha e que, talvez seria até melhor. TALVEZ.

Foi então, que eu montei na bicicleta, e corri em direção a minha casa, e ao chegar lá, percebi o quão zona aquilo tudo estava, como era somente eu e minha mãe, criamos uma regra básica:

“Fazemos aquilo que queremos, quando queremos. Nada de ordem.”

E para ser sincera, estava tudo fora de ordem, não de um jeito, orgulhoso de se ver, mas sim de algo deplorável. Peguei o saco preto de lixo, e aí começou a verdadeira faxina, caixas de pizzas empilhadas na cozinha, garrafas de whisky, latas de Coca-Cola pela pia. Tudo isso indo em direção a sacola de lixo, e em menos de 5 minutos, tudo estava como deveria ser uma casa de duas mulheres, só que de um jeito “Novela” de ser.

Alguns quadros na estante escura, estavam vazios, tudo isso porque a ilustre “Dona da casa”, havia rasgado e jogado fora algumas fotos que continham o meu pai, resultado? Bem, fotos pela metade, e quadros vazios com os vidros quebrados. Peguei os quadros, e abri novamente outro saco de lixo preto, joguei todos dentro e fiz um nó, era hora de dizer adeus ao passado, apesar que era inútil, pois, o passado ia bater na porta logo, logo. 

Depois, foi a vez do banheiro de baixo, uma pequena borrifada de perfume aromatizador, uma descarga poderosa para o sabão e desinfetante da privada fazer efeito, e uma passada de pano seco no vidro, já dava uma imagem menos pior do que a verdadeira (na verdade, aquele banheiro era conhecido como:

“Banheiro do vômito”, porque quando minha mãe bebia, ela fazia questão de correr para lá.) Assim que deixei o banheiro apresentável, subi as escadas fui no depósito, ali peguei a vassoura e rapidamente, limpei toda a sala e cozinha, um resultado que já me deixou suando e cansada. Passei vassoura nas escadas e então, subi para os quartos.

   —Calma Cassie, é só o seu pai. Não o presidente dos Estados Unidos. —Eu dizia a mim mesma.

Mas, o pânico era real. E como perfeccionista, eu queria que tudo saísse do modo mais perfeito que pudesse estar, ou tentaria né.

Subi aos quartos, bom, entrei em pânico quando vi o da minha mãe: Seus vestidos no chão, seu armário entre aberto, e seus sapatos jogados para qualquer lado.

Era impressionante a forma como o quarto gritava por socorro, rapidamente, ajeitei a cama, peguei as meias, e os sapatos, joguei Dentro do armário e as meias no cesto transbordantes de roupas sujas. Suspirando, passei a vassoura, fechei o armário, e abri a janela, o sol entrou com força, e pude ouvir o quarto respirando um ar puro.

Deixei a porta do quarto da minha mãe, entre aberta, e corri para o meu, estava tão pior quanto ao da minha mãe, só que a diferença, é que tinha um saco de cacos de vidros perto da porta, peguei o saco preto, joguei todo o vidro ali, e certamente, meu pai perguntaria sobre o vidro do armário, afinal, ele quem escolhera para mim, mas, a mentira sempre prevalece, pelo menos, no momento atual. Eu então, joguei as roupas dentro do armário, e os sapatos na sapateira, e meias no cesto, e com uma bela vassoura e os armários fechados, dava para abrir a janela e não passar tanta vergonha.
Posso parecer exagerada quanto a limpeza, porém, o meu pai era tão perfeccionista quanto eu, e eu sabia que esses detalhes como: Vidros limpos, e quartos arejados, ele iria notar e comentar.

E quando eu estava limpando meu banheiro, o meu celular tocou e então, atendi com uma gota de suor na minha testa:

—Alô? —perguntei suspirando. 

—Cassie? Filha, está tudo bem? — perguntou o meu pai curioso.

   —Claro. Oi pai, está tudo perfeitamente, perfeito. —disse tentando esconder a minha voz de cansada. 

—Certo. Então, estou passando no mercado, precisa que eu levo alguma coisa? —perguntou ele.

—Ah não... não que eu saiba. —disse tensa. 

—Tem certeza? porque estou na fila do mercado levando algumas coisas. Que tal você fazer aquela macarronada que você fazia tão bem? —perguntou ele sugerindo. 

—O senhor está levando algumas coisas? —repeti tensa.

—Sim ué, porque? — perguntou ele desconfiado. 

—Bom, porque, eu não cozinho já tem um tempo. — disse sorrindo: —Mas, devo lembrar da receita. — disse suspirando.

  —Então, até daqui há 25 minutos. —Disse ele desligando.

—Porcaria! —exclamei.

   Desci as escadas, e joguei os sacos de lixos no lixo que ficava na área externa. Então, corri para a cozinha. Peguei algum saco de lixo, e joguei algumas comidas velhas de dentro da geladeira, e então, o meu telefone tocou novamente:  

—Alô? —disse meia distraída. 

—É a Senhorita Cassie? —perguntou uma voz feminina.

—Sim, é ela. Quem gostaria? — disse lavando a louça.

  —Aqui é do hospital. —disse a enfermeira.

—Muito bem, alguma notícia sobre a minha mãe? —perguntei a ela ensaboando o prato.

   —Sim. Ela acaba de acordar, e chamou pela senhorita. Você virá visitá-la? —Perguntou a enfermeira.

  —Bem, qual o horário da próxima visita? — perguntei meia distraída.

   —Bem, temos as 14:00 horas, 18:00, e 22:00. —disse a enfermeira.

  —Certo. Bem, diga a ela que o Pássaro azul está aqui. E deu irei vê-la as 18:00 horas. — disse a enfermeia.

  A enfermeira fez uma pausa na voz, talvez, estivesse processando a informação, e então, depois de um longo tempo, ela disse:  

—Está bem. Até logo. — disse ela. 

E a campainha tocou, minha mente estava um turbilhão, eu desliguei a torneira e joguei os sacos de lixos na pia.

Prendi a respiração, e só soltei quando abri a porta, o meu pai estava lá, sorrindo com um sorriso aberto. Cor de olhos castanhos, e a pele de melanina pura.

Além das Aparências - Veja além das suas AparênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora