Capítulo 15: "Depois do Desfile" - parte 3

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—Sra. olha, eu fiquei sabendo que Cassie está com Bulimia. —disse com a voz rouca.

  —Bulimia?! —repetiu ela meia confusa.  

—Sim, olha é quando a pessoa se enxerga de um jeito que ela não é. Tipo, Cassie se via sempre gorda e nunca magra, então, ela comia pouco, quase nada pra não “engordar” mais, e o que comia, ela botava para fora. — disse Júlia com receio. 

  —E desde quando vocês sabem disso? —perguntou ela nos olhando com atenção.

—Bom, tudo começou na escola, quando todas as vezes que Cassie ficava nervosa, ela ia para o banheiro. —disse e Júlia complementou.

—Sim, e também, ela parou de comer na escola. E sempre que comia algo gorduroso ia em direção ao banheiro. — disse.

—E também, a alteração do peso de Cassie. Em menos de 2 semanas, percebemos que Cassie estava muito mais magra, magra de um jeito não tão bom. —disse Júlia tensa.  

—Não contamos a ela que sabíamos, justamente por medo do que ela poderia fazer.
Cassie sempre se demonstrou tão forte, e escondeu isso muito bem. Sorte que amamos ela e percebemos que ela não estava bem. Achamos que ela a queria contar, ou melhor, tentou, eu não sei. —disse colocando a mão no peito: —Fomos pesquisar, conversar com outras pessoas, e aí fizemos o nosso diagnostico, mas, deixamos Cassie nos contar, nos confessar. — disse suspirando.  

—Mas, ela nunca fizera isso. E não sabíamos até onde poderíamos ir, a Sra. entende?
queríamos que ela se abrisse, confiássemos em nós, mas, não foi bem isso que ela fez.
Ela escondeu cada vez mais, e enfim, eu sinto muito por tudo isso tia. — disse Júlia com os olhos marejados.  

—Tentamos de diversas maneiras sutis de ajudar Cassie, mas, ela sempre fingia que estava tudo bem. Como se fosse uma cruz que ela tivesse de carregar sozinha entende? — falei suspirando.  

A mãe de Cassie, colocou a mão na cabeça, e secou as lágrimas. Suspirando, ela disse:

—Eu poderia dar um sermão em cada um de vocês, mas, sei como minha filha é. Ela jamais abriria aboca para algo que ache que seria um defeito nela, ou possivelmente, frescura. Enfim, não esperava isso de vocês, de fato, esperava que pelo menos você Júlia me contasse, por estar tão pronta e próxima de nós. Mas, não julgo vocês, justamente porque sei como Cassie é. — disse ela, se levantando e indo pegar uma água. 

—Deus eu estou me sentindo um lixo! —exclamou Júlia se recostando no sofá.  

—Nem me fale. Depois que você foi pra casa, Cassie e eu discutimos um pouco. Ela estava tão pra baixo, parecia estar tão infeliz. Chorou no meu peito, e eu fiquei sem ter o que reagir. Eu acalmei e confessei que eu a amava. Mas, percebi o quão infeliz ela estava. — disse suspirando: — Quando cheguei em casa, o meu pai estava furioso com a presença de Cassie no programa, na entrevista e principalmente, no desfile. Disse coisas horrendas, e dolorosas. Se eu soubesse oque iria acontecer, eu jamais teria deixado ela sair daquele bendito carro! —exclamei nervoso.  

—Ei, você fez o máximo que você pode parar ajudar. — disse Júlia colocando a mão no meu braço: — Nós tentamos, ou melhor, não fizemos nada contra a Bulimia. Mas, estávamos sempre ao lado dela para tudo, e Cass sabe disso. — disse Júlia sendo dócil: —E agora, estamos aqui Louis, ao lado dela quando ela acordar e em todas as visitas. —disse Júlia, e eu assenti.

Ficamos alguns minutos em silêncio, quando o doutor responsável veio e a mãe de Cassie se juntou a nós. O
doutor então, disse:

—Muito bem, gostaria de fazer algumas perguntas a vocês. — disse o doutor, sentando ao lado da mãe de Cassie.  

—Pode fazer doutor. — disse Júlia olhando tranquilamente.  

—Cassie tem alguma doença já diagnosticada? —perguntou o Doutor.  

—Bom, diagnosticada por um médico não, mas, pelo Google sim. —disse Júlia e o Doutor olhou, e ergueu a sobrancelha exigindo mais informações: — Bom, percebemos uma mudança no corpo de Cassie, ela havia emagrecido muito rápido para quem não faz dietas, então, comecei a analisar que Cassie sempre que ficava com medo, ou receio corria para o banheiro. Depois disso, percebemos que ela não se alimentava na escola, e sempre usava o banheiro e demorava um pouco. —disse Júlia: — Com medo, um dia entrei no banheiro para ver o que Cassie fazia, e então, ouvi Cassie vomitando e chorando muito sob a privada. —disse ela engolindo a seco.  

—Júlia me contou o que se passava, mas, não sabíamos como abordar ou do que se trava. Então, jogamos no Google, e apareceu a Bulimia. Depois disso, não sabíamos como abordar a Cassie com o tema, porque ela parecia estar sempre redutível a ideia e a proposta. — disse ao doutor que assentiu.  

—Então, já temos uma luz no fim do túnel. Vamos fazer uma bateria de exames, Cassie ficará aqui até acordar. Faremos um exame mais especifico e ela passara com o um doutor especialista para fazer uma análise. Por hora, Cassie está segura, e colocamos ela para repouso. —disse o Doutor se levantando.  

—Doutor... —disse levantando apressadamente: —Ela vai ficar bem, não é? — perguntei suspirando.

—Claro que vai, agora ela vai. —disse o doutor assentindo: — Por hora, não há nada que vocês possam fazer por ela, a não ser rezar. —disse o doutor, que saiu pelo corredor.

—Rezar. — disse Júlia bufando.

—Bom, e agora? — perguntei sem saber o que fazer.  

—Teremos que ir para casa meninos, é tarde também e vocês tem pais para dar satisfações. Vão eu ficarei bem. —disse a mãe de Cassie, ainda com os olhos marejados. 

  —Nem pensar! — exclamou Júlia — Ficarei com a Senhora, meus pais estão sempre em guerra de gato e cachorro, e além do mais, eles nem se importam comigo em casa. —disse Júlia: —Ficarei com a Senhora, até Cassie retornar. Até porque, a Sra. tem emprego amanhã, lembrada? — disse Júlia se levantando e indo em direção às mãos da mãe de Cassie.  

—E com que forças voltarei para trabalhar? —perguntou a mãe de Cassie.  

—Com as mesmas forças que sua filha ficou quando a Sra. estava no lugar dela. —disse Júlia encorajando: — Sua filha veio te visitar todos os dias até a sua recuperação, mas, foi para escola, para casa e deu conta das coisas por lá. E a mesma força, que a Sra. vai usar para ir para casa. —disse Júlia. 

Ela sorriu, se despediu de mim e Júlia foi com ela em direção a porta do hospital.

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